Capítulo 15

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          Acordei sem saber as horas com um barulho de chuveiro ao fundo. Eu ainda estava sonolenta. Aquele momento em que nada faz sentido e você se sente em uma espécie de dimensão onde o ar é mais denso e o seu corpo parece ser sugado para afundar cada vez vez mais na cama. De bruços, mantive meus olhos fechados por alguns instantes e nem percebi quando aquele silêncio se instalou. Abri um pouco os olhos e dei de cara com o Noah indo em direção ao guarda roupa. A toalha branca e úmida delineada toda a parte de baixo principalmente por causa da pouca luz que entrava no quarto. As costas largas roubavam a cena, mas por algum motivo a mais do que apenas desejo eu fiquei nervosa.
          Desviei o olhar quando ele pegou algumas peças de roupa, me encolhendo um pouco na cama. Ele não havia notado que acordei. Ouvi a porta do banheiro ser fechada e aproveitei a deixa para me levantar. Peguei meu celular quando entrei no meu quarto e enviei uma mensagem para ele dizendo que iria continuar dormindo e agradecendo por tudo o que ele já havia feito por mim nesses últimos dias.
          Fui para o meu banheiro escovar os meus dentes e me peguei pensando sobre como seria voltar a trabalhar. Foi um alívio colocar para fora todos aqueles sentimentos ruins e agora eu só tentava pensar positivo sobre tudo. Agora o Brad estava preso, não colocaria mais os pés naquela empresa e ele não conseguiu terminar o que começou. Eu precisava superar... Só isso.
          Quando voltei para a cama o meu celular apitou. Noah havia me respondido. "você ainda está acordada?" dizia a mensagem. Respondi que sim e em questão de segundos ele bateu na porta e a abriu devagar.
_ Aconteceu alguma coisa? _ questionei enquanto ele entrava e se sentava de frente para mim na minha cama.
_ Você dorme comigo e me abandona na manhã seguinte... Que cruel. _ Sorri achando graça daquela encenação dramática.
_ Deixe disso.
_ Eu já vou trabalhar. Quero que você coma direito e me mande mensagem sempre que quiser. A tarde eu vou estar aqui para cuidar de você.
_ Eu estou bem, Noah. Não se preocupe comigo. _ Retruquei, mas ele não acreditou.
_ Eu espero que esteja, mas sei que isso é algo bem difícil considerando as coisas. Mas tudo ficará bem. Sei que você não precisa de mim, mas estou aqui com você. _ Disse calmo e depois depositou um beijo suave na minha testa.
_ Obrigada.
          Ele foi embora e eu fiz o que ele me pediu antes de ir. Comi bem e aproveitei para ocuparar a minha mente indo para a academia novamente. Não foi fácil perceber alguns olhares sobre mim lançados por alguns homens na rua. Algo totalmente desconfortável, mas fora isso tudo ocorreu bem.

          Os dias da minha folga para desestressar de tudo o que aconteceu chegou ao fim. Foi um bom tempo parar pensar sobre a vida e voltar a seguir a minha antiga rotina, colocando aos poucos a minha vida nos trilhos. Nada aconteceu entre Noah e eu a não ser um cuidado a mais comigo. Ele estava preocupado com o que eu poderia fazer comigo mesma, mas isso nunca foi uma opção para mim.
          Os hematomas pelo meu corpo estavam quase invisíveis e eu já me sentia melhor só por isso. Eu estava pronta para o meu primeiro dia depois dos meus dias de folga. Senti um nervosismo intenso, mas me mantive firme... Um passo de cada vez.

          Naquele dia as pessoas me olharam com estranheza apesar do Sr. Connor ter me assegurado que nada do que aconteceu seria divulgado. As poucas pessoas com quem eu conversava ali me perguntaram porque não havia ido trabalhar e me indagaram sobre a demissão do Brad... Fingi surpresa e criei uma desculpa para os dias que passei longe. Conheci o novo chefe que para a minha surpresa era uma mulher. Fiquei feliz com aquilo porque foi um belo ato de solidariedade vindo do Sr. Connor que como ele mesmo disse, se sentia péssimo por ter acreditado no Brad no passado, deixando uma de suas funcionárias sem opções. O Sr. Connor também fez questão de me ligar para assegurar que meu agressor não colocaria mais os pés naquela empresa e que a notícia não havia se espalhado como o prometido. Fiquei mais tranquila depois daquela conversa com ele e tudo foi mantido sob controle até o final do espediente.
          Depois de todo aquele dia eu me senti um pouco mais confiante. Algumas coisas já não me incomodavam mais. Entrei e o Noah estava na cozinha fazendo um sanduíche para comer.
_ Você quer um? _ Ofereceu abrindo um sorriso largo ao me ver.
_ Não, obrigada. Eu vou me trocar para ir treinar um pouco.
_ Gostei de ver! Voltando a rotina._ Deu uma mordida grande no sanduíche e eu ri.
_ Sim... Eu já vou. _ Ele acenou com a cabeça e eu subi para o meu quarto para usar algo mais confortável.

          Os exercícios estavam me fazendo um bem danado, mas agora eu estava suada e faminta. Voltei para casa correndo louca por um banho e no caminho já liguei para pedir o jantar. Seria o tempo exato de chegar em casa, tomar o banho tão desejado e descer para esperar na sala. E assim o fiz. Noah provavelmente estava em seu quarto, mas mesmo assim eu o chamaria para comer.
           Me sentei no sofá devidamente limpa usando uma camiseta grande como se fosse um vestido e não demorou muito até que a entrega chegou. Arrumei as coisas sobre a mesa e antes que eu pudesse subir para chamá-lo o Noah apareceu descendo as escadas.
_ Eu escutei a campainha e achei melhor vir.
_ Tudo bem. Era o jantar. Eu pedi para você também.
_ Obrigado. Confesso que nem vi o tempo passar e esqueci de fazer eu mesmo o pedido. _ Sorriu sem graça.
_ Venha logo antes que esfrie.
_ Você é muito mandona, sabia?
_ Sabia.
          Comemos em silêncio, mas meus pensamentos estavam gritando. Meu corpo ficava tenso todas as vezes que ele me olhava e eu gostava daquela sensação, mas ao mesmo tempo sentia um pouco de medo. Tudo o que eu queria era simplesmente apagar todas as coisas ruins que aconteceram naquele dia, mas não era tão fácil. Eu queria me entregar a um novo amor e a um novo sentimento, mas não sabia se deveria fazer isso com aquele homem na minha frente. No fundo eu sabia que ainda estava devendo uma resposta a ele. Uma resposta que nem eu mesma tinha e não sabia exatamente como conduzir aquilo de forma natural.
_ Você estava bem? _ Perguntou com as sobrancelhas franzidas.
_ Sim... _ Minha voz saiu quase sussurada.
_ Então porque você não para de se mexer na cadeira encarando a comida como se ela fosse algo fora do comum? Sem falar que você não comeu quase nada. _ Me ajeitei na cadeira percebendo a minha impaciência.
_ Eu só estava pensando.
_ Coma. Eu não quero você desmaiando por aí. E você está treinando agora. Precisa se alimentar ainda melhor do que antes. Mas de qualquer forma você parece bem melhor. Eu estou feliz por isso. _Ele sorriu.
_ Eu estou bem melhor mesmo. É só que... Eu estava pensando sobre a resposta que estou devendo a você.
_ Resposta para quê?
_ Para nós dois. Sobre os beijos e todas as coisas que você me disse. _ Revelei.
_ Não pense tanto nisso. Eu já disse que tudo bem se não sentir o mesmo. Só quero que você esteja a vontade.
_ Eu sei... É só que eu sinto que quero e que algo me impede... Eu não sei como conduzir isso de uma forma natural.
_ O que você quer dizer com isso exatamente?
_ Que... Eu tenho medo de como vai ser as coisas... E... Talves eu queria tentar.
_ Primeiro termine de jantar e depois nós vamos para o quarto conversar como fazemos todas as noites. Tudo bem?
_ Sim.
          Terminei de comer rápido com a expectativa do que poderia acontecer. Ele ficou na cozinha secando a louça e eu fui para o meu quarto me arrumar. Não demorou muito e ele logo bateu na porta entrando.
          Ele se deitou na cama ao meu lado e segurou a minha mão antes de quebrar o silêncio entre nós.
_ Como foi no trabalho hoje?
_ Foi melhor do que eu esperava. Meu novo chefe é uma mulher. _ Respondi um pouco nervosa.
_ Isso é bom. Hoje eu entreguei um do meus projetos e foi incrível. A reunião com os acionistas foi um sucesso. _ Sorri com a animação dele. _ Você está tremendo.
_ Não... Não estou. _ Falei soltando a mão dele.
_ Você não precisa ficar com medo de mim, mas se quiser eu posso sair...
_ Não... Claro que não... Fica comigo, por favor. _ Pedi.
_ Você não precisa forçar nada. Eu garanto que não vou fugir.
_ Eu não estou forçando... Quero ficar com você mesmo. Eu só estou um pouco nervosa, mas isso é normal.
_ Não no seu caso. _ Disse pegando minha mão novamente e a beijando. _ Você já namorou e nós já nos beijamos... Seu nervosismo não é exatamente por estar comigo aqui. Até porque já fizemos isso muitas vezes.
_ Sim... É verdade. Me desculpe.
_ Não se desculpe por isso. _ Disse enquanto passava a mãos nos meus cabelos.
_ Noah..._ Sussurrei e ele se apoiou no cotovelo para me ver melhor.
_ Diga.
_ Me beija. _ Pedir com a voz baixa que ocupou o pequeno espaço entre nós.
          Ele não disse nada. Apenas acariciou a minha bochecha com o polegar enquanto chegava cada vez mais perto para acabar com o espaço que nós separava.

Just Friends... Or Not. Där berättelser lever. Upptäck nu