Vinte e Oito

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Heitor

O primeiro raio de Sol do dia ilumina a janela e consequentemente o meu rosto. Tento alcançar meu óculos, que estão na escrivaninha ao lado da cama, sem precisar acordar Suzana.

Sorrio ao olhá-la. Tão serena ao dormir tranquila e me fazendo de travesseiro.

Folgada!

Acho que nunca irei esquecer a nossa noite. Cada toque, cada beijo, nunca me senti tão bem como ontem a tendo em meus braços.

Penteio seus cabelos, inalando seu suave perfume de flores. Observo suas costas nua, passeando minha mão em sua pele macia. Vejo sua testa enrugando de leve, ela está acordando e pelo visto ficará zangada. Ela detesta ser acordada.

— Bom dia. — ela me ignora, tentando esconder a sombra de um sorriso.

— Por que você não me deixa dormir? Seu chato…— ela resmunga, ainda de olhos fechados. Fico rindo feito um bobo, admirando o seu mal humor logo pela manhã.

— Não tenho culpa se seu sono é leve.

Suzana vira o corpo, se cobrindo com o lençol, mas antes, ela faz questão de me empurrar, com a intenção de me derrubar da cama.

— Você anda muito malvada, assim não dá! — decidi atormenta-la. Fico de pé e procuro minha mochila com roupas limpas. Encontro meu roupão e o visto, sorrio com minha ideia e logo a coloco em prática.

Me aproximo da cama e sem pensar duas vezes, a pego em meu colo. Suzana solta um gritinho agudo pelo susto, mas ela não resiste em bancar a durona. Ela ri junto comigo, enchendo meu coração de alegria.

— Como eu te odeio, Heitor!— suas bochechas estão num tom avermelhado, sei que ela está com vergonha por ainda estar despida. Mas ela é linda, não há motivos pra se intimidar.

— Jura? Não foi o que pareceu a algumas horas...

Ganho um tapa em meu peito pelo comentário, mas assim que a coloco no chão, também recebo um abraço. Minha doidinha que tanto amo, não se decide mesmo.

Suzana diz que irá tomar banho, eu me ofereci para ir junto, mas ela não quis. Decidi respeitar sua decisão, quem sabe outra hora, talvez...preciso ir devagar, ela é uma mulher cuja principal característica que a define é a timidez.

Enquanto ele toma banho, aproveito para arrumar a cama e recolher as velas do chão. Foi tão gratificante o sorriso que recebi quando Suzana às viu ontem. À princípio, não pensei em organizar nada no quarto, mas eu sabia que isso deveria ter sido especial. Então antes do almoço, eu fui até uma mercearia do bairro e encontrei o que eu precisava. Eram velas artificiais e junto com elas, vinha um punhado de pétalas de rosas. Precisei esconder tudo para que ninguém visse nada. Essa surpresa era só pra Suzana. E depois da comemoração da virada, corri até o quarto e organei tudo o mais caprichado possível.

E no fim, valeu a pena meu esforço.

Suzana sai do banheiro, me mandando tomar o meu banho, faço uma careta pra ela, mas a obedeço. Não demoro muito e rapidamente me visto. Nós dois conversamos algumas amenidades, e eu faço questão de dizer o quanto eu amei o nosso momento. Ela me confirma a mesma coisa, me dando o primeiro beijo do dia, o que só alimentou mais a minha vontade de repetir tudo agora mesmo.

Entretanto, escutamos a voz de Stéfany pelo corredor, chamando por nós dois. Me sinto um tanto frustrado, porém estou feliz o suficiente para sossegar o meu eu e me controlar.

Suzana praticamente corre para ir atrás da menina, ela é tão apegada aos meus filhos, às vezes sinto até ciúmes. Mas há um detalhe importante a ser discutido. Stéfany não sabe do nosso namoro. Pra ela, Suzana ainda é a sua babá. E eu confesso que isso me assusta, tenho medo de que minha filha não consiga lidar com isso. Ela tem cinco anos, é pequena para entender sobre o amor, mas não é menos inteligente para não percebe-lo. Uma hora ou outra ela terá que se acostumar com a ausência da mãe, tendo outra figura materna no seu dia a dia.

~♡~

Estamos voltando pra cidade, já é noite e as crianças estão dormindo em suas cadeirinhas. Suzana está distraída com o celular, provavelmente em algum jogo. Quero saber a opinião dela sobre como e quando iremos contar pra Stéfany sobre nós dois.

— O que foi, amor? Você está bem? — Me pergunta, ao perceber o meu olhar. Foi inevitável não sorrir quando ela me chama assim.

— Precisamos dar a notícia para a pequena… — vou direto ao ponto e Suzana pausa o seu jogo, bloqueando a tela do seu celular. Seus olhos fixam na estrada e ela parece pensar no que dizer.

— Eu não quero tomar o lugar da mãe dela, Heitor. Você sabe, mas eu confesso que ela e Bruno são praticamente meus filhos.

— Eu sei disso. Mas não podemos fingir mais, ela tem o direito de saber. Ela já entendeu "mais ou menos" que a mãe não estará mais vivendo conosco.  — paramos em um semáforo, e aproveito para olhar nos olhos de Suzana, eles me trazem paz.

— Você tem razão, se quiser, podemos conversar com ela amanhã mesmo.

— É o melhor. — seguro em sua mão e ela entrelaça nossos dedos.

O restante do percurso foi em silêncio, ao chegarmos, a ajudo a levar os pequenos pra cama e seguimos até o meu quarto, que agora posso chamar de "nosso".

Apenas trocamos de roupa e nos aconchegamos debaixo das cobertas.

— Você acha que ela irá me aceitar? — Suzana demonstra estar inquieta com isso. Sei que minha filha a ama muito, mas isso não quer dizer que a verá tranquilamente como uma madastra.

— Eu sei que ela poderá se acostumar logo com a ideia. Não se preocupe, você é maravilhosa, e está pra nascer alguém que não goste de você. — faço cócegas em sua barriga e Suzana cai na gargalhada, mas rapidamente ela cobre os lábios com a mão, pois já estava quase fazendo todos a ouvirem. Quero que ela relaxe com tudo isso, eu tenho um bom pressentimento sobre minha filha.

— Não faça mais isso! — ela me estapeia, oh mulher que adora me bater! — Cócegas são como maus tratos, sabia?

Tão dramática!

— E ficar me enchendo de tapas é carinho, né? — faço questão de imobiliza-la sob mim.

— E o que você vai fazer se eu não parar? — lhe dou um sorriso malicioso, voltando a fazer cócegas.

Nós riamos como dois bobos, enquanto Suzana tentava me fazer parar, o riso dela era tudo pro meu dia, um simples sorriso conseguia me fazer feliz.

Decidi fazer uma trégua, pois a pobrezinha já estava sem fôlego. Após longos segundos acalmando nossas respirações, o semblante de preocupação retorna em sua face, trazendo uma angústia pro meu peito.

— Vai dar tudo certo, você vai ver. — a consolo, beijando seus ombros. Ela me dá um sorriso simples, agradecendo e em seguida me beija, invertendo a posição, estando agora por cima de mim.

Minhas mãos percorrem pelo tecido fino de sua camisola, ela se arrepia com isso, e eu estava louco pra tira-la. Suzana também me acaricia, trilhando beijos molhados no meu pescoço, prendendo seu corpo pequeno ao meu. Entre um beijo e outro ela sorri, me enlouquecendo!

Mas quando sinto o resultado disso, ela se distancia de uma vez, me encarando de forma divertida. Franzo meu cenho, tentando controlar no peito os batimentos acelerados. Ela se senta em cima de mim, me arrancado um gemido e passeia o indicador sobre meu peitoral.

Isso é torturante.

— Boa noite, meu amor. — E então ela se levanta, deitando-se do meu lado, virando as costas pra mim.

Fico estático por uns segundos, sentindo-me dolorido.

— O quê?…mas a gente não ia…

— Eu disse pra você parar de me fazer cócegas, você não parou, agora receba o seu castigo! — me interrompe, virando o rosto pro meu lado. Ela sopra um beijo e volta a antiga posição, me ignorando.

— Droga, Suzana! Como você é má.. — praguejo, me levantando. Escuto sua risada enquanto entro no banheiro.

Essa mulher ainda me mata.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora