0.1

12 4 11
                                    


Os opostos se atraem, e isso foi comprovado pela física, entretanto, dificilmente conseguem conviver juntos. Não se iluda, Coumlob tinha razão quando disse isso, mas essa lei só se aplica na física, e nunca em relacionamentos. Por mais perfeito que possa parecer, pessoas diferentes não se atraem. Quer dizer, se atraem porém não se amam.

As pessoas buscam nas outras aquilo que faltam em si mesmas, seja algo físico ou imaterial, por exemplo, pessoas passivas procuram pessoas agressivas mas quando algo sai de controle ou dá errado, aquela convivência tranquila e agradável, perfeitamente calculada, não será a mesma. Sabe porquê? As diferenças. Isso mesmo, aquilo que as atraiu as afastam, gera incompatibilidade.

Mas é claro, tenho isso apenas em teoria, uma não estudada e fraca teoria. Felizmente, tenho a chance de prova-lá à quatro cantos do mundo, bem, na verdade do mundo não, mas aos quatro cantos da Universidade de Pittsburgh.

A Universidade de Pittsburgh sempre foi meu sonho, desde a primeira vez que a visitei numa festa da prima de Margot eu soube que era o meu lugar. A Biblioteca Hilman é minha maior paixão, na verdade é a minha única, claro que, a faculdade é ótima mas a biblioteca sempre será o meu lugar.

Hoje mais cedo, a srta. Vildegard me deu a oportunidade dos sonhos, um trabalho, a atividade de maior valor do semestre, nada mais do que uma tese. Uma tese sobre o amor, meio antiquado da parte dela, eu sei, porém de extrema importância para mim. Aquilo que eu mais precisava e queria, uma chance de provar que mesmo que os opostos se atraiam, eles não permanecem juntos. E como eu iria fazer isso? Eu já tenho tudo em mente, só falta colocar em prática.

- Oii! - Agnes surge atrás da coluna de livros largada em cima da mesa.

- Eai, como vão as coisas?

- Horríveis! Uma tese, no mínimo, duzentas páginas. Eu odeio isso, aposto que não vamos precisar nem dá metade disso pra escrever frases no "O Pensador". - Agnes diz fazendo aspas com os dedos. A quantidade de tempo que ela passa nesse site é realmente duvidosa.

- Qual é? E o plano de escrever um novo manifesto comunista em forma de fanfiction com um protagonista gay?

- Tem razão! Jamais desistirei de você Rubens Benedito! O seu amor por Gonzalito nunca será só mais uma história triste de amor... - nesse momento, Agnes se encontra no meio das prateleiras atuando um dramático 'desmaio', o que chama a atenção da bibliotecária que a olha com desdém.

Rubens Benedito era o amigo imaginário de Agnes aos doze anos. Ele representa tudo que a Agnes é, criativa e intensa, sempre dramatizando por aí e encantando corações. Afinal, Rubens Benedito era um lorde inglês do século passado que usava gírias como "mano", "piriguete" e "rolê", quer inovação maior do que essa?

Agnes Cooper é minha melhor amiga desde a sexta série, quando descobrimos o estranho apreço por Eleanor Marx em comum, e então, desde o acidente com os fios na biblioteca da escola enquanto líamos o manifesto comunista para crianças de seis anos, nunca mais nos separamos.

Passávamos quase todo o tempo juntas, e quando não estávamos juntas conversamos por telefone. Papai teve que cancelar o telefone fixo de casa depois de uma recheada fatura.

- Ei, tenho novidades. - digo enquanto abro o manifesto comunista na última folha, rabiscada a anos e nunca alterada.

- Você anda com um manifesto por aí? Pelos deuses, como você é estranha!

- Primeiramente, isso aqui tem muito significado para mim. E em segundo, olha, finalmente isso vai se tornar real, algo fora do papel. Você vai me ajudar, não é?

Agnes se aproxima do manifesto e começa a ler as palavras que ela já lera um milhão de vezes pela um milhão e uma. Ela era a única pessoa para quem eu havia contado sobre a "Lei da 'Desatração'".

- O que? Como assim? Está idêntico, como sempre esteve.

- É claro, garota. Eu ainda não comecei a escrever. E eu não iria dissertar minha tese na última folha de um livro, não é.

- CARA, NÃO TÔ ENTENDENDO NADA. - berrou Agnes enquanto me segurava pelas têmporas e balançava a minha cabeça. - desenha por favor!

- A tese! Não tem mínimo de duzentas páginas mas vale a maior parte da nota do semestre.

- Você vai se basear em algo que você escreveu quando tinha treze anos? Qual foi o tema? Criancices?

- Ei! A "Lei da 'Desatração'" não é igual ao Rubens! Tem fundamento. E o tema é "o amor".

- Não meta o Rubens nisso, você sabe em como ele foi importante na minha formação...

- Exatamente, Agie. Essa teoria boba escrita por uma Kylie de treze anos representa tudo o que ela é hoje, tudo o que ela já foi. Você me entende, não é? É tipo um Rubens Benedito que não falava comigo e nem conversava sobre sexo quando eu só tinha doze anos. - o Rubens Benedito talvez, fosse a parte obscura do cérebro da Agnes.

- Eu sei, Kye, eu entendo. Mas você não acha que está sendo precipitada, você pode falar de qualquer outra coisa. Como o amor é liquido, ou de como amar é algo imprudente e arriscado. Ou de como histórias de amor só servem para aumentar a parte ego maníaca dos seres human...

- Chega, Agie! Eu já me decidi, não tem nada que diga mais sobre a minha percepção do amor do que isso. Isso sou eu.

- Okay, se você se dispõe a arriscar tudo assim...

- Você vai me ajudar, não vai? Você jurou que me ajudaria a provar um dia!

- E vou! Uma promessa de Agnes Cooper nunca é descumprida. Aprendi com a Rapunzel. Hahaha. - com toda certeza, ela estava nervosa.

Um fato sobre a Agnes, apesar de alegre e radiante sempre, todos os dias, em todo o tempo, ela não é a pessoa mais piadista do universo. Mas quando fica nervosa, ela tenta descontrair fazendo piadas ou dizendo coisas bobas, na intenção de fingir que está tudo bem. Chega a ser deprimente.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Apr 20, 2021 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

A Teoria do Amor | #1Where stories live. Discover now