Os dois acompanharam em silêncio os passos precisos da garota, até desembocarem em um ambiente cavernoso; água escorria pelas paredes de pedra e gotejavam do teto, formando poças no chão irregular. O cheiro de terra úmida se desfez conforme se aproximavam da saída. Ela olhava para trás a todo instante, como se ouvisse os passos dos seus acompanhantes invisíveis.

Ao pararem em frente à entrada da caverna, viram as luzes das casas e estabelecimentos de Hogsmeade ao longe, pouco antes de a jovem Isis desaparatar, cortando a lembrança para um campo inóspito. A Lua brilhava vermelha, com uma faixa estreita de nuvem cortando-a ao meio. As árvores cobriam uma parte do terreno, contudo não havia nada de chamativo para ser visto nos arredores.

Não muito longe dali, uma ave noturna entrou em combustão ao se chocar contra uma parede invisível a poucos centímetros da garota. Isis sacou a varinha e traçou padrões delicados no ar, deixando um rastro marcado em brasa por onde passava. Uma fenda surgiu de repente, com o balanço suave de um véu. Pela abertura, a casa senhorial de Underhill surgiu imponente, camuflada por feitiços de proteção; janelas iluminadas destacando-se na penumbra.

Os seixos rangeram sob os pés, ladeado por arbustos, no longo caminho até a porta de entrada. As palmas das mãos suadas roçavam no tecido a todo instante, até subir o breve lance de escadas. Após duas batidas, Pixie apareceu com o olhar lacrimoso e semblante aterrorizado. A bruxa encarou um ponto além da elfa, em busca do motivo para a tristeza incomum, e foi direto ao escritório de Underhill, encontrando a porta entreaberta. Um som ritmado saía do cômodo, levemente abafado pelo tapete.

— Ainda me pergunto de que maneira você foi escolhido monitor, quando cada respirar seu implica em uma tolice. O que eu disse sobre ter cuidado?

— Então assume de imediato que essa situação me agrada. — Snape e Isis se entreolharam ao reconhecerem a voz arrastada e fria do outro interlocutor. — Ser associado a você é tudo o que não desejo.

— Então devia ter sido mais cuidadoso em vez de deixar um moleque espioná-lo. — Erastus apareceu no campo de visão dos espectadores, com as mãos nos bolsos, quase aparentando divertimento com a situação. — O que o papai diria? Aliás... ele sabe?

O rangido de uma poltrona chegou aos ouvidos dos observadores e logo Underhill e Lucius estavam perigosamente perto um do outro.

— Cuidado com o que fala, bastardo. — Malfoy se agarrava ao punho da bengala com tanta força que poderia amassá-lo. — Não sou complacente como meu pai.

— Ele tampouco está aqui para protegê-lo. — Em nenhum momento Underhill alteou a voz ou mudou a postura, porém os instintos de Lucius o impeliram a recuar. — Essa será a última vez que limparei sua bagunça.

Malfoy mediu Underhill da cabeça aos pés, com o desdém sendo o único sentimento mais forte que o temor diante do meio-irmão.

— E Lucius... — chamou-o Erastus, ao vê-lo se afastar, e a Isis jovem escondeu-se às pressas ao lado de um pedestal de mármore. — Fique longe de Rosetta nesse fim de semana.

— Por que eu deveria? Pretende levar sua filhinha lá? — Underhill ergueu o queixo e, mesmo de longe, a bruxa mais velha teve certeza de que suas narinas inflaram de raiva.

— Boa noite, Lucius — disse entredentes, e o meio-irmão sorriu ao vê-lo finalmente demonstrar algo além de superioridade. — Pixie! — A elfa passou aos tropeços pelo corredor e abriu a porta, iluminando a parede oposta com uma coluna de luz amarelada. — Leve o Sr. Malfoy até a saída, por favor.

Lucius jogou a capa ao se virar e quase derrubou a elfa com o peso do tecido, cobrindo-a por um instante.

— Presumo que desconheça a localização dessa Rosetta — comentou Snape, ignorando um Malfoy encolerizado cruzar seu caminho.

Solace ϟ PotterversoWhere stories live. Discover now