02|as estrelas estão te esperando

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Não pude deixar de sorrir.

Me lembro de ter a apertado em minha mão e prometido voltar no mesmo lugar naquele dia – ou em muitos outros se necessário. 

Mas ao invés disso, o telefone tocou. 

Era você. 

Sua voz, o som da sua risada. 

Você disse que decorou o número que estava entre as folhas do meu caderno quando perguntei como havia conseguido, e eu pude lembrar de tê-lo escrito caso algum dia fosse perder. No entanto, se a pessoa que o achasse tivesse um bom coração, poderia me ligar e devolvê-lo. 

Mas tudo que você pediu foi meu endereço e avisou, reafirmando antes de desligar e me deixar boquiaberto com tal fatalidade: 

"Nós temos um compromisso, Connell. Acho que você deve saber, eu não brinco em serviço. Pegue um casaco e coloque uma troca de roupa em uma mochila. Estou aí em quinze minutos." 

Devo admitir que senti uma insegurança repentina quando perguntei aonde iríamos e você não deu uma resposta de imediato. 

Mas mesmo assim, eu esperei. 

E olhando para fora da janela, observei a grama verde do parquinho vazio, às folhas esmaecidas sobre o chão, o relógio pendurado na parede e o seu tic-tac constante. 

Até que você apareceu na frente do prédio de tijolos rosados e buzinou diversas vezes, tantas que tive certeza que o som ecoou à duas quadras dali e estavam deixando os vizinhos enfurecidos.

E quando desci o último degrau da escada, tive que parar para tomar um fôlego antes de empurrar a porta e sentir o vento tardino chicotear minha pele.

Ergui a cabeça e avistei seus olhos presos em mim, pude jurar que senti a pele queimar debaixo do suéter. Um tolo.

O mesmo cachecol colorido estava enrolado em seu pescoço, mas dessa vez, uma boina estava sobre sua cabeça, o corpo levemente apoiado em seu conversível ambulante e as mãos no bolso do casaco amarronzado.

Meus olhos se voltaram para a máquina azul pela segunda vez e tudo que eu via era você. Personalidade. Era a sua cara, Lawrence. Aliás, tudo que você tinha era assim, único. Nos detalhes. Na sua cor favorita. No modo em que gostava de luzes cintilantes por todo o apartamento e fazer parecer Natal antes mesmo de ser.

Tudo sempre teve um toque seu. 

E talvez, esse seja um dos motivos que eu nunca – nem se eu desejasse – poderia te esquecer.

Também não deixei de reparar no quanto seus fios estavam brilhantes sob os raios solares que ultrapassará a névoa que cobria o céu, deslumbrantes. E no sorriso que se curvava em sua face bonita à cada passo que eu dava, até chegar perto. 

— Espero que não se importe com altas velocidades.— você avisou, agarrando a chave presa no cós da sua calça e a suspendendo na altura dos olhos.— É melhor a gente ir, temos muita estrada pela frente.— declarou, me deixando anestesiado.

Mas antes que você deslizasse para o banco, meus dedos envolveram seu pulso em um aperto suave, a mantendo de frente para mim.

A Última Cor de VenusWhere stories live. Discover now