Enfrente seus Demônios (Romance Gay)

Capítulo 2 - Perfumes e Promessas

2. Perfumes e Promessas

– Bruno, não durma! BRUNO! - Berrava alguém, agitando seu corpo com brutalidade, afastando o jovem cada vez mais das promessas sussurradas pelo frio da Morte.

Com muito esforço, conseguiu entreabrir uma das suas pesadas pálpebras. Tudo o que queria naquele momento era dormir, agarrar-se à escuridão que havia levado embora sua dor. Seus pensamentos surgiam com extrema lentidão, tão confusos que até conseguir estabelecer uma linha de raciocínio já estava caindo no sono mais uma vez. 

Seu corpo foi sacudido mais uma vez. Voltou a entreabrir os olhos para descobrir quem interrompia seu descanso final, mas tudo que conseguiu ver foram aqueles olhos vermelhos, brilhando com ferocidade.

Por que era tão difícil analisar e decodificar as imagens que seus olhos encontravam? Ele estava tão cansado... Sentiu seu corpo ser içado do solo, o movimento havia sido preciso, porém delicado e, de repente, sentiu-se preso por braços fortes. A segurança daquele abraço o deixou ainda mais relaxado para dormir.

Cheiros fortes invadiram seu nariz, enquanto ele permanecia agarrado naquela parede sólida de músculos e calor. O forte perfume que respirava era uma mistura do delicioso cheiro que a terra possuía depois de uma chuva de verão, mas também havia o cheiro ferroso e estranho de sangue, e o aroma que só poderia ser definido como “cheiro de homem”, forte, seco e rústico. A ideia de um sorriso ameaçou curvar seus lábios enquanto ele, com grande letargia, pensou que aqueles perfumes combinavam de uma maneira bizarra.

- Tem um cheiro bom – Foi tudo que sua língua pesada conseguiu ter a habilidade de proferir, mas sua voz estava tão fraca que ele não tinha certeza se alguém tinha escutado.

Com a mente focada em manter o humano vivo, Gustavo começou a se mover em direção ao seu carro, enquanto gritava com o outro lobo, ordenando que ele ligasse para o pai do garoto. Sua voz era tão forte e clara, que o outro rapaz atendeu prontamente, saindo do estado de confusão causado pelo choque de ver seu melhor amigo desabar depois daquele ataque.

– Eu vou levá-lo até o hospital no meu carro. – continuou Gustavo com a sua voz grave - Não podemos nos dar ao luxo de esperar uma ambulância.

Correndo pela floresta com o pequeno humano em seus braços, tudo o que Gustavo conseguia pensar era que aquela floresta era longe demais do hospital. Durante todo o percurso entre árvores, galhos secos e terreno irregular, o lobisomem tentava obrigar o outro a ficar acordado. Ele sabia o que acontecia com aqueles que se rendiam aos encantos da Morte e suas promessas.

O sangue do garoto escorria do grande ferimento em seu abdômen, manchando sua camiseta branca, bem como o peito do lobisomem. O cheiro forte do sangue preenchia a noite, atingindo suas as narinas e se fixando em algum lugar do seu cérebro. Era tanto sangue... Em todos esses anos em que havia se envolvido em brigas e batalhas, ele sabia que se não corresse com Bruno para o hospital seria o seu fim.

- Por favor, Bruno, não durma, você não pode dormir! – Gritou com o rapaz enquanto abria a porta do carro.

Com alguma dificuldade, conseguiu colocar o rapaz no banco do carona e o prender no cinto de segurança. Encontrou no banco traseiro sua jaqueta de couro predileta e a arrumou da melhor maneira possível no estômago sangrento de seu colega, fazendo pressão com parte do cinto do automóvel, tentando retardar que aquele líquido escarlate continuasse a escapar daquele corpo.

– O que diabos você foi fazer lá?! – esbravejou o lobo enquanto patinava pelo solo cheio de pedregulhos, voltando para a estrada que ligava a floresta com a cidade de Gardênia.

Pisando fundo no acelerador, Gustavo desviava de todos os obstáculos que surgiam à sua frente, seus instintos animalescos o ajudando a tomar decisões rápidas e precisas.  Por alguma razão, ele se sentia intimamente responsável pelo humano, assim, durante todo o trajeto, ficou chacoalhando o humano para impedir que ele se aprofundasse muito em seu sono.