Capítulo 9 - Emoções

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Quanto mais a festa de Marina se aproximava, mais nervosa ela ficava e eu não sabia o que fazer ou dizer, afinal:

- Não era menina;
- Não tinha quinze anos e;
- Não estava planejando uma festa há mais de um ano.

Portanto, quando ela precisava de mim, lá estava eu dando a atenção necessária.

Numa madrugada de domingo eu estava caindo de sono, mas Marina não conseguia dormir. Estávamos falando sobre a bendita festa quando, de repente, começou a chorar:

"Na verdade eu fui provar meus vestidos hoje e dois estão apertados, porque eu não paro de comer".

Senti sua dor na mesma hora. Marina era louca pelos seus vestidos, não fez questão de nada na decoração, seus pais resolveram tudo com uma empresa especializada e ela acatou.

Mas, seus vestidos eram as joias dela, até a cor dos copos da festa foi escolhida para não atrapalhar o brilho dos vestidos.

Exatamente por saber como cada um dos vestidos era importante para ela, senti que minha amiga precisava de mim mais do que em uma ligação. Peguei um casaco e atravessei as duas ruas que nos separavam sentindo a adrenalina de estar correndo às 2 da manhã.

— Por que você está ofegante? Você está correndo? Às duas da manhã? Seus pais não estão em casa? — Ela perguntou ao telefone.

— Estão sim. — Respondi e corri mais um pouco. — Eu é que não estou.

— Qual é o seu problema de sair a essa hora? Aonde você vai? — Marina sussurrava afobada.

— Agora já cheguei, abre a porta aqui para mim, tá frio.

— Você está aqui em casa? Está falando sério? — Ela estava tão feliz que mesmo se tivesse me dito que não tinha como abrir eu saberia que tinha feito a coisa certa em ir lá.

No entendo, pouco tempo depois a porta se abriu e ela apareceu, com o indicador nos lábios pedindo pra eu fazer silêncio — como se eu fosse gritar às duas da manhã — e sorriu. Sorrindo de volta a puxei para um abraço.

Marina me impediu de abraçá-la e ficou olhando meu rosto durante um bom tempo, por fim disse um "Obrigada" cheio de gratidão e me beijou. Um beijo calmo, terno e carinhoso.

Logo em seguida o frio nos fez entrar e me pus a ouvi-la atentamente, como se aquilo fosse tão importante para mim quanto para ela, que voltou a falar sobre os dois vestidos que não estavam cabendo e em como as pessoas iam comentar se estivessem apertados; o jeito que as meninas da escola apontariam para ela, como sua mãe estava desapontada e disse que começaria a regular os doces dela...

Lembro que, na época, fiquei me perguntando por que garotas eram tão complicadas, hoje sei que Marina só estava sendo uma menina normal antes do seu baile de debutante.

Depois dela desabafar tudo o que tinha entalado na garganta, a perguntei quem eram as pessoas mais importantes de sua vida, ela disse o nome dos pais, da irmã, de alguns familiares e o meu.

Respondi a ela que nós iríamos à festa porque queríamos vê-la feliz e não por como os vestidos ficariam em seu corpo.

Ela continuou relutante.

Perguntou o que fazer se ninguém gostasse da festa dela, olhei em seus olhos e disse que eu gostaria da festa, mesmo se tudo desse errado e a comida desse dor de barriga, — ela fez cara de nojo, mas depois sorriu — porque tudo o que eu precisaria para gostar da festa, era vê-la feliz e se preocupando em aproveitar o seu dia, não em tentar agradar os outros.

— Eu te beijaria agora se eu pudesse.

— E por que não pode?

— Estamos sozinhos no meu quarto à noite, qual é o seu problema?

O amor de MarinaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora