Para todos os hyungs que já amei

Capítulo XVII

Os pais de Hangyul brigam bastante. Não sei se é normal casais brigarem tanto assim, lembro que mamãe quase nunca brigava com meu pai. Nossas casas são muito próximas então podemos escutar quando eles brigam, normalmente por coisas bobas como uma toalha molhada em cima da cama, mas que sempre evolui para assuntos mais sérios como a falta de tempo dos dois que nunca param em casa. Nesses momentos em que as discursões se afloram ele vem até a nossa casa para passar um tempo com Eunbi ou brincando com a Yuqi, ele nunca fala sobre como se sente em relação a isso, mas sei que o afeta bastante.
Hoje foi mais um desses dias, são quase 22:00 quando o Lee pulando a cerca do jardim em direção a nossa cozinha, abro a porta e ele anda em direção ao sofá da sala junto comigo, passamos uns bons minutos apenas na companhia um do outro até que ele diz:
— Você vai se escrever para a peça da escola?
— Não hyung, por que eu faria isso? — Ele sabe que eu odeio falar em público.
— Dã, e sua peça favorita, além do mais seria legal te ver atuando.
— Obrigado, mas não.
— Só achei que você devia tentar algo fora da sua zona de conforto, sabe o mundo não é só jogar dama com a sua irmã ou andar por aí no carro do Minkyu.
Ele está certo? Meu mundo é assim tão pequeno? Não que o dele seja lá grande coisa.
— Hyung. — Começo, mas não sei ao certo o que dizer então jogo uma das almofadas do sofá nele.
— Ei não precisa partir pra violência.
— Nem vem que uma almodada não doe.
— Tudo bem já entendi, você sabe que não foi bem isso que eu quis dizer, mas acho que você deveria dar as pessoas a oportunidade de te conhecer. — Ele devolve a almofada. — Se as pessoas o conhecessem amariam você.
Ele parece tão seguro disso. Hyung, assim você parte o meu coração. Porque você me conhece melhor do que qualquer um, mas não me ama.


Depois que Hangyul vai para casa subo as escadas de volta para o meu quarto, todas as luzes estão apagadas exceto a do meu quarto, quando entro vejo que Dongpyo está deitado na minha cama todo esparramado, ele tem essa mania de invadir o meu quarto quando se sente sozinho.
— Chega pra lá que eu quero dormir.
— Quer comer sorvete de chocolate agora?
— São quase 2;00 da manhã Pyo isso não é hora de comer sorvete. — Puxo a cocha de cama para nos cobrir. — Você quase esbarou no Hangyul.
— Ele estava aqui? Por que motivo.
— Nenhum motivo. — Prefiro não falar dos assuntos familiares do Lee com ele.
— Não diga para o Minkyu.
— Por quê? Ele não se importa mesmo.
Ele balança a cabeça em desaprovação.
— Todo garoto se importa.
— Não o Kim. Ele é muito seguro.
— Esses são os que mais se importam. — Antes que eu possa perguntar o porquê ele me interrompe:
— Vamos fazer uma loucura.
— Como o que? — Estamos no meio da semana então ele sabe que não podemos sair sem mais nem menos, mas gosto de ver sua empolgação.
—Como...Não sei. E se fossemos aquele cinema novo que tem sessão até as 4;00, podemos assistir aqueles filmes bregas que você adora.
— Meus filmes não são bregas, e nós temos aula amanhã esqueceu. — Digo rindo do desapontamento dele.
— Você é tão sem graça. — Diz ele se aconchegando em mim.
— Hyung acorda, vai escovar os dentes.
Guardo uma escova extra no banheiro para ele. Tem um D feito com esmalte rosa no cabo para não se misturar com as outras.
— Não posso. Estou cansado demais pra me mexer.
— Um segundo atrás você queria ir até o cinema que fica do outro lado da cidade só pra ver um filme e agora não consegue nem lavar o rosto e escovar os dentes. — Ele sorri, mas não abre os olhos.
Apago a luz do abajur e me deito junto com ele.
— Boa noite Hyung.
— Boa noite Junie.


Nossa escola tem alguns eventos bem aleatórios para preencher o currículo dos alunos. Um desses eventos e o Halloween antecipado. Eu sei o que vocês estão pensando, qual a necessidade de antecipar o Halloween? Acredite eu também não sei.
— Você tá parecendo um filhotinho com essa roupa. — Fala Yuqi sobre a minha fantasia. Esse ano resolvi optar por algo mais simples então escolhi uma fantasia de Pikachu que comprei no aliExpress. A escola de Yuqi também realiza esse evento então a mais nova também vai fantasiada.
— Obrigado Yuqi, você também não está nada mal. — Falo apontando para sua fantasia de Annabelle.
— Obrigada. — Diz ela tentando fazer uma voz assustadora.
— Papai vai te deixar na escola hoje né?
— Vai, mas eu queria ir com vocês, aposto que a fantasia do Minkyu deve ser maneira. — Ela faz biquinho.
— Prometo que peço pra ele entrar quando voltarmos assim você vê com seus próprios olhos.
— Promessa de dedinho. — Ela estende o dedo mindinho pra mim.
— Promessa de dedinho.


Estou sentado na calça esperando a carona do Kim quando meu cadarço desamara.
— Aff. — Me abaixo para amarrá-lo.
— Hyeongjun!
Automaticamente respondo.
— Hangyul! — Levanto o olhar dos meus pés e vejo o Lee andando em minha direção.
— Fala sério. — Digo desacreditado, na minha frente esta Lee Hangyul  vestindo o traje completo de Ash, com boné, luvas e até uma pokébola na mão.
Nos dois caímos na gargalhada. De todas as fantasias!
— O pessoal do clube de atletismo combinou de todos irmos como personagens de animes. Eu ia de Escanor dos Sete pecados capitais porque eu tenho o físico perfeito pra isso, mas...
Tento imaginar o Lee de bigode e rio ainda mais.
— Ei não precisa rir tanto. — Protesta ele. — Nem foi tão engraçado.
Ele tira a chave do bolso.
— Precisa de carona Pikachu. — Ele finge jogar a pokébola em mim.
Olho para o horário no celular. Minkyu está atrasado cinco minutos, como sempre. Não que eu esteja reclamando afinal a carona é de graça e eu poderia estar pegando o ônibus. Mas se eu fosse com o Hyung poderia passar no refeitório antes da aula e pegar alguma fruta ou ir ao banheiro. Mas ele já deve estar a caminho.
— Obrigado Hyung, mas vou esperar o Minkyu.
Ele assente.
— Ah é... certo.
Ele destranca a porta do carro.
— Pika! Pika! — Grito antes dele entrar.
— Até mais tarde Pikachu.
Ele acena para mim com a pokébola antes de ir.


Quanto mais tempo espero Minkyu mais irritado fico. A fantasia já começa a se tornar desconfortável pelo calor, sinto-me como um picolé derretendo no sol. Quando ele finalmente chega entro no banco traseiro do carro sem dizer oi e coloco o cinto de segurança. Vejo o Kim me olhando pelo retrovisor.
— Você está ótimo. — Diz ele surpreso. — Essa fantasia combinou com você.
— Que seja. — Digo impaciente. Observo que ele não parece diferente do normal então pergunto.
— Cadê a sua fantasia?
— Vou vestir na escola junto com os meninos. Fica mais legal se aparecermos todos juntos. — Diz ele. Sei que espera que eu pergunte qual a sua fantasia, mas não o faço. Em vez disso me viro para a janela bufando na esperança de que ele repare que estou chateado o que parece não funcionar.
— Eu gostaria que você não chegasse sempre atrasado. — Disparo.
Ele franze a testa em uma expressão de dúvida.
— Caramba, desculpa. Eu só tava terminando a minha fantasia.
— Hoje você tava terminando a fantasia, mas você se atrasa todos as vezes.
— Não é verdade.
— Você me disse a mesma coisa ontem, anteontem e no resto da semana toda. — Agora ele parece frustrado. — Se não vai chegar na hora acho melhor não pegar mais carona com você.
— Ótimo agora posso dormir mais 5 minutos.
— Ótimo.


Na escola eu e Dongpyo estamos sentados perto do anfiteatro onde ocorre a premiação de melhor fantasia. Ele está vestido com o kigurumi de pinguim que dei pra ele ano passado.
— Parece até que combinamos. — Diz ele apontando para as amigas do Kim que também optaram por fantasias mais fofas como as nossas.
— Meu deus vocês estão a coisa mais fofa desse mundo. — Diz Hyuna nos esmagando em um abraço. A mais velha esta fantasiada de panda.
— Você vai matar os dois desse jeito Unnie. — Fala Chungha. A fantasia dela é de tubarão.
— Onde estão os outros?
— Foram trocar de roupa. — Logo após a resposta da mais velha vemos os três entrando pela porta. Todos vestidos de super heróis, E´dwan hyung está vestido de Capitão américa, Sihun de Homem de Ferro e Minkyu de Homem Aranha. Eles possam como se estivessem lutando tiram fotos e até se penduram em cima das cadeiras antes de levarem uma bronca do Senhor Choi.
— Parece que voltamos ao jardim de infância. — Comenta a Kim vestida de Tubarão.
— Realmente. — Todos concordamos.
Kyulkyung nos observa do outro lado do anfiteatro, ela está vestida de mulher gato, com roupa apertada e tiara de gatinho. Quando percebe que a olhamos de volta desvia o olhar.
— O que acharam? — Pergunta Sihun assim que eles chegam onde estamos sentados.
— Parecem crianças de 5 anos.
— Muito engraçada você em Noona.
— Quietos alunos, vamos repassar os avisos.


Acabou que eles ganharam o prêmio de melhor fantasia em grupo. Depois da premiação somos dispensados para o lanche. Vou em direção ao meu armário pegar os livros do próximo horário já que o evento acabou, quando vejo o Kim se aproximando e escorando-se no armário próximo ao meu. Ele ainda usa a máscara de sua fantasia.
— Oi.
— Oi.
Ficamos em silencio por um tempo.
— Parabéns pelo prêmio de mais cedo.
— Só isso? É só isso que você vai dizer?
Hã? O que ele queria? Que eu soltasse fogos de artificio?
— O que mais eu devo dizer?
Nessa hora Hangyul passa com Kim Gukheon vestido de Goku, ele joga uma de suas pokébolas para mim e diz:
— Volte pra sua pokébola.
Eu dou língua e jogo-a de volta respondendo.
— Pika, Pika, Pika.
Ele e o amigo riem antes de continuarem o seu caminho.
— Hã... Você não acha estranho que o meu suposto namorado está usando uma fantasia de casal com outro cara? — Pergunta Minkyu.
Reviro os olhos para a pergunta do mesmo. Ainda estou chateado com o bolo que levei de manhã.
— Desculpa não tem como te levar a sério com essa roupa de lycra apertadinha. — Aponto para a fantasia dele.
— Ei essa fantasia e bem seria ok. — Ele tira a máscara estou cara. — Estou falando sério, como isso fica pra mim?
— Em primeiro lugar não combinamos as fantasias, e em segundo que liga pra isso, ninguém repara nessas coisas.
— Reparam sim, eu notei.
— Sinto muito, por essa infeliz coincidência senhor da lycra apertadinha.
— Duvido que tenha sido coincidência.
— O que quer que eu faça? Que coloque uma peruca ruiva de Mary Jane por acaso?
— Seria legal.
— Você é um idiota.
— Já me disse isso.
— Não você não é só idiota você é ridículo, dando um pit porque minha fantasia combina com a de outro cara, fala sério Minkyu nunca achei que você pudesse ser tão infantil. — Tranco o armário e saio com o Kim no me encalço.
— Se você tivesse me avisado teríamos podíamos ter combinado alguma coisa.
— Que seja.
Ficamos em silencio por um tempo até que em um momento de distração do mais alto resolvo pegar sua máscara.
— Ei me devolve isso aqui.
— Vem pegar. — Digo correndo pelo corredor enquanto o Kim me segue. Desvio de alguns alunos no corredor rindo da loucura que acabo de fazer. Passamos por uma sala de aula onde o professor Choi está entrando e diminuímos a velocidade para não levar bronca.
— Sem corridas no corredor. — Ele diz.
Espero ele se virar para abrir a porta e começo a correr novamente. Isso é tão divertido.
— Tá bom tá bom você venceu. Eu tó morto. — Diz o Kim se escorregando pela parede até o chão.
— Você corre muito devagar.
— E você parece o flash correndo.
— Nem é pra tanto, você que é fraquinho. — Ele me olha indignado.
— Você me fez correr pela escola inteira e eu que sou o fraquinho. — Assinto com a cabeça e rindo.
— Vem vamos pra aula. — Ofereço a mão pra levantá-lo.
— Me lembre de nunca apostar corrida com você.
— Você bem que gostou de correr atrás de mim. — Ele ri e não fala mais nada.
Na metade da aula Minkyu me manda um bilhete com teias de aranha desenhadas nas bordas." Prometo chegar na hora amanhã." Sorrio para o pedaço de papel em minhas mãos e o guardo dentro do livro de matemática para não amassar. Quero guardar todos para quando tudo isso acabar, ter ao menos uma recordação de como era namorar Kim Minkyu. Mesmo que de mentirinha.