One Week After

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          Se duas pessoas amam uma à outra, não pode haver final feliz. 

 Ernest Hemingway

Eu acordo ao ouvir o bipe do notebook de marca coberto por uma coloração escura tocar, coço os olhos percebendo o inchaço deixado ali como uma consequência das lagrimas que derramei durante a noite de ontem. Era hora de finalmente levantar, acho que eu não saia da cama desde a semana passada, mas você não pode me culpar por estar miserável.

Eu ando em direção ao banheiro pequeno e ligeiramente encardido pronto para fazer minhas necessidades matinais e então ao jogar uma grande quantidade de água gélida em meu rosto, tive a visão de meu reflexo. Olheiras, cansaço, dor, todas palavras que remetiam a minha atual condição. Suspiro pesadamente tentando manter todos os motivos para desistir e me entregar ao choro incessante mais uma vez dentro de mim, felizmente a batida irritante em minha porta me impossibilita de continuar ali para descobrir se cederia.

- Daniel! - A voz de Jade berra meu nome por diversas vezes antes que eu chegue até a porta. - Daniel, é melhor você abrir essa...

- Oi, Jade. - Eu abro a porta antes que ela termine sua sentença.

- Eu cheguei a pensar que você tivesse cometido uma loucura! - Ela adentra minha casa sem que eu a dê permissão e eu faço uma careta por isso.

- O que faz aqui, Jade? - Suspiro pesadamente e me sento na cadeira ao lado da mesa repleta de obras inglesas famosas.

- Eu queria me certificar de que você está bem. - Ela diz mais calma. - E pelo visto eu vou precisar chamar artilharia pesada para dar um jeito nesse apartamento.

- Como você acha que eu estou, Jade?! - Cuspo as palavras amargamente. - Na verdade, me surpreende ver quão bem você está.

- Acha que não estou sofrendo? - Eu a fito calado. - Não se atreva dizer que estou bem com o que aconteceu, estou tão na merda quanto você, entretanto, eu tenho outras pessoas para ajudar antes de pensar em mim.

- Pare de agir como a próxima madre Teresa e se permita o luto, porra! - Eu levanto e reviro a mesa de mármore que ocupava a minúscula cozinha a procura de meus cigarros e assim que o encontro, trago sem mais delongas ao chegar à janela.

Nós ficamos em silencio por alguns minutos até que ela suspire pesadamente e comece a fungar, sei que ela chora e a conhecendo como a conheci nesse período de quatro semanas, ela nunca choraria na frente de outra pessoa. Eu fui um idiota insinuando que ela não estava triste como eu, às vezes eu conseguia ser um perfeito egocêntrico metido a besta.

- Eu estive com ela por mais tempo que você, eu sei coisas que você não teve tempo de aprender sobre ela, eu passei por momentos com ela que valem por uma vida, eu posso ter tido mais tempo ao lado dela que você, mas isso não diminui a minha dor, muito pelo contraio.

- Eu sei, me desculpe. - Eu encosto-me à janela e cruzo os braços ainda tragando e vendo a menina que nunca chorava, chorar.

- Tudo bem, eu entendo. - Ela limpa as lagrimas e se recompõem. - Vamos tomar um café.

- Eu não quero sair de casa.

- Eu deixei você se trancar aqui por uma semana inteira, acho que é hora de tomar um sol. - Bufo. - Não vou embora até você ir tomar um café comigo.

- Tudo bem. - Apago o cigarro no cinzeiro e vou até meu quarto.

Eu reviro o guarda-roupa em busca de uma vestimenta limpa, assim que finalmente encontro eu me visto rapidamente e coloco os óculos escuros, pois uma semana longe da claridade havia sido alarmante para minha visão.

Ocean EyesWhere stories live. Discover now