⌜ sete ⌟

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"Tô com fomeeeeeee" - o grito escandaloso de Chenle fez vários pássaros que eles nem sabiam que estavam ali revoarem, assustando todos os garotos.

Jisung apenas tapou os ouvidos, sabendo que a probabilidade do amigo continuar berrando era alta, enquanto Donghyuck passou as mãos no rosto, cansado. "Todos estamos! Para de agir como se estivéssemos numa excursão porque isso é o OPOSTO! Excursões são vo-lun-tá-ri-as. Vocês aí também, tão me enjoando com toda essa felicidade" - disse a última parte apontando para onde Renjun era carregado nas costas de Jeno, com Jaemin sorrindo ao lado.

Como se celebrasse o novo namoro, o dia tinha amanhecido com um sol irritantemente bonito e um calor insuportável, na opinião de Haechan. Seu humor tinha ido para o ralo quando, pela manhã, acabaram de comer os últimos amendoins e agora só tinha sobrado uma garrafa d'água. O pobre protetor labial já mal dava conta das pequenas rachaduras que teimavam em aparecer. Trocaram de roupas, para tentar no mínimo amenizar a caatinga e agradeceram por Renjun ter trago desodorante na necessaire.

Mas ainda assim, tinham mais um bom tempo pela frente. Sabiam disso porque o terreno estava dolorosamente plano. Ou seja, não estavam perto ainda do monte da torre. Nem ao menos perto o suficiente para conseguir pegar sinal, já que Jisung verificava isso no celular a cada dois segundos.

Os passos continuaram, devagar perdendo a empolgação, até conseguirem perceber uma mudança de cenário à frente.

O padrão dos eucaliptos, todos finos, altos e bem espaçados, sumia em puro verde mais à frente. Se puseram a ir em direção ao local, começando a sentir a declividade do terreno.

Isso teria os animado, se a aura daquela mata virgem não lhes causasse tantos calafrios.

Desde o farfalhar de seus próprios passos, os uivos do vento e até as onomatopeias da natureza contribuíam para que cada um dos dreamies rezasse silenciosamente para que os celulares conseguissem sinal antes de precisarem adentrar o local.

E o tempo mudou de novo. O sol foi coberto por nuvens cumulus, uma seguida da outra, deixando todas as sombras fantasmagóricas e o balançar das árvores atemorizante.

"G-gente... eu não q-quERo entrar aí NÃo" - O maknae disse, com a voz falhando quando estavam perto da divisória, quase que como um linha imaginária. Os meninos encaravam o emaranhado de galhos à frente sem coragem de dar o primeiro passo para dentro.

Depois de verificar o celular sem esperanças, Renjun engoliu em seco e fez sua melhor pose de bravura, como se fosse consegui-la de fora para dentro.

"Vamo logo. O quanto antes a gente andar, quanto antes a gente sai daqui".

Um choramingo foi escutado e Jisung se agarrou fortemente na camiseta de Jaemin. Jeno decidiu ficar por último, certificando-se que o outro mais jovem estivesse segurando Heachan.

A subida os deixava cansados, a terra fofa de tantas folhas mortas no chão faziam os pés afundarem um pouco a cada passo. Pássaros desconhecidos entoavam cantos estranhos e os troncos das árvores eram cheios de líquen, outros com espinhos. 

Tentavam se abaixar ou desviar de todos os galhos, com medo das teias de aranha que apareciam vez ou outra. O ar úmido e abafado estava fazendo as roupas grudarem na pele, as respirações se tornando altas.

Foi quando Chenle viu algo que o paralisou por completo. Empacando no lugar, fez Jeno esbarrar em si, assim como sua mão agarrou a do Park à sua frente, o forçando a parar também.

Ele queria gritar para os que estavam à frente pararem no lugar, mas sua voz estava entalada na garganta. Apenas um fio dela saiu com muito esforço. "H-h-hyung..."

Mas não foi alto o bastante para eles entenderem.







♦️








Um grito alto ecoou pela floresta.

Uma pessoa no chão.

Mais berros perturbadores.

Chamados em vão.

Os garotos estavam em choque demais para pensar em qualquer coisa que não fosse: ajudar Renjun.

Então, quando a serpente de meio metro se afastou do corpo inerte do chinês, saindo de vista, Jaemin correu para acudi-lo.

Chenle tremia violentamente. Jisung tinha as mãos na frente da boca, como se tivesse sido imobilizado no lugar.

O tempo parou.

Haechan percebeu-se gritando e puxando forte os cabelos enquanto Jaemin balançava o corpo pequeno do namorado violentamente.

Nada.

Jeno até fez o que viam na televisão. Pegou o bracinho do Huang e sugou ali, cuspindo em seguida, pensando que talvez assim conseguisse tirar o veneno de seu corpo e ver os olhinhos brilhantes se abrirem novamente.

Era agonizante ver a forma que a cabeça de Renjun caía para trás e como o corpo mole estava pesado para o Na segurar.

Isso não parecia nada bem.

Por que a vida parecia ter um senso de humor tão ácido?

Por que isso tinha que acontecer, justo agora que estava tudo melhorando?

Por que eles tinham que perder o único norte que tinham até então, a única fonte de sanidade?

Por que não podiam sair dali todos juntos?

"Por que?"





Save NCT DreamWhere stories live. Discover now