Capítulo 1

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Isabela sempre gostou de cozinhar, desde pequena, sua avó paterna, a ensinou como reproduzir as comidas típicas alemãs, que a família tanto gostava.

Sua avó Berta, que ela chamava de Oma, veio da Alemanha, para o Brasil quando era adolescente e se casou com um brasileiro, descendente de alemães. Montou uma família pequena, porém, muito unida. Teve dois filhos, Adler e Dener, sendo o último o pai de Isabela.

Isabela tinha os cabelos loiros escuro como sua avó. Era magra e um pouco mais alta que a maioria das suas amigas, o que a deixava irritada, pois ela queria encontrar um namorado bem mais alto que ela, para poder se aninhar em seus braços. Sentia uma pontada de inveja quando via isso acontecendo com suas amigas, que conseguiam ser bem mais baixas que os parceiros.

Como desculpa, para si mesma, ela costumava dizer que não tinha namorado por ser muito moleca e desastrada. Resolveu esconder a delicadeza bem lá no fundo. Era mais fácil levar essa história com humor. Mas a verdade era que ela não se permitia sair com alguém da mesma altura ou mais baixo do que ela.

Era o dia de sua formatura, finalmente ela havia terminado a faculdade de Gastronomia na PUCPR, curso que ela se dedicou com afinco. Lembrava da avó com uma pontada de saudade, enquanto as alunas eram chamadas para receber o diploma.

"Isabela Kleint" ela ouviu e saindo de seu devaneio se levantou e caminhou até o palco. Lá de cima ela visualizou a mesa onde os pais se encontravam, levantou o canudo para eles e foi aplaudida.

"Parabéns minha filha" sua mãe disse a abraçando, quando a entrega dos diploma acabou, dando lugar a festa.

"Obrigada mãe" ela disse sorrindo. Em seguida abraçou seu pai "Sua avó ficaria orgulhosa" ele disse emocionado e ela assentiu com os olhos marejados.

Dener e Martha só tiveram Isabela como filha. Se conheceram na faculdade de medicina e nunca mais se largaram. Sabiam que essa área pedia tempo demais de seus estudantes, então, quando Isabela se mostrou inclinada à gastronomia, eles não interferiram. Achavam que talvez assim ela tivesse mais tempo para a vida pessoal e poderia construir uma família maior. Não tiveram mais filhos, mas esperavam ter vários netos.

Eles ficavam orgulhosos em como ela mudava quando estava na cozinha, a menina desastrada dava lugar à profissional. Ela ficava concentrada, deslizava pelo espaço com delicadeza.

"Vamos Bela" Claudia disse a puxando pelo braço "Vamos dançar!". Isabela olhou para seus pais que fez um sinal para ela ir. Ficaram na mesa conversando e observando a filha se divertir.

"Dra. Kleint" Angélica disse chegando até a mesa alguns minutos mais tarde. "Desculpa o atraso". Ela era a amiga de infância de Isabela, se tratavam como irmãs. "Onde a Bela está?" ela perguntou após os cumprimentar e apresentar seu novo namorado.

"Foi pra pista com a Claudia" Martha respondeu sorrindo "Vão lá com elas! Vocês são jovens, vão se divertir". Angélica riu e saiu em busca da amiga puxando seu namorado pela mão.

Logo encontrou as amigas e se juntaram ao grupo dançando. Passaram uma noite divertida e só foram embora quando a festa finalmente acabou.

No outro dia, Isabela acordou e decidiu que aproveitaria a semana inteira sem fazer nada, merecia uma folga. Combinou com Cláudia para turistar pela cidade, foram ao Jardim Botânico, tiraram fotos e postaram no Instagram. Visitaram museu, o centro antigo da cidade e no final de semana decidiram ir a um barzinho.

"Vamos vai Bela! Você nunca sai com a gente, como acha que vai conseguir um namorado assim?!" Cláudia disse tentando convencer a amiga.

"Eu sei Clau, mas não me sinto muito à vontade em barzinhos" disse dando de ombros.

"Ai.. lá vem você com essa besteira de altura!" Cláudia disse, já conhecia bem a amiga. "Você nem é tão alta!".

"Não é por isso, nem penso mais sobre altura Clau!" ela disse se defendendo. Mas não estava a convencendo, ela se sentia insegura, cresceu com esse constrangimento de ser a mais alta.

Na adolescência, quando ela e Angélica saiam para paquerar, a amiga sempre arrumava alguém e ela não. Foi aí que ela criou essa teoria que ninguém a queria por ela ser muito alta e só seria feliz com um namorado bem mais alto. "Eu tenho que ser no mínimo mais baixa que o ombro dele!!" costumava pensar.

"Pensa sim! Eu te conheço Bela! Não precisamos sair para paquerar, podemos sair para dançar e nos divertir, só isso!" disse revirando os olhos. Isabela parecia uma modelo, com 1.78 de altura e um cabelo de dar inveja, lisos, brilhantes e compridos, mas só ela não enxergava isso.

"Por favor" Cláudia completou quando viu que a amiga pensava a respeito. Juntou as mãos como se rezasse, fazendo Isabela rir. "Tá bom!" ela respondeu virando os olhos e Cláudia a abraçou rindo.

.......

"Posso entrar?" Martha perguntou batendo na porta do quarto da filha.

"Voltou mais cedo do Hospital?!" exclamou abrindo a porta para a mãe.

"Sim, consegui atender todo mundo e vim descansar um pouco, vai jantar antes de sair? Posso preparar algo pra você" Sugeriu.

"Não, resolvemos comer primeiro e só depois ir para o barzinho" ela respondeu se olhando no espelho. Já tinha provado todas suas roupas e nenhuma tinha caído bem. Sentou na cama bufando e deitou tampando os olhos choramingando.

"O que foi Bela?" Martha perguntou sentando-se ao lado da filha.

"Nada do que eu visto está bom!! Vou mandar uma mensagem pra Clau dizendo que desisti" disse se sentando novamente.

"Ah não vai mesmo!!" sua mãe disse rispidamente. "Quando optou por gastronomia eu achei que você teria mais vida social do que eu tive na sua idade. Mas me enganei, percebo agora que Gastronomia é uma área concorrida e particularmente difícil para as mulheres. Mas você também não faz nada para se distrair! A vida passa tão rápido! Viva um pouco e para de se preocupar com essas besteiras!".

Isabela suspirou e assentiu. "Tem razão mãe, mas não sei como me comportar ou o que vestir" disse desanimada.

"Seja você mesma, você é adorável! E não sei como não consegue enxergar o quanto é linda!" sua mãe disse passando as mãos por seu cabelo.

"Não vale, claro que você vai achar sua filha bonita" disse fazendo uma careta e Martha riu. "Quer que eu te ajude?" ela perguntou e Isabela fez que sim com a cabeça. Ela adorava a mãe, se davam muito bem e conversavam como se fossem amigas.

Martha pegou uma calça jeans apertada e um cropped que havia dado a filha e ela nunca tinha usado. "Ah não mãe, muito curto" Isabela reclamou olhando a peça.

"Você vai usar esse e não aceito objeção!" exclamou sorrindo e Isabela o vestiu dando-se por vencida. "Está vendo? O cós da calça é alto, nem aparece a barriga! E mesmo se aparecesse estaria tudo bem, pois seu corpo é lindo!".

Isabela fez outra careta se olhando no espelho e suspirou dando de ombros. Se virou batendo a perna na mesinha que tinha no quarto derrubando as coisas que tinha em cima.

Rindo, Martha ajudou a filha a arrumar tudo. Então Isabela calçou uma bota de cano curto e vestiu um casaco por cima. Pegou sua bolsa e se despediu da mãe.

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