Ocean Eyes

I'm February

"Os cavalos fogosos conhecem-se pelo porte e as pessoas apaixonadas pelos olhos."

Liev Tolstói

Domingo . 02/02/2018

Eu encontrava-me cada vez mais fascinado pela morena de olhos azuis, acabamos por passar todo o sábado embaixo dos lençóis, não necessariamente entrelaçando nossos corpos da forma mais vulgar que exista, mas sim conversando, ainda que algumas caricias e provocações fossem muito bem-vindas. O que antes parecia uma completa insanidade para mim, não passava da melhor oportunidade em minha vida, como a mesma insistia em dizer. Em plena consciência eu nunca me mudaria para casa de uma estranha e a deixaria "me ajudar" como bem entende, mas ao conhecê-la aquilo não parecia mais uma ideia absurda.

- O que acha de fazermos um jantar hoje? - Ela diz enquanto mexe nos fios de meu cabelo.

- Jantar? - Eu questiono confuso. - Há alguma razão especial?

- Claro, oras! - Ela ri de mim, não entendo. - Você.

- Eu?

- Sim, querido. - Ela se levanta e veste minha camisa. - Quero que conheça meus amigos, quero que meus amigos conheçam você.

- Ele irão me comparar com os antigos "Fevereiros"? - Digo com desdém.

- Mas que bobeira. - Ela some de minhas vistas ao adentrar o banheiro. - Por que eles fariam isso?

- Eu não sei, você tem o costume de apresentar seus... - Procuro pela palavra certa. - ...companheiros mensais a eles?

- Companheiros mensais? - Ele coloca a cabeça para fora e me encara divertida. - Gostei.

- Eu estou falando sério, Alex.

- Eu também estou, Daniel.

Eu desisto de fazê-la me responder, como já dito antes, ela gosta de fazer perguntas e não de respondê-las. Para alguém que é tão curiosa sobre a vida dos demais, ela não gostava de falar muito sobre si e talvez eu deva ter aproveitado a chance de pesquisar sobre ela na noite anterior.

- A que horas será o jantar? - Questiono me dando por vencido.

- Isso quer dizer que você concorda, então? - Ela senta-se em minha frente de joelhos sorrindo feito uma criancinha.

- Sim, olhos de oceano. - Ela bate palmas sorrindo e me abraça, eu sinto algo inexplicável dentro de mim ao vê-la assim.

- Tudo bem, britânico? - Ela solta-se de mim. - Por um segundo achei que tivesse parado de respirar.

- Só estou encantado. - Ela morde a gengiva, esperando minha explicação. - Ver você sorrir é como se pegar observando um simples pássaro voando num fim de tarde. É incrivelmente lindo e libertador.

- Como você pode não ser um galã de primeira com as garotas? - Ela balança a cabeça em negação, eu apenas sorrio divertido.

- Eu suo frio perto de garotas, principalmente perto de garotas bonitas.

- Não sei se devo me sentir ofendida ou... - Eu me desespero para contraria-la.

- Não, não é isso que eu quis dizer. - Ela ri baixinho e se aproxima de mim. - Você é a pior delas, me faz errar o ritmo das batidas do meu coração enquanto a minha respiração falha cada vez que você chega perto assim.

- Devo ser uma garota e tanto, então. - Ela ri devassa, estamos com os rostos roçando um no outro.

Eu a beijo, sem aviso prévio, sem pudor. A beijo como quando o oceano beija a linha da costa, e não há nada mais bonito do que o modo como o oceano se recusa a parar de beijar a linha da costa, não importa quantas vezes seja mandado embora.