IX. Submerso

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O fim chegou.

Fim do projeto, fim do semestre, fim do ano, fim da faculdade, fim do ciclo. O fim deles, da garota e seu professor.

A apresentação final do projeto ocorreu melhor do que o esperado para ambas as partes. A garota estava feliz com todo o resultado. Parecia estar completa, mas não estava. Ele a completou, por fim.

Falou publicamente o quanto admirava a garota e seu árduo trabalho, em como fora determinada e habilidosa, em como ela transformara o impossível em possível. Ele tirava os próprios créditos e os dava a ela. A garota sentiu o peito cheio de ar, de orgulho, admiração, e amor. Ela conquistara sua mais profunda admiração e respeito. A garota conquistara o brilho nos olhos dele. E para ela essa era a maior vitória, mais do que o sucesso do projeto em si.

Ela o agradeceu e o abraçou. Era a primeira vez que o abraçava, e seria também a última. Uma alegria e uma dor no coração. Não queria uma despedida. Queria acreditar que havia um futuro, que não era o fim.

Tiraram uma foto juntos. Foto que ela iria admirar por dias, com um sorriso no rosto, e também no coração.

Por fim a garota se despediu e foi para sua comemoração, com familiares e amigos, deixando para trás o homem que amava.

...

O ano acabou e como o tempo sempre passa, outro se iniciou, com novas expectativas, novos momentos, novas pessoas, novos amores.

Talvez.

A garota o viu mais uma vez. Apenas para entregar a versão final do projeto.

Foi uma alegria imensa revê-lo e constatar que não era uma despedida. Ele foi caloroso e receptivo, convidando-a dançar e a sorrir, como sempre fazia. Ele disse que sempre poderia visitá-lo. Era como se ele também não almejasse uma despedida.

A garota o procurou outro dia, e não o encontrou. Todavia o que encontrou a fez sorrir grandemente. Em sua mesa de trabalho havia o presente que ela tinha lhe dado ao fim do projeto. Ele guardara com carinho, como não guardara de outros alunos. Ela fora diferente das outras, afinal.

Talvez.

E por fim a despedida chegou. Ela o abraçou mais uma vez, desejando mais, como sempre.

A caminho de casa não resistiu. Enviou-lhe uma mensagem.

Era tudo ou nada.

Declarou-se.

Disse o quanto o admirava, desde a primeira aula, e como crescera com ele, como ele a ensinara de tantas formas, e como a fizera sorrir, das mais diversificadas e belas formas. Disse que o amava, porém sem dizê-lo exatamente. Dissera com outras palavras.

Ele não compreendeu. Emocionou-se e ficou feliz, respondeu à altura em quesito de admiração e apreço. Todavia não compreendeu o verdadeiro sentido da declaração, sua real profundidade.

Talvez.

A história entre a garota, que se fez mulher, e seu professor terminava. Corpos que se tocaram brevemente, mas que nunca se tocaram realmente, por mais que assim desejassem. Ela jamais teria a certeza por parte dele, e ele jamais teria a dela. Uma eterna dúvida.Um desejo sucumbido pelo tempo, que não estava a favor deles. O efeito sanfona acabava, pois perdia o ritmo.

E a garota seguiu seu caminho, longe do dele, com o perfume do desejo suprimido, afogado em sua paixão, de um amor submerso.

Ela ficaria bem, afinal era forte. Todavia jamais se esqueceria dele e da sala secreta.

SubmersoWhere stories live. Discover now