Mestre Yoda Sapatão

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Era uma vez uma pequena Camélia Rios de doze anos mexendo em seu facebook fake com a foto de perfil de alguma pseudo modelo do tumblr que se acharia entre as primeiras vinte fotos de uma pesquisa "meninas bonitas tumblr selfie" justificando o medo...

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Era uma vez uma pequena Camélia Rios de doze anos mexendo em seu facebook fake com a foto de perfil de alguma pseudo modelo do tumblr que se acharia entre as primeiras vinte fotos de uma pesquisa "meninas bonitas tumblr selfie" justificando o medo de seus pais de deixá-la ter um computador, mas crianças de doze anos se sentem adultas demais para enxergar seus possíveis erros e só quando se atinge a maioridade você olha para trás e pede desculpas ao seu anjo da guarda (ou sei lá, qualquer protetor divino real ou imaginário) por todo o estresse que lhe proporcionou, porque era incrível o fato de você não ter sido sequestrada por um velho pedófilo durante todo esse tempo, no mínimo um assassino em série.

O ponto é que em uma dessas entradas no facebook sob o codinome de Mckenna Mango pois meus nomes favoritos eram peculiares, admito, encontrei uma garota de São Paulo chamada Alana de dezesseis anos (ou Arnaldo de sessenta mas sinceramente não irei destruir a imagem dela em minha cabeça) e engatamos uma conversa sobre filmes de romance e adoção de gatos. Em pouco tempo, talvez vinte minutos depois de perceber o quão bonita era a gringa qualquer em minha foto de perfil ela resolveu se assumir e eu resolvi dizer a verdade sobre quem era, depois disso me tornei seu projeto. Sua pupila. Sua... Jedi? Ela era como um Mestre Yoda Sapatão (ou não, pra ser sincera nunca assisti Star Wars) pronta para me ensinar a ser quem sou em uma melhor versão.

Secretamente era isso que queria ser. Sim, Dante Alvarez se assumiu para mim antes de qualquer outra pessoa mesmo que não sejamos muito próximos e às vezes me procura por ajuda com garotos porém todo o ponto é que eu não gosto de garotos, mas imagino que depois de tanto tempo sendo cadelinha de mulheres eu teria pelo menos uma coisa ou outra para repassar, como por exemplo não mande o mesmo vídeo cantando Ana Gabriela para todos os seus contatinhos porque alguma delas vai postar e você vai se ferrar (com certeza não estou falando por experiência própria e me machuca essas acusações). Ou, alternativamente, não vá para um bar gay com a consagrada se você mora em uma cidade pequena porque todas as suas ex vão sim estar lá não importa quantos rituais de boa sorte você tenha feito antes de ir, ah sim, enquanto estamos no tópico de ex: Por favor, eu te imploro, se uma menina fala demais sobre a ex dela não importa o quão linda, talentosa, inteligente e engraçada ela seja; Corra. E por último, mas talvez o mais importante, trate sua gotinha de mel como você gostaria de ser tratada. A caminhoneira que você curte não é pra ser esteriótipo problemático de bad girl sem sentimentos feita única e exclusivamente para realizar seus desejos sem reciprocidade e manter uma fachada de durona o tempo todo, é pra mimar ela também, nem que seja com cafuné (melhor ainda se for), e se você busca heteronormatividade eu te peço encarecidamente que procure um esquerdomacho pra chamar de seu e deixe mulheres em paz, você não as merece.

Basicamente todas as mulheres de Santa Ágatha, pelo menos as que moravam em meu bairro, que faziam algo em minha cabeça apitar já haviam se assumido ou eram assumidas antes mesmo de mim então as opções eram limitadas, mesmo que Marina fosse um desastre ambulante ela era um desastre ambulante muito confiantemente gay e dois segundos com ela gaguejando em reação a qualquer mulher falando com ela era suficiente para comprovar, então só me restava uma pessoa: Inês Annabel Duarte. Crente e antissocial era... Bem, sempre poderia ser mais difícil.

Não quero que me julguem mal, sou guiada por um talento não julgamento, se estivesse deduzindo isso simplesmente pela aparência a pequena cria da Barbie e o Ken com roupas de evangélica realmente não seria o look lésbica no armário chic que eu escolheria como estereótipo. Mas eu passei tempo demais durante a minha vida fazendo testes de meditação no Youtube que supostamente me ajudariam a enxergar a aura de alguém para classificar pessoas somente como pessoas. É como sinestesia, uma confusão neurológica que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez, como a cor de alguns números ou o gosto de palavras, só que no meu caso é uma versão não espontânea disso com pessoas e sons. O que é simplesmente um jeito chique de falar que eu associo a energia das pessoas à músicas.

Eu, por exemplo, sou Troye Sivan. Especificamente a música BLUE ou TALK ME DOWN. Marina é Clarice Falcão, Capitão Gancho. Minha ex é Halsey, Is There Somewhere. A menina da fila da cafeteria é King Princess, 1950. E Inês Duarte era Jão, A Última Noite. E com todo respeito, eu fui a um show de Jão, é impossível você exalar uma música dele e ser hétero.

E então, um milagre do destino aconteceu. Se bem que em uma cidade pequena tudo parecia um milagre do destino, é claro que você esbarrou com a pessoa por quem é apaixonada segundos depois de estar falando sobre ela, você é tagarela e todo mundo de Santa Ágatha frequenta os mesmos lugares não é como se tivéssemos muitas opções. Entra pelas portas da pequena floricultura Amaryllis, ninguém menos do que Atena Santos, com aquele de seus suspiros altos demais e exageradamente longos, esparramando-se sob o balcão com o braço milímetros de ser rasgado pelo espinho de uma rosa inacabada para o buquê dos Ângelis e seus treze anos juntos.

"Você tá atrasada"

"Eu acordei feia hoje, Camz? O meu charme irresistível usual saiu de férias? Será que eu fiquei... chata?"

"Hm, deixa eu ver" Me aproximo dela e cerro os olhos como quem está a procura de algum defeito, e, como esperado, nenhum. Se Afrodite não fosse um nome terrível caberia perfeitamente nela, seus cachos perfeitamente hidratados e sorriso perfeitamente branco e reto sem nunca nem terem conhecido a agonia de um aparelho rasgando sua gengiva por um único dia em sua vida, ela seria facilmente uma daquelas pessoas que você ama odiar porque secretamente quer beijar a boca dela, mas nem é isso, porque é engraçada demais para que você guarde algum rancor de inveja que seja, sei lá, ela é Payphone do Maroon 5 e Still Into You do Paramore tudo junto "Nope, ainda uma deusa" Bato com as pétalas do lírio que seguro em sua cara e ela se ofende antes de rir.

"A menina do Ateliê me deu um fora" Cara de cachorrinho perdido, sua especialidade.

"Que menina do ateliê? Virgínia?"

"Não, respeita o meu gosto" Suspirou de novo e finalmente começou a trabalhar, arrancando os espinhos do amontoado de flores em sua frente com toda a calma do mundo sem nem colocar suas luvas de proteção, se Gabrielle entrasse aqui agora provavelmente faria questão de arrancar os dedos dela para fora, e os meus por ter insistido em contratá-la "Era uma loirinha ai"

"Deitou pra branca padrão, Tetê?"

"Ha ha ha que engraçada agora é sério, você conhece ela? Acho que o nome no crachá era tipo, sei lá, Ingrid? Inês?"

"Inês tipo, Inês Duarte?"

"Oi" Okay mundo, eu lhe dou três chances de adivinhar quem acabou de acionar o sino na porta de entrada que sinaliza toda vez que um novo cliente aparece e é a própria música tema de todos os dias dos namorados que eu passo sem ninguém. Letra (A), A fada do dente. Letra (B) Um assaltante em plena luz do dia que por algum acaso achava que uma floricultura de todos os cantos da cidade ou até mesmo especificamente daquela rua era o que deveria ter bom dinheiro e não, sei lá, o banco a duas lojas daqui. Letra (C) Gabrielle, prestes a demitir Atena e me jogar na rua junto, como anteriormente mencionado, ou, letra (D) Inês Duarte e toda a sua aura evangélica barbie jedi gay inexperiente.

Se você é como eu e sempre chuta D de Deus (ou de Diabo, sem preconceitos aqui) pois parabéns.

"Eu vim buscar as flores que minha mãe encomendou semana passada"

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⏰ Última atualização: Jul 14, 2020 ⏰

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