Partindo em busca de pistas

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Partindo em busca de pistas

Embora fraco o sol surgiu e espantou um pouco do frio e fez com que tirassem de sobre os ombros as grossas mantas de lã de carneiro. Os animais ainda tinham certa dificuldade em caminhar afundando as patas na neve, o que tornaria a viagem mais demorada. O branco cobria quase tudo, mas ainda se podia ver as folhas colorindo de um amarelo apagado e vermelho desbotado por quase toda a extensão quando se olhava para cima.

Nas altas árvores com suas folhas em formato de agulhas, grossas camadas de neve pendiam fazendo os galhos cederem levemente, e os pássaros, como se indiferentes ao frio e à neve, cantavam e voavam de um lado para outro.

Seguiam os lobos, pois como Doru previu, eles velaram pelo resto da noite a feiticeira com uivos baixos e chorosos e, pela manhã o chefe da matilha, o maior de todos, agarrou-a pelo ombro e a arrastou com cuidado. Seguido pelos demais, caminharam em uma fila de cortejo, escoltando a bruxa que tinha a pele tão alva quanto a neve.

Djiu e os demais os seguiam de longe para não alertá-los de suas presenças, e como a neve cessara, era fácil seguir os rastros que os animais deixavam. Às vezes um cervo exibindo uma grossa e quente pele marrom passava fugindo assustado, mas nada fazia os lobos largarem o corpo da feiticeira.

Chegaram afinal em uma estrada onde as árvores se alinhavam aos montes e a perder de vista à direita e à esquerda como uma muralha, formando um corredor que continuou por cem metros à frente, quando então virou bruscamente à direita, continuando ainda ladeado pelas árvores que se estendiam pontudas em direção ao céu carregado de nuvens espessas e escuras.

Era só a muralha branca das árvores cobertas no topo pela neve, mas o caminho de alguma forma inspirava cuidados e era tão intimidador, talvez por ser o que levava ao local de habitação de uma poderosa feiticeira, que todos ali estavam sentindo-se incomodados e até mesmo arrepiados com a tensão que os envolvia como eletricidade.

Os lobos continuaram seguindo em um grupo de cinco, e os quatro caçadores sempre alertas seguiam de longe muito discretos, até que os animais viraram à direita em uma curva acentuada, mas quando eles passaram por ela, os lobos já haviam desaparecido como que em uma passe de mágica.

— Mas para aonde foram? — Angelina olhava para os lados e nada via, nem mesmo havia rastros.

— Tem que haver algum caminho, afinal eles não desapareceram simplesmente — Djiu confirmou ao descer do cavalo.

— Espere, pode ser uma armadilha — Doru a alertou, erguendo a mão em uma alusão de detê-la, mas Djiu deu alguns passos em direção a um buraco recém-remexido.

— Se isso é uma armadilha eu não sei, mas com certeza é uma toca — ela disse depois de tirar um punhado de neve com a mão e mostrar que havia um buraco que descia aprofundando-se.

— Eu é que não entro aí— comentou Petra, esfregando as mãos nos braços. Seu nariz estava muito vermelho e sentia o zumbido do vento em seus ouvidos, fazendo com que ela descesse a touca, cobrindo os lóbulos das orelhas.

Djiu se levantou e colocou a mão na cintura, pensativa.

— Não pode ser essa a toca, ela não iria sair rastejando por um buraco toda a vez que fosse caçar — disse para Angelina, que permanecia em cima do cavalo, que agora começava a se encrespar, batendo as batas e relinchando enquanto ia para trás.

Caçadores - O Vale da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora