Quando o Outono Chegar

Dois ❦ Outono

Interrompendo sua leitura, uma figura adentrou pela porta e cruzou a sala como um raio de agitação fazendo com que todos olhassem para ela. Os sapatos de salto ecoavam enquanto a mulher caminhava e quando se deu conta de que não conseguiria deixar seus pertences na mesa sem derrubar metade deles, lançou um pedido de socorro com o olhar e um dos alunos correu para pegar parte dos papéis e pastas que trazia na mão, aliviando-a. Fall riu quando percebeu que nem mesmo uma tragédia iminente fez a mulher largar o copo de café para se ajustar na mesa. 

– Ah, obrigada querido – ela agradeceu e respirou fundo, ofegante, antes de olhar para os alunos e abrir um sorriso envergonhado – Bom dia, crianças! Eu sei que estou um pouco atrasada, mas alguns de nós precisa mesmo manter nossos vícios em dia – ela elevou o copo de café o que fez todos da sala rirem.

Aparentemente aquela era a professora da matéria de produção literária contemporânea. Ela era bem mais jovem do que Fall havia pensado, uma vez que a descrição de suas experiências no site da faculdade eram incontáveis e somente uma pessoa com oitenta anos de idade poderia ter feito tantas coisas na vida – ou ao menos era o que Fall pensava. Sua postura era de perfeita segurança perante a todos da turma e o sorriso quase sempre brilhante no rosto a fazia descontraída o bastante para deixar escapar um charme inerente. A pele bronzeada não parecia ser resultado de apenas um verão na Califórnia e o cabelo longo e castanho parecia ter sido hidratado naquela mesma manhã. Apesar disso, as roupas que vestia não chamavam mais atenção que ela própria e as cores neutras e escuras da calça e o blazer perfeitamente passado a fazia ostentar de uma elegância sem igual.

– Eu me chamo Elizabeth Rodriguez Bane e estou muito honrada por vocês terem me escolhido como sua aula eletiva. Eu sei que a faculdade pode ser um pouco pesada para vocês, e acreditem, eu já estive nessa... Mas prometo que vou tentar fazer das nossas aulas algo leve e quem sabe algo que vai mudar a vida de vocês para sempre, nem que seja um pouco. E é assim que se brinca de Deus!

Durante mais algum tempo de discurso introdutório, Elizabeth revelou um pouco mais sobre si e sobre o curso de Produção Literária Contemporânea, para ter certeza de que os alunos se sentiriam parte do que iriam construir. Ela, na verdade, era uma escritora e jornalista e a aula eletiva do semestre era sua primeira experiência como professora durante um semestre inteiro em uma faculdade. Confessou aos alunos que talvez fosse a única vez que faria aquilo uma vez que não conseguia permanecer em um projeto por mais de um ano, mas estava aberta a aprender e quem sabe se apaixonar por lecionar.

Aos trinta e oito anos de idade já tinha seu nome assinado em uma reportagem ganhadora do prêmio Pulitzer e quatro livros publicados, além de incontáveis matérias para grandes jornais do país. O visual então finalmente fez sentido para Fall. Ela não era apenas uma professora, mas uma escritora e além de escritora, era mais bem sucedida do que provavelmente todos naquela sala algum dia seriam.

Apesar de conseguir a atenção de Fall por quase todo o tempo restante, a garota não pôde deixar de voltar sua atenção ao livro que precisava resenhar e sua atenção só retornou para a aula quando, muitos minutos depois, Srta. Bane pediu para que formassem duplas para a atividade que desenvolveriam nas próximas aulas. Eles deveriam pensar em um personagem para protagonizar a história que desenvolveriam durante o semestre. Fall olhou ao seu redor e se deu conta que, aparentemente, todos daquela turma se conheciam minimamente e conseguiram parceiros em um piscar de olhos. Isso fez com que Elizabeth caminhasse até ela com uma lista na mão.

– Eu poderia te encaixar em uma das duplas, mas sei que se fizesse isso um integrante do grupo seria o que não faz absolutamente nada. Qual o seu nome?

– Fall Clark.

A professora passava os olhos por toda a lista e chamada procurando alguém para que pudesse ficar na atividade com sua aluna e por sorte parecia que havia restado alguém.