❤ Capítulo 5

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André

Esfrego a mão na nuca e afrouxo um pouco o nó da gravata enquanto aguardo o elevador parar no meu andar. A primeira impressão de Oliver não foi das melhores. Pelo jeito que tratou Gabriele no saguão, e por ter me confundido com um segurança logo de cara, prevejo que a convivência com o filho do meu amigo será no caminho difícil.

Mesmo tenso, não consigo reprimir o sorriso com a imagem da loira bonita que surge na minha mente. Se não estivesse realmente preocupado com a discussão, eu teria achado graça do seu jeitinho bravo aumentando o tom de voz e jogando a carteira em cima do Oliver. Como diria minha vó, ela é enfezada.

Estava tentando entender porque o homem tratava a mulher com tanta grosseria quando olhos impressionantes viraram com tudo na minha direção. Foi impossível impedir que o café espirrasse nela.

Por falar em olhos, meu Deus! Acho que nunca vi um par tão lindo em toda minha vida. É uma mistura do azul do céu em um dia ensolarado com o verde mais límpido. Impressionante.

Sorte que Neide tinha uma blusa para emprestar, estaria péssimo se a tivesse prejudicado na reunião. O seu rosto de preocupação ao perceber o estrago na roupa acabou comigo. Senti uma energia boa vindo dela, parece ser uma pessoa batalhadora.

Dizem que os iguais se reconhecem. Talvez todo esforço que já fiz na vida para alcançar meus objetivos tenha mesmo me deixado com uma sensibilidade maior para identificar essa qualidade no outro.

Não tive a mesma sensação boa com Oliver.

Escuto o apito do elevador avisar que cheguei no meu destino e logo a porta se abre. Por ter passado no vestiário com as meninas, estou em cima da hora para a reunião com os diretores. Dou um pulo na minha sala para deixar a maleta e apanho meu tablet antes de seguir para o grande momento.

Mexo no nó da gravata, mais uma vez, no caminho para a sala de conferências e umedeço os lábios com saliva, forçando a garganta descer o líquido. Confesso que estou bem nervoso com o buraco que essa conversa pode criar aqui na Edutec.

Uma coisa é receber olhar atravessado sendo apenas um funcionário, outra bem diferente é ser colocado como o chefe provisório de tudo isso por um período indeterminado.

Quero ser otimista, mas infelizmente a minha experiência de vida comprova que para um negro o trabalho é sempre em dobro. Se não for, triplo.

Não basta ser competente. Tem que comprovar isso todo dia e sem errar. Não haverá espaço para falhas comigo, terei sempre um monte de olhos atentos e ávidos para apontar qualquer tropeço.

— Bom dia! — cumprimento sorridente os diretores que já chegaram e estão sentados.

Tomo o meu lugar na mesa grande de vidro e esfrego a mão na calça disfarçadamente para tentar conter o nervosismo. Caramba, mesmo com o ar condicionado ligado está um calor infernal aqui. Meu coração está batendo descompassado e Carter ainda nem chegou.

Acalme-se, André! Você vai enfrentar isso de cabeça erguida como qualquer outro desafio.

— Aceita café, senhor André? — Olho para cima e vejo o rosto caloroso de Carmem me fitar.

— Por favor, quero sim — respondo abrindo um sorriso para ela.

Já tinha tomado quase todo copo de café quando derrubei em Gabriele, no entanto, a adrenalina do momento está pedindo mais energia no organismo.

Ela coloca a xícara pequena na minha frente e, ao notar que os demais estão entretidos em seus celulares, pergunto baixinho sobre a cirurgia que sua filha vai fazer semana que vem.

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