Cinquenta dólares.

Não sei o tamanho do choque que deixei transparecer em meu rosto, mas não me importei. Aquelas duas palavras haviam me ferido com uma intensidade que eu não imaginava, e me senti ainda pior quando achei ver um sorriso quase imperceptível no canto de sua boca, como se ela quisesse me ferir de verdade com aquilo.

Eu não sabia o que responder. Minha vontade era de gritar com ela, de sacudi-la e perguntar o que diabos ela estava fazendo, e quando abri a boca para falar qualquer coisa, fui imediatamente interrompido por outra voz, que soava ao meu lado, na janela do motorista. Eu não sabia quem era a mulher próxima a mim, porque não me dei ao trabalho de checar se a conhecia ou não, mas parecia que ela agora falava algo diretamente para mim. O que quer que tenha sido, eu não saberia dizer ao certo, porque o choque das palavras de Camila ainda estava me machucando.

Quando finalmente notei que a pessoa não nos deixaria a sós outra vez, me forcei a desviar os olhos dela, com medo de que simplesmente evaporasse, e me dirigi à mulher ao meu lado.

— Você, cala a boca!

Ela pareceu se indignar com minhas palavras, mas eu não dei a menor importância a isso, porque havia uma outra pessoa ali - a única pessoa que importava - então imediatamente virei-me outra vez para ela, e ainda com o mesmo tom na voz, falei outra vez.

— E você, entra no carro!

Arrependi-me imediatamente por falar com ela da mesma forma que havia falado com aquela mulher, e pediria desculpas por isso também mais tarde, mas naquele momento a única coisa na qual eu pensava era tirá-la dali o quanto antes, e mantê-la perto de mim em qualquer lugar longe dos outros. Por isso, nada pude fazer a não ser pisar no acelerador assim que vi Camila bater a porta do carona ao meu lado.

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Eu estava nervoso. Muito nervoso. Não sabia se meu nervosismo aparecia em meu semblante, mas imaginei que não, porque se aparecesse, Camila provavelmente estaria com medo de mim. Mas ela parecia apenas absorta em seus próprios pensamentos, com aquela indiferença irritante em seu rosto e em sua atitude. Aquela indiferença que, mesmo de uma forma irracional, me deixava muito puto.

Eu não queria que ela estivesse indiferente. Preferia ter que aguentar sua ira, preferia que ela me xingasse de nomes baixos e me socasse durante todo o percurso até minha casa, mas ela não fez nada a não ser continuar calmamente em seu banco de carona, olhando para a estrada com uma postura fria e conformada.

Aquilo me deixava puto porque eu não queria que ela aceitasse a situação. Não era para ser assim, aquilo estava muito errado, mas ela não parecia se importar. Vê-la se fantasiar de prostituta de esquina e não dar a menor importância para isso era mais do que eu podia e queria aguentar.

Tentei manter minha atenção na direção, mas não tive muito sucesso. Na pressa de chegar logo em casa, avancei muitos sinais vermelhos e desrespeitei regras de trânsito. Mas não havia motivo para me importar com isso, porque eu estava nervoso com outras coisas.

Uma dessas coisas seria o fato de ter uma conversa cara a cara com ela. Pedir desculpas por tudo o que eu havia feito e dito. Tentar fazer com que ela me perdoasse, mesmo que isso parecesse ser impossível. E eu teria que fazer isso com aquele ódio me consumindo a cada segundo. Um ódio sem explicação, já que eu não poderia exigir que ela não fizesse o que sempre fez. Aliás, eu não podia exigir absolutamente nada.

𝐒𝐮𝐝𝐝𝐞𝐧𝐥𝐲 𝐋𝐨𝐯𝐞 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora