Trinta

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Suzana

No decorrer das semanas, o clima da casa estava, digamos que, pacífico.

O primeiro mês do ano estava indo embora rápido e trazendo muitas novidades. Heitor estava com os negócios ainda mais lucrativos, nenhuma dívida atrasada, sem reclamações, tudo indo muito bem.

Na quarta feira passada, exatos dois dias atrás, a Yasmin, vulgo assistente social, nos visitou novamente para finalizar a sua avaliação. Ela conversou com cada um dos moradores da casa em particular, e por último com Stéfany. Ela parecia satisfeita quando foi embora, creio que no dia da audiência, Heitor terá otimos pontos a seu favor.

Fernanda desapareceu nesses últimos dias. Heitor me disse que ela estava ligando pra ele e pedia pra falar com a filha, (ele não faz ideia de como ela descobrio seu número novo) mas sempre que ela ligava, ele estava no trabalho, e ela nunca ligava para o telefone da casa, parecia até que fazia de propósito, para assim dizer que Heitor não deixava ela falar com a menina. Porém, quem perde é ela, pois todas as suas investidas para nos prejudicar, só tem diminuindo ainda mais as suas chances de tentar tirar as crianças da guarda paterna.

O meu bebêzinho Bruno, já está quase com seis meses de vida. Agora ele passou a comer papinhas e frutas raspadas, fora o mingau de aveia que ele tanto ama. Ele também está tentando pronunciar sílabas e eu me sinto ansiosa para o momento em que ele começar a falar palavras completas.

   Heitor costuma me chamar de "mamãe" na frente dele, o incentivando a me ver dessa forma. Antes eu me sentia mal, eu não queria causar prejuízo e nem pegar o lugar de ninguém, além do que, Stéfany não me chama de mãe e pra ela pode parecer confuso ter o irmãozinho me chamando de mamãe. Mas ela não demonstra estar incomodada, ela é uma garota muito compreensiva e esperta.

Mas ainda assim, havia algo de errado comigo.

Me sinto cansada durante o dia, às vezes estressada demais ou até mesmo chorosa. Houve dias em que eu não conseguia trocar as fraldas do bebê, sentindo um tremendo enjoou. Também sinto um sono digno de três pessoas, durmo quase que o dia todo. Se não fosse pela babá eletrônica, o pobre do Bruno ficaria chorando sozinho todas as vezes que precisava ser limpo ou comer.

Quero acreditar que possa ser alguma virose ou até mesmo uma reação dos meus hormônios, pois desde adolescente eu tive um descontrole, e passei alguns anos tomando remédios. Não posso ficar doente, não posso deixar as crianças na mão. A volta às aulas está quase chegando, Stéfany precisa de apoio pois agora ela irá para o primeiro ano. O aniversário dela será justo no primeiro dia de aula.

Heitor está planejando uma surpresa, algo simples apenas para a família. Fiquei em dúvida sobre que presente dá à ela, mas quando a mesma me disse que queria que eu fizesse um desenho dela, tive a mais brilhante de todas as ideias: comprei tinta, pincel e um cavalete, o montei no meu antigo quarto de babá e já estou quase terminando um retrato da minha princesa.

Não será exatamente uma surpresa, mas eu sei que ela não espera por algo assim.

Confesso que me senti triste quando entrei na papelaria e avistei os materiais de pintura. Sinto tanta falta do meu ateliê. Porém, enterrei pro fundo do meu cérebro qualquer pensamento ruim e de tristeza sobre isso. Eu sei que poderia tê-lo outra vez, quem sabe daqui alguns anos?

A hora do almoço chegou, Heitor passou a manhã toda no escritório, era quase uma rotina pra ele. Stéfany coloria alguns desenhos de princesas na sala, Bruno brincava com suas pelúcias e mordedores no tapetinho, próximo a irmã e eu assistia a um programa de entrevistas na TV. Eu adoro esse tipo de programação, geralmente algum cantor Pop apresentaria um pequeno show e eu amo músicas internacionais.

Vestígios De Uma Amizade (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora