Caminhos diferentes

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Quando Brooke chegou e levou Beverly embora, eu percebi que meu tempo estava contado. Faltava muito pouco para 1h da manhã e muito menos do que isso para minha viagem, ou pelo menos era a sensação que eu tinha.

Eu não poderia parar pra pensar por muito tempo, porque eu não tinha tempo, eu não tinha nada sem ela e não queria ter que ir embora sem me despedir de uma forma memorável, especialmente memorável. Então corri para o lado oposto do campo, em direção ao estacionamento. Peguei meu carro e fui em alta velocidade para casa.

Estava suando frio, nervoso e agitado, eu não havia calculado bem o que eu estava fazendo, estava agindo totalmente por impulso sem medir qualquer consequência. Cheguei, estacionei o carro na calçada do outro lado e corri para os fundos da casa dela.

Os Evans costumavam deixar uma chave na janela, pela parte de dentro e uma pequena fresta sempre aberta pra que pudessem pegá-la se fosse preciso. Eu sabia disso porque já havia visto os gêmeos usando algumas vezes quando voltávamos de algum lugar no qual seus pais não sabiam que estávamos. Peguei. Abri a porta com cuidado, tranquei e coloquei de volta exatamente no mesmo lugar. Segui pela cozinha, até a sala e subi as escadas cautelosamente, porque por mais que não houvesse ninguém ali, eu estava literalmente invadindo uma residência.

Entrei em seu quarto e me sentei em sua mesa de estudos. Estava uma bagunça, assim como todo o quarto, mas havia algo mágico em estar ali sozinho, o contato com suas coisas, com objetos tão pessoais dela, da minha garota. Maquiagens espalhadas, roupas no chão, cama desarrumada, cadernos e livros empilhados prestes a cair. Ali durante minha viagem em seu universo, observando cada detalhe, ouvi ela e seus pais chegando.

Me levantei desesperado, pensando se não era burrice estar fazendo aquilo, ou se desse errado e seus pais me vissem ali, mas tentei manter a calma e pensar positivo. Não tinha muita ideia de onde me esconder de forma que não parecesse um fantasma ou um ladrão, então fiquei entre as cortinas.

-Boa noite, amo vocês! -respondeu para seus pais entrando no quarto, fechando a porta e ligando as luzes.

Depois disso ela literalmente rodopiou no meio do quarto e se sentou na ponta da cama para tirar os sapatos e desfazer o penteado, e eu ainda não fazia ideia de como aborda-lá. Então decidi aproveitar que ela estava de costas para onde eu estava, pra mandar uma mensagem, já que ela havia acabado de pegar o celular.

➡️Ei, por favor não se assusta quando você me vir

Por quê eu me assustaria?⬅️

➡️Olha pela janela

E então ela se levantou prontamente sem dizer nada e foi até a janela, bem ao lado de onde eu me escondia, sem sequer notar minha presença.

-Oi. -falei ao sair das cortinas e abraçá-la rápido, sem dar brecha para qualquer susto.

-Ah meu deus, Jay você é louco! -disse me apertando ainda mais forte, beijando-me em seguida.

Eu não tinha nada além daquilo em mente, eu me obrigava a não ter, Beverly era muito nova e eu tinha total noção disso, não que eu também não fosse. Eu só queria estar ali com ela, era com ela que eu queria passar meus últimos momentos em Honolulu, aquele momento marcaria o fim e o início de tudo. Não existia nenhum outro lugar no mundo onde eu gostaria de estar naquele momento, era a pessoa certa, mas no momento errado, infelizmente.

-O que você tá fazendo aqui? -perguntou logo depois do beijo, curiosa e nervosa.

-Eu não podia esperar até amanhã. Quando você foi embora eu simplesmente senti que precisava de mais tempo com você. -menti.

Eu não podia esperar até amanhã, porque não tinha um amanhã para nós dois, apenas algumas poucas horas, as quais eu me negava desperdiçar longe dela. Eu não queria ter que me despedir, não queria que ela ficasse triste, então decidi não contar e apenas aproveitar o que eu tinha em minhas mãos.

-E o que a gente faz agora?

-Eu só quero estar aqui com você, só isso. -afirmei, segurando suas mãos.

-Eu não fazia de que você era assim, Jay.

-Assim como? -questionei.

-Ainda mais perfeito do que eu criava na minha cabeça. -disse, sendo extremamente fofa.

Sorri sem jeito, pelo quanto eu a achava incrível, e a abracei mais uma vez, repetindo várias e várias vezes o quanto ela era linda e o quanto eu estava apaixonado. Meu coração era seu, e quando eu partisse, ele ficaria aqui com ela.

Decidimos apenas deitar em sua cama e conversar, recuperar todo o tempo perdido que havíamos gasto negando, fugindo e escondendo nossos sentimentos um pelo outro. Ela recostou sua cabeça sob meu peito, e enquanto falávamos em um tom muito baixo, eu acariciava seus longos e macios cabelos. Aquele cheiro de shampoo de morango ficaria impregnado em mim e eu iria adorar.

-E o que você quer pro seu futuro, Bev? -perguntei durante o assunto. Eu realmente queria saber a sua resposta.

-Eu quero fazer faculdade de moda, ou jornalismo, e morar em uma casa tipo essa, em um bom bairro assim como o nosso e ter uma vida tranquila, agradável, com alguém que me faça feliz. Não acho que seja muita ambição, eu odiaria criar grandes expectativas sobre o meu futuro e terminar frustrada por não conseguir atingi-las. -respondeu, bocejando ao final.

-E por quê não sonhar mais alto, você não tem que ter medo disso, tem que usar o medo de falhar como motivação pra tentar ainda mais. -encorajei.

-Mas eu seria realmente realizada por ter essas coisas, não sinto que precisaria de muito mais, principalmente se... -pausou para mais um bocejo. -...se essa pessoa ao meu lado fosse você. E então nós criariamos mais sonhos juntos. -concluiu.

Foi inevitável não sentir o coração sendo completamente preenchido de amor, ao ouvir palavras tão doces.

-Vou ser eu ao seu lado, e vamos criar mais sonhos pra gente realizar juntos. Eu prometo Beverly. -disse, mas não obtive mais resposta. -Beverly? -chamei, mas ela já havia caído no sono.

Continuei ali, fazendo carinho em seu cabelo. Mas depois tentei colocá-la deitada em meu braço, para que pudesse admirar seu rosto e guardá-lo na memória, para lembrar dele todos os dias ao dormir e acordar. Ela se mexeu um pouco, mas não acordou enquanto fiz isso, então pude passar pouco mais de uma hora ali, extasiado, completamente vidrado em cada detalhe seu a minha frente.

Passei meus dedos por suas maçãs do rosto, suas sobrancelhas, por cada um de seus poros e por seus lábios, de um tom rosa avermelhado, o qual eu desejava colar nos meus para sempre. Beijei-a suavemente por alguns segundos, antes de precisar me levantar e me levantar dali era como uma tortura, senti um corte profundo sendo feito por todo meu interior ao me afastar dela.

Eu não poderia sair dali sem deixar nada, sem dar qualquer satisfação ou explicação, era meu dever fazer isso, ela não merecia ser deixada no escuro da forma como eu faria. Por isso me sentei em sua mesa de estudos, peguei um de seus cadernos que ali estavam, abri em uma página vazia, tomei uma de suas canetas e comecei a escrever, escrever e a observar, escrever e inevitavelmente, chorar.

Assim que terminei, a carta foi selada com uma lágrima bem no ponto final, como se o seu local de aterrizajem estivesse programado. E ali eu havia deixado todo o meu sentimento. Tomei forças para me aproximar novamente e dar-lhe um último beijo, antes de seguir para meu destino, do qual no momento, ela não fazia parte. Nossos caminhos a partir dali, iriam para lados totalmente opostos e eu temia, que fossem diferentes demais a ponto de nunca mais se cruzarem.

𝐑𝐄𝐈𝐒𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑 ➳Onde histórias criam vida. Descubra agora