O Deus da Criação

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E uma lágrima escorreu dos olhos de Deus.

— Tem certeza? — Ele perguntou olhando nos olhos dela. — Existem coisas na vida que por mais que eu tentasse lhe explicar, você não entenderia Laura. Ninguém entenderia... Eu passo séculos e mais séculos trancado aqui sozinho, pois minha forma verdadeira desperta sentimentos nas minhas criações. Sentimentos que nunca serão superados, você me viu, e sabe agora como é a minha imagem. Mas não sabe nada sobre mim. Você me pediu que protegesse seu pai e suas governantas, me pediu também que fosse feliz, seu coração por mais que tenha sangue do inferno nas veias, sempre fora puro.

— Então... Por que?

— Quer mesmo saber? — Perguntou e ela fez que sim com a cabeça. — Por que se você não tivesse ido junto a Carmilla naquele momento e adormecido pela magia de Elizabeth, você teria se casado com o príncipe da Prússia, teria feito coisas contra sua vontade. Coisas que a marcariam pelo resto da vida, mas teria tido bençãos também, três filhos. Dois rapazes e uma menina. — Laura começou a ficar trêmula de novo. — E então o mais velho iria começar a demonstrar as habilidades de magia aos 12 anos. E o príncipe eventualmente descobriria que havia se casado com uma bruxa. — Ela elevou as mãos a boca enquanto escutava. — O príncipe em busca de vingança por acreditar ter sido enganado, teria amarrado os três filhos em um toco de madeira e os queimado vivos... Uma criança de 12 anos, uma criança de 6 e uma menina de 4 meses...

— Pare... — Disse Laura e o Criador entendeu que ela precisava daquele choque de realidade.

— Você teria escapado, mas ao chegar no castelo de seu pai, todos estariam mortos e acusados de bruxaria. Infelizmente você foi acusada de enfeitiçar o príncipe em nome do diabo, e então... Você preferiria se matar do que ser morta nas mãos dele. — Concluiu ele com as lágrimas escorrendo de seu rosto e no de Laura. — Ninguém entenderia seu lado Laura, morreria sozinha e seria condenada as celas por suicídio. Ainda acha que abandonei você?

— Isso foi...

— Horrível. Um destino terrível para um ser tão especial... Então nunca a deixei. Tudo o que passou até chegar aqui, foi por um motivo, e isso é algo que ninguém entende, as vezes sofremos por um motivo para evitar que algo pior aconteça. Eu nunca abandonei você. OLHE PARA MIM. — Disse ele engrossando a voz e ela o encarou. — Eu estou aqui sentindo a sua dor nesse momento. — Respondeu com as lágrimas escorrendo de seu rosto. — Então nunca, jamais diga que eu a abandonei minha filha, por que isso corta o meu coração.

Aquilo foi o suficiente para que Laura corresse na direção dele abraçando aquela pessoa como se fosse seu próprio pai, ele retornou o abraço enquanto ouvia as palavras de agradecimento repetidas vezes da boca de Laura que estava aliviada, era como se um peso saísse de suas costas.

Ele beijou sua testa e sorriu, aquele olhar era um olhar de felicidade e tristeza, ele queria poder se encontrar com todos os seus filhos todas as vezes, ela sabia que ele também tinha sentimentos, e que ele queria abraçar todos da mesma forma.

Que solitário, viver trancado naquele lugar, sem poder sair, sem poder ser ele mesmo... É como se o próprio Criador fosse como os seres humanos, como aqueles que não conseguem sair da caixa, não conseguem ser eles mesmo. Ele entendia... Ele sabia...

E ela também entendia.

Laura pegou o papel e leu a próxima pergunta tentando não chorar mais. Algo que era impossível estando de frente com o próprio Deus.

— Por que os descendentes precisam ir para o inferno mesmo se eles forem boas pessoas? — Perguntou e o Criador sorriu de leve logo voltando a se tornar sério.

Descendentes do Inferno - Uma história Renegados do Inferno - Vol ÚnicoOnde histórias criam vida. Descubra agora