A página -quase- virada.

4 0 0
                                    


Sakura a conheceu enquanto estava perdida.

Em uma escola nova e gigante, entrando às cegas no ensino médio, completamente perdida embora seus pais tradicionais e autoritários a cobrassem uma posição acerca do futuro.

Estava tão cega, que gostar de outra menina incondicionalmente a assustou.

Quando viu a mocinha bonita e de nariz empinado, se espantou com a velocidade em que seu coração poderia bater. Alice Kirkland, a desgraçada.

E, para piorar, ela gostava das mesmas coisas que si. E poderia ser incrivelmente doce e atenciosa enquanto não está ocupada sendo perfeitamente rude e se esforçando para ser a melhor em tudo. Então, seu coração não batia rápido somente pelos longos cabelos cor de ouro ou pelos olhos verdes, pelo nariz gigante e por ela refletir o sol quando exposta a ele, mas também por como ela levava bolos de gosto terrível para si, ouvia tudo que tinha para dizer e a ajudava sempre que podia.

Quando podia, Sakura sempre chorava com Vash sobre como ela era irritantemente perfeita, e como os dentinhos desiguais eram adoráveis, e o quanto ela era irritante e a voz era tão agradável. E no quanto sua mãe a surraria se soubesse que o seu primeiro e mais dolorido amor fosse uma menina. Ela dizia que sobre Alice seria diferente, ela não deixaria que tudo ocorresse como o tempo bem quisesse - como deixava acontecer com a maioria das coisas -, mas ela desistiu disso também. Depois do suíço cansar de aconselhar para a japonesa se confessar, ele insistia para que ela esquecesse de vez. Sakura não conseguia fazer ambos. O suíço não achava possível que em tamanha universidade, que abrigava pessoas de diversos lugares do mundo, ela pudesse encontrar a pessoa mais complicada e gostar somente dela.

...bom, as coisas para Sakura Honda eram sempre mais complicadas.

Depois de construir uma amizade sólida e ter o que nunca teve na vida, ela não teria coragem.

Além disso, a japonesa não se achava digna. Quer dizer, é claro que ela é humana como todas as outras pessoas. Mas ela não era delicada o suficiente, não era sociável o suficiente, não possuía uma família sóbria o suficiente. Não era nem pálida nem rica o suficiente. Não era bonita; além de seus olhos e cabelos excepcionalmente negros, seu corpo flexível e algum dom para escrita, ela não tinha nada.

Além disso, apesar de defender tudo sobre a comunidade lgbtqia, Alice gostava de um rapaz. Ela gostava de longe, mas gostava. E ele era tão loiro, alto e bonito, de sobrenome tão elegante, que quando Sakura viu apenas conseguiu sorrir amarelo e incentivar a amiga. Ele era estrangeiro, e era o único interesse amoroso de seu amor inalcançável.

Então ela colocou fones e pensou. Decidiu tentar outra pessoa. Não foi uma boa decisão.

Ela machucou uma pessoa maravilhosa e que gostava dela de verdade. Um garoto, porque era muito jovem para encarar o peso de suas decisões, o julgamento de seus pais. Logo após, a Kirkland disse que havia brigado com o tal americano. Fora rude e bloqueara o garoto, como a pessoa esquentadinha e marrenta que sempre fora. Sakura quase sorriu, mas não era tão má assim. E já havia matado todas as esperanças que surgiram com palavras amigáveis mal interpretadas.

E então, após um ano, Heracles.

Sakura disse para si mesma que os olhos verdes e o nariz eram apenas características ocasionalmente parecidas com as de sua amiga dedicada, encontradas em uma pessoa que ela realmente amava.

Ele era do mesmo curso, gostava das mesmas coisas. Ele era doce e gostava de gatos. Ele era incrível e gostava dela, e ela se esforçaria para gostar dele, por mais que a possibilidade de beijá-lo lhe embrulhasse o estômago.

Sakura deixaria o machucado que era Alice para trás. Esqueceria o sentimento que nunca deveria ter surgido.

Alice Kirkland nunca saberia que um dia foi a fonte de suspiros e inspiração de Honda Sakura. Heracles Karpusi era o amor que a incentivava a virar a página.

Sleeping at LastWhere stories live. Discover now