A Internet e a Esperança

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— Gente, o João é um radar de palavrão. Eu nunca falo e quando escapole o garoto surge DO NADA! E claro, a Rafaella coloca a culpa em mim. — soou ofendida.

— Na verdade eu to a um passo de pedir a guarda unilateral meninas... — mordeu o ombro de Bianca, arrancando o riso das outras garotas.

— Amor, eu acho que ela tá mais quente que o normal? — afastava a manta.

— Quente? — se assustou fazendo menção para que Bianca a deixasse levantar. — Meu Deus, onde tá o termômetro do sapo? — perguntou após colocar a mão na criança.

       Após acharem o termômetro com a ajuda das amigas e Hope ter marcado 37 graus, correram pro hospital. Como Mônica estava dormindo, elas pediriam para que Mari e Manu ficassem de olho em João que dormia no quarto delas.

        Rafaella havia ficado mais nervosa que Bianca. Elas não saíam de casa juntas desde que chegaram com as crianças, estavam fazendo de tudo para proteger os pequenos dos holofotes, pelo menos por ora. Apesar de febril, Hope seguia com olhos espertos e membros interagindo normalmente.

— Era o que a gente pensava mesmo mamães. Reação à vacina que ela tomou hoje, é normal. — o Dr. sorriu

— Amém! Quase tive um treco vindo pra cá. — Rafaella atestou aliviada.

— Não liga pra gente não doutor, mães de primeira viagem. Passou tudo pela cabeça, menos o óbvio. — Bianca disse aliviada enquanto abotoava o macacão de Hope.

— Mas foi bom que tenham a trazido! — Dr. Ramos assinava a receita. — E como sua mãe está Rafa? Foi o meu irmão que fez a cirurgia dela lá no Rio.

— Nossa, que coincidência. Ela tá bem melhor doutor, obrigada por perguntar. — sorriu educadamente.

— A pediatria sempre foi a minha paixão, mas depois de 'velho' eu resolvi me especializar em oncologia, visando tratamentos alternativos menos agressivos que a químio e a radioterapia, sabe? Quando ele me mostrou o caso da sua mãe eu fiquei muito feliz que o tumor tivesse sido benigno. É uma grande mulher, cheia de vida.

— Benigno? — Rafaella achou que havia entendido errado.

— Sim, benigno. — reafirmou sem entender a surpresa da mulher.

A feição de Rafaella mudou no mesmo instante e Bianca logo identificou. Saindo da clínica, ao colocar Hope no bebê conforto, a morena percebeu que a esposa chorava no banco da frente.

— Eu não acredito que ela fez isso. — Rafa fechava os olhos em negação, percebendo a mão da esposa em contato com a sua.

— Sinto muito amor. — tentou demonstrar apoio apesar de estar querendo bater na sogra.

— O quanto eu sofri Bia... O quanto a gente sofreu... Ela viu tudo, tudo! E fingia que ia pra químio, meu Deus???? Isso foi cruel!

— Shhhh... Vem cá. — abraçou Rafaella e a fez carinho. — Olha pra trás. — ela obedeceu, a visão era Hope no meio do banco de passageiro. — Não vou mentir, fiquei com ódio na sala do doutor, ugh! Mas talvez tudo isso tenha sido necessário pra firmar ainda mais o que a gente sentia e nos levar até eles...

         A constatação de Bianca acalmou o coração de Rafaella instantaneamente. Em noites como essa, ela agradecia ainda mais por Bianca e pelos rumos que sua vida havia tomado. Era nítido que aquela mulher estaria com ela pra tudo. Dormir não foi tão difícil quanto ela havia imaginado, as três pessoas que estavam com ela no quarto a transmitiam paz, muita paz.

        Paz essa, que Léo Dias tentou acabar quando logo na manhã seguinte soltou o prometido dossiê sobre elas, usando nomes fantasia para as "testemunhas".  Alguém havia tirado uma foto das duas saindo do hospital, e mesmo que em má qualidade, era tudo o que ele precisava para não levantar dúvidas.

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