5 - Rāmen

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A pousada era bem semelhante a um bar genérico que qualquer vila costuma ter. Mas para a surpresa de Nemo havia uma garota sentada num pequeno e modesto palco. Ela tocava uma música bem animada, que falava algo sobre leões e a floresta, em seu alaúde. Algumas pessoas batucavam nas mesas fazendo um som de percussão. Havia aqueles que estavam dançando em dupla, sozinhos, com ou sem copos na mão. Num canto, um grupo de homens disputavam queda-de-braço e vez ou outra saia uma celebração genérica. O lugar era quente e abafado, mesmo com todas as janelas abertas.

Nemo correu o olhar para o lugar e viu que havia uma escada ao fundo que levava ao segundo andar, e pressupôs que era onde ficava os quartos. Com certeza o salão não era um lugar luxuoso, e provavelmente os quartos também não eram. Mas contado que não estivessem infestados de pulgas ou ratos, já era um grande avanço.

Num balcão de madeira escura bastante gasta e cheia de ranhuras e manchas um homem de pele vermelha e cavanhaque passava um pano velho que mais sujava do que limpava. O garoto se aproximou e sentou-se no banco, com certa dificuldade. O lugar claramente não foi feito para alguém jovem como ele.

- Mari me disse que aqui tem a melhor comida da região. – Disse Nemo para o homem. – E com o melhor preço.
- Mari não mentiu garoto. – Disse ele com um sotaque muito forte. Mas Nemo não sabia de onde. – Meu rāmen é famoso na região. – Ele virou-se para preparar, mas parou. – Você tem dinheiro para pagar?
- Tenho algumas moedas, que Mari disse que seriam o suficiente para uma refeição quente e um quarto para dormir.

O garoto lhe entregou as moedas. Ele fez uma careta ao contar, estalou o pescoço, fez uma careta e finalmente falou:
- Talvez eu possa quebrar seu galho só dessa vez garoto. – E então ele começou o preparo do prato enquanto Nemo se preparava para escrever.

"Sentimentos confusos se apossaram de mim
dominando todos os meus pensamentos
Triste e solidão que nunca vai embora
E no fim se tornarão o que eu sou
Enquanto eu vivo nesse tormento.

A luta parece sem fim e minhas forças estão acabando
Eu tento resistir, mas sinto que estou perdendo
O caminho parece longo e cheio de curvas
E a cada passo que dou, sinto estar a fundando.

Um último fio de esperança segue inteira
Como uma luz no fim do túnel
Singela, humilde e tímida
Como uma vela, que tenta ser uma clareira"

Quando o prato ficou pronto o cheiro era bom e ele devorou com ferocidade. A canção agora sobre um monte de coisas sem sentido para Nemo, mas a plateia cantava junto a todo vapor. Uma barata tentou se aproximar do prato do garoto, mas o homem de cavanhaque deu-lhe um tapão, esmagando o bicho e em seguida, com o pano imundo, limpou o lugar. Nemo virou-se para o salão e procurou uma mesa vazia. Não encontrou, mas viu próximo a janela havia uma garota sozinha tomando uma bebida quente. Ela olhava para a janela e sorria, como se a música a lembrasse alguém.

Nemo pegou seu prato e foi em direção à garota. Não sabia bem o que iria dizer, mas sabia que ali pelo menos não iria ter um monte de bêbados tentando se engraçar com ele. Tímido ele se aproximou e quando estava perto se sentiu travado. Não sabia o que fazer enquanto o prato de macarrão esquentava suas mãos. A garota virou o rosto para ele, ainda sorrindo singelamente. Numa ação impetuosa ele falou:
- Oi. Tem alguém sentado aqui?
- Não. – Os olhos castanhos da garota mostravam visível curiosidade acerca daquela estranha figura em pé a sua frente. – Mas pode sentar-se se quiser.

Nemo sentou-se e ficou completamente paralisado sem saber o que fazer. Por fim ele simplesmente voltou a comer. Era a primeira vez que ele ativamente iniciava uma interação com alguém sem nenhum pretexto, em muito tempo. No início ele achou que haveria consequência, mas depois Nemo se lembrou de como era a vida antes do seu exílio. A simples lembrasse o deixava triste.

- Você parece nova aqui. – Disse a garota.
- Eu não pretendo ficar mais do que uma noite apenas. – Limitou-se a responder.
- Qual é o seu nome?
- Meu nome...? – Nemo hesitou. Nome... O que é um nome? O Direito de ter um nome lhe foi tirado há muito tempo.

Enquanto hesitava, um rapaz jovem, porém muito musculoso com os braços enfaixados até os ombros. Usava camiseta verde e calças marrons. Os sapatos eram de frente aberta, mostrando os dedos dos pés. Havia um corte em seu rosto, bem pequena e recente. O Rapaz olhou de cima abaixo Nemo, com seu olhar acusador. Ele parecia bastante zangado.

O jovem andarilho o analisou de volta, e imaginou que o grandalhão estava participando das apostas de queda-de-braço, mas que havia perdido e agora estava procurando alguém para culpar. Nemo já estava acostumado com esse tipo de pessoa.

- Desculpe, não sabia que o lugar estava ocupado. – Disse ele pegando seu prato, agora quase vazio e se preparando para levantar.
- Quem é você? – Disse ele empurrando-o de volta para cadeira. – Não gosto de estranhos.
- Eu também não senhor. Por isso estou de saída. – Novamente tentou se levantar.
- Você vai sair quando EU disser que você pode sair. – E outra vez foi empurrado para a cadeira.

Nemo respirou fundo. Se controlou e pensou na melhor maneira de contornar a situação.

- Fukushige! Deixe a garota em paz. Ela só quer comer. – Interveio a garota. Nesse momento Nemo notou certa semelhança entre os dois. Bem sutil.
- Você cala a boca Akimoto. Não lhe perguntei nada. – O dedo em riste do homem apontava para o rosto da garota, e depois se voltou para o rosto de Nemo. – E quanto a você. Eu lhe fiz uma pergunta.
- Sou só alguém que quer ir embora. – Pela terceira vez tentou levantar.

Fukushige tentou empurrar o garoto mais uma vez, mas dessa vez ele foi mais rápido, com uma mão direcionou o braço do rapaz para a mesa e com o outro o pregou com um Hashi que usava para comer. O rosto da garota passou de tristeza para medo e enfim terminou em desespero. Ela sabia que Fukushige não iria deixar aquilo barato e as coisas costumam ficar muito feias quando ele estava irritado. Nemo é claro não estava nem um pouco preocupado com isso. Com o grito do brutamontes a música foi interrompida e toda a atenção do salão se voltou para a mesa. Alguns se levantaram para saber o que estava acontecendo. Os homens que apostavam também se levantaram todos, com suas feições carrancudas. Foram os primeiros a se aproximar. Nemo pegou seu prato de comida, enquanto Fukushige gemia de dor, e foi em direção ao balcão, enquanto era seguido por olhares acusadores ou assustados.

Mako entrou rapidamente pela porta e seu olhar foi direcionado para o jovem com a mão pregada. Em seguida correu o olho para todo o salão até encontrar Nemo caminhando a passos lentos até o balcão. Ele sabia que aquela garota estrangeira havia feito aquilo. Levou uma mão a cimitarra que estava em sua cintura e em seguida avançou.

- O que você fez aqui garota? – Perguntou ele rispidamente.
- Só me defendi. – Disse Nemo num tom de voz frio e sem emoção.
- Eu vou leva-la sob custódia. – Mako então agarrou seu braço. O prato de comida caio no chão, espalhando o resto do molho que ainda havia lá.
- Eu disse que não fiz nada. – Nemo deu um golpe no pulso do homem para se soltar. – EU SÓ ESTAVA COMENDO A PORRA DA MINHA COMIDA!
- VOCÊ NÃO É BEM VINDA AQUI!
- EU NÃO PEDI PARA SER. SÓ QUERIA COMER E DORMIR. E EU PAGUEI POR ISSO.

De repente todo o salão estava de pé e formando um círculo para ver o que estava acontecendo. Quando Fukushige finalmente se livra do Hashi ele parte com tudo para cima de Nemo. Seus olhos estão completamente cegos pela raiva e nem mesmo a tentativa da garota da janela de se pôr na frente para impedi-lo adiantou. Ela foi empurrada com toda a força para o lado, caindo no chão de bunda e permanecendo lá, mas sabendo o que iria acontecer. 

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⏰ Last updated: Aug 18, 2020 ⏰

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