VII. Autoanálise

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Tanto tempo se passara, tantos dias, semestres! Tantas lembranças e momentos, tantas pessoas! A garota finalmente alcançara seu último semestre, o definitivo. Seria o fim de uma longa trajetória de cinco anos, um ciclo que se encerrava.

Ele estava lá, seu admirável professor. Estivera praticamente desde sempre, no início e no final do ciclo. Entre tantos amores perdidos, ele se mantivera. Ele estivera sempre lá, no coração da garota, no brilho de seus olhos e seu sorriso, interno e externo, ao encontro dele.

Ela pensou que o havia perdido, mas estava enganada. Estavam lá outra vez. A música tocava novamente e eles dançavam outra vez. O efeito sanfona. Indo e voltando. Ele estivera sempre lá. A garota sabia, no fundo, sempre soubera.

Novamente precisou colocar para fora tanto sentimento. Conversou com sua amiga. Compreensiva como sempre.

A garota fez uma autoanálise. Sua relação com o pai não era das melhores. Era complexo. Não costumavam brigar, mas havia silêncio, e o silêncio pode ferir tanto quanto duras palavras proferidas. Silêncio, ausência, distância. Complexo. A garota se perguntava se era isso. Se buscava nos homens mais velhos o que, de forma inconsciente, não tinha do pai. Chegou a pesquisar um pouco de psicologia para saber que fazia sentido, que a base de alguém sempre parte dos pais, e essa base pode acompanhar uma pessoa ao longo de sua trajetória. Fazia sentido. Total sentido.

A garota seguiu, acorrentando seu sentimento proibido, afogando-se com ele.

Ela tivera uma prévia, com o homem de seu trabalho, dobro de sua idade. Dois meses de teste. Ela sabia o final da história. A diferença é que aquele era seu professor, casado, pai...

Jamais se envolveria com alguém casado... seus princípios não permitiam... Jamais traíra e jamais se descobrira traída....

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

Jamais daria certo, ela sabia... Sem futuro. O dobro de sua idade. Já passara por isso.

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

Sua família jamais aceitaria, como não aceitaram o outro homem...

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

O que todos falariam? Não era apenas sua família. Toda a faculdade, seus amigos, o mundo lá fora...

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

E se nada disso existisse, se fosse apenas os dois, como naquele momento, na sala secreta? E se fosse tudo secreto?

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

Que besteira... ele não a tratava diferente. Ela era apenas mais uma de suas alunas, nada além de rotina. Não significava absolutamente nada. Ele amava a esposa. Estava apaixonado...

Jamais...

Mas quando estava na presença dele... passava a cogitar a possibilidade...

E se... por alguma razão... fosse possível? Ainda que por um mero instante.

Tudo ou nada.

Apenas um instante.

Foi quando a garota concluiu sua autoanálise.

Ela o amava. Independente da relação com o pai, que poderia ser a melhor do mundo. Ela o amava como homem, como jamais amara alguém. Era um sentimento diferente de todos os outros, que havia perdurado. Ela o amava independente da idade e dos obstáculos. Ninguém a fazia sentir o que sentia na presença dele, na sala secreta, ou em qualquer outro lugar. Ninguém a conduzia como ele. Ela não via os cabelos brancos, nem a muralha do amor proibido. Seu sentimento era puro. Ela o via por dentro e o admirava. Ele sempre a fazia rir. Ele a fazia superar seus limites enquanto buscava novos. Ele a fazia ver muralhas e querer escalá-las. Ele a ensinava de tantas formas.

Independente de qualquer psicologia, de qualquer tempo...

Ela o amava.

SubmersoWhere stories live. Discover now