Quarenta e Quatro

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Suzana

Seis meses mais tarde…

— O que acha desse? Pra mim é perfeito! — Heitor me mostra outro macacão de bebê, tentando me convencer à comprar.

Mas eu não achei nenhum do meu agrado.

Estamos numa loja do centro fazendo umas compras para Milena. Só estamos aqui por insistência de Heitor, pois já ganhamos muitas coisas de presente.

— Não gostei! Ele é simples demais, sem nenhuma estampa. Além do mais, não tem uma costura resistente. — analiso-o em minhas mãos e o devolvo para o cabide. Heitor, pela primeira vez, concorda comigo e desiste de comprar mais roupas. 

Ele gosta de fazer tudo do jeito dele, até nas compras mais simples tudo precisa ser conforme seu planejamento. Contudo, eu não costumo concordar com nada e, geralmente, ele faz o que eu quero, mas num bom sentido.

Após pagarmos, Heitor me leva de volta pra casa. A bebê está com Cláudia e é a primeira a receber minha atenção quando piso meus pés na sala.

— Que bom que chegaram! Eu já estava preocupada.— Cláudia me entrega a bebê, e ajuda Heitor com as sacolas das compras. — Stéfany está no quarto assistindo desenhos, e Bruno dormiu há pouco mais de um hora.

— Muito obrigada, Cláudia. Bom, seu filho não conseguia se decidir, foi culpa dele a nossa demora. É um chato!

— Ei! — Heitor finge estar zangado e cruza os braços sobre o peito. Minha sogra segue para o interior da casa, nos deixando a sós.

Ele sorri malicioso, me deixando totalmente sem graça.

— Trate de ser boazinha comigo, ou eu não poderei ser com você. — O ignoro, caminhando pra longe dele, levando Milena. A coloco no carrinho, admirando seu sono tranquilo.

Antes que eu pudesse seguir meu caminho até a cozinha, Heitor faz questão de dar uma leve palmada na minha bunda.

Me viro bruscamente, enfurecida. Heitor está cheio das gracinhas.

— Pode parar com isso! — quase gritei ao dizer. — Não se esqueça de que nessa casa há crianças.

— E nenhuma delas está aqui, agora... — ele caminha até mim e me abraça, beijando meu pescoço.

— Milena está aqui. Eu não vou ficar me agarrando com você na frente dela...

Mas esse homem é teimoso, fingiu não me ouvir. E, virando meu corpo de frente a ele, beija-me sem pressa, se sentando comigo no amplo sofá. Foi inevitável não sorrir com isso, qualquer tensão ou momentos ruins desaparecem quando ele está comigo.

Quando o clima começa a esquentar, faço questão de me esquivar dele. Qualquer um pode nos pegar aqui, o que seria péssimo.

— Eu irei subir, e levar Milena para o quarto. — digo já de pé, limpando o canto dos meus lábios, que provavelmente está com o batom borrado.

— Você sempre consegue fugir de mim. Estou ficando magoado. — Heitor se deita no sofá, cruzando as pernas uma em cima da outra.

— Não seja exagerado. Mais tarde podemos ter o nosso momento.— Lhe sopro um beijo, e ele imita meu gesto.

A bebê acorda e me presenteia com um sorriso banguela. Eu a amo demais. A pego em meus braços, seguindo até o quarto. Ela é Bruno dividem o mesmo. Milena ficou mais do que o esperado no nosso quarto, por conta da depressão que tive.

Me recuperar da depressão pós parto foi bem difícil. Precisei permanecer mais um mês - de precaução - em terapia com a psiquiatra da clínica em que Milena nasceu. Foram os piores dias da minha vida. Ao mesmo tempo que eu queria pegar minha filha nos braços, eu não suportava nem se quer olhar pra ela.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora