INTRODUÇÃO🦋

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Beverly

Às vezes eu mesma me questiono: Eu poderia ter qualquer um dos garotos da minha idade em Honolulu, não que eu me ache, mas porque eu sei disso. E então eu decido me apaixonar justamente pelo Jay.

O Jay não é qualquer garoto, ele é o meu destino, eu sinto isso. E vou tentar de alguma forma resumir para vocês como cheguei a essa conclusão...

Em algum dia do primeiro semestre de quando eu tinha 10 anos, meu pai foi promovido há um cargo maior na empresa em que ele trabalhava, e com isso ele foi também transferido, para uma cidade no Havaí chamada Honolulu.

Na época morávamos em Vancouver no Canadá, que é inclusive a cidade em que eu e meus irmãos mais velhos nascemos. Mas o que vem ao caso, é que eu tive um leve surto por causa da mudança, não foi algo que eu no auge da minha infância, cheia de amigos, com uma vida social de festas do pijama agitada, aceitei muito bem de primeira. Além de que minha carreira de modelo intantil em catálogos de roupas estava indo muito bem, e ir pra lá significaria ter que recomeçar. E isso ocasionou o episódio mais sinistro de toda minha vida.

Em uma noite um pouco antes da mudança de cidade, resolvi fugir de casa enquanto todos dormiam, naquela idade eu não tinha noção do quão arriscado isso era, eu só queria chegar na casa da minha melhor amiga e meus planos eram de ser adotada pela família dela e virar uma Montgomery pra ficar em Vancouver.

Eu fui descendo a rua, passando alguns quarteirões e me toquei de que não sabia chegar lá sozinha, logo me vi perdida em uma vizinhança que eu não conhecia. Então sentei na sarjeta de uma casa qualquer e comecei a chorar.

Fui socorrida por uma senhora, a dona da casa em que eu estava parada na frente, ela me convidou para entrar, eu contei que estava perdida e ela ligou para a polícia. Mas o que aconteceu de sinistro, foi que nesse meio tempo antes da chegada da polícia, ela leu sobre o meu futuro nas suas cartas de tarô, e acho que foi nesse dia que conheci o Jay.

-Você não precisa se preocupar com este lugar para onde está indo, porque é lá que sua vida vai mudar completamente. Aqui eu vejo um rapaz voando no céu, deslizando sobre as ondas. Não consigo identificar muitas coisas, mas posso te ver mergulhando em um profundo oceano de seus olhos azuis, e então você terá um belo destino, vejo dias divertidos e emocionantes vindo. O fim irá justificar que o início foi necessário.

Essas foram, quase exatamente, as palavras que ela usou para me convencer a ir feliz e tranquila para a nova cidade. Com 10 anos eu não entendi quase nada daquilo, mas com 10 anos eu já era um tanto romântica e sonhadora, havia me empolgado com o que ela disse por mais que não fizesse sentido pra mim.

A polícia chegou um pouco depois e me levou pra casa, um dos policiais conhecia meus pais e facilitou tudo. O mais engraçado é que ninguém havia notado a minha ausência, quando chegamos na minha casa eram 3 da manhã e todos estavam dormindo tranquilos como se eu não estivesse perdida no mundo no meio da madrugada. Meus pais entraram em desespero, claro, quase surtaram de preocupação mesmo que eu já estivesse na frente deles, e eu entendo esse sentimento.

4 dias depois estávamos todos juntos no avião rumo à nova vida, e eu havia ido com a mala e o coração cheios de expectativas sobre o meu destino, sobre o que a vida estava me reservando neste novo lugar.

[...]

Assim que chegamos, um motorista da empresa nos buscou no aeroporto e nos levou para a casa que o próprio chefe do meu pai alugou para nós.

Minhas primeiras impressões da cidade foram realmente boas, o lugar era muito bonito e completamente diferente da minha cidade natal. Em Vancouver eu não costumava sentir calor, nunca, e eu estava suando poucos minutos depois de sair do avião. E eu achei aquilo o máximo!

A casa que escolheram era apaixonante, toda branquinha e beje, os tons suaves, cheia de janelas, detalhes em madeira e repleta de plantas. E nada melhor do que ser a caçula e a filhinha do papai, porque fiquei com o quarto maior, já que estava basicamente com uma decoração feminina. Meus próprios irmãos não costumavam ir contra meus desejos, sempre fomos muito unidos e eles eram atensiosos comigo o tempo todo. A única pessoa que segurava as redias do meu domínio, era minha querida mãezinha, que não se rendia tanto assim aos meus charmes.

E foi nesse mesmo dia em que cheguei na cidade, que me deparei com ele. O destino tem dessas, de surpreender e mexer com o coração sem piedade. Na minha inocência, abri as cortinas do quarto para ver a vista ao redor, e na mesma direção da minha janela, há poucos metros de mim, lá estava ele.

Me lembro como se fosse ontem, dele parado olhando desconfiado, cachinhos dourados, olhos azuis da cor do céu encontrando com o mar ao meio dia, queimado do sol, bronzeado como sempre foi, perguntando:

‐Vocês vão morar aqui, agora?

-Sim! Eu, meus pais e meus dois irmãos. -respondi gritando, pois a distância não era favorável.

-E quantos anos seus irmãos tem? -perguntou ele de volta.

-Eles têm 12, e são gêmeos.

-Se eles praticarem algum esporte, ou jogarem video game, diz pra baterem aqui na minha casa. Eu me chamo Jay! -gritou ele.

-Eu me chamo Beverly!

-Eu nunca tinha ouvido esse nome. Tchau, Beverly! -disse e se retirou.

E então pronto, desde aquele dia, foi ele que eu quis pro resto da minha vida. Como eu sabia disso aos 10 anos de idade? Não sei, só sei que se tornou uma das minhas metas de vida, um parênteses nas minhas listas de sonhos pra realizar, Jay era um deles, um sonho que eu queria realizar, de alguma forma, algum dia.

Eu contei sobre ele pros meus irmãos, e não demorou muito pros três se tornarem amigos inseparáveis, e todas as tardes sem falta, ou meus irmãos iam pra casa dele, ou ele vinha pra nossa, pra jogarem bola ou vídeo game. E eu, eu ia junto e ficava junto o tempo inteiro, por mais que me excluíssem das brincadeiras por eu ser "pequena" ou "criança demais". Foi Jay quem os ensinou a surfar, a jogar basquete, a pescar, ele era incrível e sabia de tanta coisa, e por mais que me ignorasse a maior parte do tempo, ele era especial pra mim, ele foi meu primeiro amor.

𝐑𝐄𝐈𝐒𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑 ➳Onde histórias criam vida. Descubra agora