Ladrões no caminho

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Ladrões no caminho

Leonardo decidiu levar umas lembrancinhas da época em que servira no exército local, proclamado como "homens livres", na ocasião da luta contra os otomanos. Apesar de não ter lutado diretamente contra os turcos, dizia-se um homem das armas, pois as fabricava para defender seu povo e agora as usaria em uma nova missão e, essa, para a libertação das almas.

Cada uma das espadas que ele tinha forjado e entregue aos caçadores tinha sido feita com uma lâmina especial de dois fios para que cortasse impiedosamente a cabeça do adversário em um golpe rápido, preciso e duro, mas havia uma em especial que ele havia decidido guardar para si mesmo. A grande espada do dragão, como ele a batizou. Feito de madeira nobre escura, o punho era roliço, onde se encontrava mais à frente a cabeça de um dragão feito em prata com as asas abertas e nas pontas dessas asas emergiam dois grandes espinhos como garras.

Leonardo soube que um dia iria usá-la e sentia em seu interior que quando esse dia chegasse, ele saberia, como soube quando avistou os caçadores descendo a montanha, com aquela procissão de cavalos atrás deles e a bruxa disfarçada.

Decidiram que ir até a velha para obter respostas seria melhor do que ir diretamente até o Vale da Morte, porque como bem disse Angelina, tudo poderia não ter passado de um engano ou na melhor das hipóteses, se estivessem certos quanto à localização, ainda assim poderiam estar indo diretamente para a garganta de uma grande e sangrenta emboscada.

Os cavalos titubeavam subindo por aquelasencostas cheias de pedras soltas, que rolavam sob os cascos dos animaisrobustos e imponentes. Latejando ainda, mas moderadamente, o lugar onde antestinha sido a forte mão de Leonardo estava se recuperando rapidamente. Elesegurava forte na rédea de Garoto com a mão que lhe tinha sobrado e que agora,mais do que nunca, ele tinha verdadeira adoração e cuidado. Ele ia pensando emcomo poderia trocar a munição da arma de fogo que trazia consigo, um presentevalioso que ganhou em uma ocasião de um arguto comandante das forças de resistência.

A arma era uma das únicas seis peças feitas exclusivamente em caráter experimental e, apesar de preferir as armas brancas e cortantes por não fazerem barulho, não pôde deixar de admirar a fumaça que saía quando atirava e o cheiro de pólvora que impregnava suas narinas e dominava seus pulmões como o cheiro indubitavelmente acre do poder.

Apesar de nunca ter usado em qualquer outra ocasião que não fosse para caçar uns cervos e uma vez um urso marrom que chegou perto demais de sua cabana, tinha que confessar que ainda não havia pensado em usar para outro fim, até aquela manhã quando Petra, sem titubear, acertou aquela maldita e traiçoeira bruxa que tentou contaminar seu corpo com seu sangue podre e maleficente.

Nas altas copas envoltas em folhagens, verde-limão e marrom-terra, os pássaros faziam uma reunião com vozes exaltadas em uma clara exibição de quem cantava mais alto, e o vento passava por eles quase pedindo licença, vagaroso e frio, cutucando os galhos de leve para vê-los se mexerem, enquanto os atrevidos troncos barravam a passagem como um escudo, forçando-os a fazerem as curvas naqueles caminhos íngremes e indecisos.

Doru e Djiu iam logo atrás do grupo que tinha deixado de ser trio desde que ele se infiltrou de uma forma um tanto quanto misteriosa e vaga. Agora ele se sentia ainda mais em conexão com aquelas garotas corajosas, que tinham deixado de serem meninas frágeis e ingênuas há muito tempo.

Mas de uma forma inteiramente doce, ele se sentia atraído por aquela moça magra de olhar amendoado, que por detrás daquela casca grossa em que se escondia, bem no fundo onde se podia ouvir o próprio eco, tinha uma menina frágil e protetora que precisava ser cuidada às vezes, mesmo que dissesse o contrário. Uma garota que quando batia forte queria depois encontrar um colo protetor e um braço seguro que a envolvesse, que a segurasse e aquecesse.

Caçadores - O Vale da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora