Segredos #2

28 6 7
                                    

-Você o disse que causava impactos desde que “entrou na família”. Eu percebi que isso mexeu com você... Tenho todo o tempo do mundo se quiser me explicar.

Ele suspirou, sentando-se em sua cama depois de tanto rodear os móveis do quarto.

-Eu tinha 6 anos, era bem esperto para a minha idade. Minha casa era um pouco diferente das demais, principalmente dessa. Eu já tinha sido devolvido várias vezes, "Orfanato Morning Star". Na primeira, a mulher conseguiu engravidar, na segunda, enlouqueci o casal, na terceira coloquei fogo na cozinha por pirraça me negando a receber pena de qualquer ser humano. Eu perguntei para a Dasy, a assistente social qual era o meu problema, por que meus pais me deixaram?

Maggie o ouvia em silêncio, sem uma reação sequer. 

-Eu não tenho a resposta até hoje. Marjorie e Godric apareceram no orfanato no dia 6 de Setembro. Me lembro como se fosse ontem. Eles me conheceram e resolveram fazer um teste. Nenhum dos dois eram estéril, me perguntava o porquê daquilo e na primeira semana até o terceiro mês eu não facilitei para eles. Quebrei os canos de água, estourei o cartão quando descobri a senha escondida no quarto, passei trote para a polícia e várias outras coisas. Tudo para ser devolvido, mas eles permaneceram, insistiram em cuidar de mim até que resolvi deixar. Isso me fez bem e faz até hoje, e acho que também fez para eles. Mas Thomas dizia que roubei toda a atenção que seria para ele, na família.  Dizia que aqui não era meu lugar e que eu não tinha família, que era um bastardo indesejado. Esse canalha me enche a @#$*% do saco até hoje. Eu só… Me controlo por consideração aos meus pais.

-John, você é uma pessoa extremamente incrível. Me desculpa por interpretar você mal… Tratar de forma diferente ou…

-Não se preocupe, princesa.

-Você tem uma família incrível, você é demais e não precisa quebrar cabeça com esse Thomas…

-Obrigado. Principalmente por estar aqui, comigo. Esse é um lado que quase ninguém conhece… -Ele riu, sem jeito- Agora estou 100% transparente.

Maggie o abraçou fortemente, com um belo sorriso e os olhos marejados.

A boca de John se rasgou em sorriso ao receber apoio de Maggie, um longo e apertado abraço.

1, 2…

Maggie se arrepiou inteiramente quando John aproveitou seu abraço e inspirou profundamente próximo de seu pescoço.

-Hum, eu conheço esse cheiro…

-Ah, não conhece não! Quer dizer, conhece?! -perguntou, ao se afastar rapidamente.

-Está usando o meu perfume? -ele se levantou com um sorriso desconfiado.

-Eu devo estar passando tempo demais com você, deve ser isso… Acabamos de nos abraçar.

-Não o suficiente para isso. Sem problemas, mas se me quisesse mais próximo de você era só avisar, seria mais eficiente que passar o perfume. E eu adoraria, por sinal.

-Não cansa de ser convencido?

-Tudo bem, você nunca vai admitir. O que me conforta é que você querendo ou não, isso é uma verdade.

-Humpf!* Quem me quer próximo é você.

-Tudo bem, eu posso sobreviver se você nunca me quis tão pertinho de você, se nunca me observou nos jogos ou se não devolveu meu casaco até hoje pelo simples fato de "meu perfume" ser viciante.

-Não seja paranóico. É bom ver que o estresse não atrapalha seu senso de humor.

-Não, mas voltaremos para casa hoje à noite.

-Tão rápido?

-Sei o quanto o Kylian significa para você. Ele é meio depressivo, não? Eu sei que quer procurá-lo.

-O Kylian só está passando por um momento delicado, mas isso vai passar. -ela sorriu, ao perceber que mesmo com seus problemas, John, no fundo, era um rapaz empático e de bom coração.

-Certo, também vou me esforçar para não cantar você, como sempre faço. Se é que percebeu.

-É momento de promessas?

-Claro, estamos no final do ano. É o que todos fazem.

Liberando um automático sorriso, Maggie baixou sua cabeça desabafando sua experiência:

-Eu amei conhecer seus pais. São pessoas incríveis e… Certamente sentirei falta.

-Tenho certeza que dizem o mesmo de você.

O rapaz disfarçou, endireitando-se em si para perguntar o que mais desejava no momento:

-É impressão minha ou não curte falar dos seus pais?

Foi notório o desconforto da garota, acompanhado de um profundo suspiro. Esperando que o garoto desistisse da pergunta, ocorreu totalmente o contrário: se calou esperando com que começasse a falar. 

-Gosto de falar do meu pai. Minha mãe não é nem um pouco parecida com a sua. Nada para ela está bom.

Ele a observava, calado enquanto ouvia.

-Pergunta se arrumei tudo, se lavei tudo, se guardei tudo… Meu pai é mais gentil.

-Achei que morasse sozinha.

-Não. E meu pai ficaria louco em saber que algum garoto esteve lá enquanto ele estava longe.

-Ele é louco e eu sou um garoto morto? -brincou.

-Provável que sim.

-Foi o que imaginei. 

Não demorou para que a noite caísse, Maggie ja tinha sua bagagem em mãos e os olhos de Marjorie ja estavam marejados. Godric insistia em usar a meia desdobrada até o início dos tornozelos com sua bermuda Militar, era como uma marca.

-Sentiremos falta. Muita falta! -enfatizou Marjorie.

-Não nos esqueceremos desses dias. Vocês voltarão, e juntamente com isso, o caminho de cada um se retomará, falo como pai.

-Eu realmente agradeço por tudo, eu amei conhecer vocês… São uma família incrível. -disse Maggie, enquanto John sorria felizmente.

Thomas voltara para casa anteriormente, seu pai se encontrava completamente insatisfeito com o menor, e isso se concretizaria em boas broncas.

A despedida revelava que sentiriam saudades, mas ainda haviam assuntos pendentes: o possível desaparecimento de Kylian.

Honre essa obra dando a preciosa estrelinha! Motivação é essencial. 🌟

O Outro LadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora