Capítulo 7 - Afeto

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Semanas passaram e o sorriso no rosto de Sicheng começara a aparecer. Não valia a pena se remoer em sofrimento. Hendery o havia convencido de que Yuta partira em paz e que ele deveria seguir sua vida, pois era o que o japonês desejava.

Viver com Hendery também havia ficado melhor para Ten desde o mês passado. Ambos dormem juntos, ou melhor, Ten dorme e Hendery o faz companhia acalentando-o enquanto adormece e ansiando seu despertar diário. Ten algumas vezes se sentia desconfortável pois nunca havia tido um namorado antes. Não que Hendery fosse seu namorado, mas esse nível de proximidade com alguém era a primeira vez que o garoto estava experimentando. Ele esperava que Hendery apenas notasse certas atitudes como sendo algumas daquelas coisas sem explicação aparente que humanos fazem. Mas não era necessário se preocupar com isso, certo? Hendery fora comprado em uma loja de "namorados", afinal. Ele havia sido programado para essas funções. De qualquer modo, Ten era grato que o robô jamais houvesse feito uma pergunta sequer do porquê ele gostar de dormir com o rosto contra seu peito, por exemplo.

– Você gosta de mim, não é? – Hendery pergunta de repente em uma manhã.

Ten deixa a torrada cair, bufando por ter que limpar a manteiga do chão.

– É claro que eu gosto de você. Já disse que você me cativou, esqueceu?

– Não é disso que estou falando, é que...

Hendery hesita ao perceber que tinha a atenção de Ten.

– Pode falar.

– Bem, existem robôs para as mais diversas funções, você sabe. Eu fico me perguntando o porquê de você ter me escolhido. Quero dizer, eles tem robôs programados para serem apenas amigos.

Ten engole seco e em seguida toma um gole de café tentando esconder o nervosismo. Ele sabia onde Hendery queria chegar. Fingindo manter as coisas sob equilíbrio, ele morde um pedaço do bolo que havia comprado na padaria do canto enquanto evita troca de olhares com o robô.

– Me desculpe se isso te chateia, é que eu realmente não entendo. E mesmo que tente agir como seu amigo, é difícil para mim pois tenho que ficar me limitando.

– O que eu disse sobre pedir desculpas desnecessariamente? – o garoto diz agora caminhando em direção ao robô oferecendo-lhe uma xícara de café.

– Desculpe.

Ten começa a sorrir. Hendery o encara com as sobrancelhas franzidas.

– O que foi?

– Hm, é que tem algo aqui... – o robô passa os dedos no canto da boca do garoto os direcionando em seguida até sua própria boca lambendo restinhos de glacê que ele havia acabado de coletar.

Ten fica imóvel. Ele não se mexe e nem diz coisa alguma. Quando Hendery fica movimentando a mão na frente do rosto do menor para despertar sua atenção o mesmo se vira rapidamente contra o balcão e continua calado.

– Ten?

– O-oi?

– Você está bem? Parece que deu bug, mas você não é um robô. – Hendery começa a rir.

Ten continuava paralisado. Encarar uma torneira de repente parecia deveras interessante.

– Ten? – Hendery repete agora preocupado.

– Hendery. – finalmente ele lembra como pronunciar palavras – Você tecnicamente é um namorado, certo?

– Pelo menos eu deveria ser, até você me dizer o contrário.

– Não me tira o foco. – Ten diz ainda sério e sem olhar para Hendery o que faz o robô sorrir.

– Sim.

Boyfriend Material | tenderyWhere stories live. Discover now