Capítulo 5

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"A luz e a sombra brincam dentro de cada um de nós"

Não levo mais que um segundo para entender o porque do pedido de desculpas.

Os pais de Cam não estão sozinhos. Tem ao menos mais dez pessoas em volta da mesa. E todos parecem interessados demais em mim.

Cam imediatamente se coloca a minha frente, me protegendo dos olhares. E, pela segunda vez em menos de vinte quatro horas, sei exatamente o que ela está sentindo. Flui do corpo dela para o meu, a diferença é que a angustia deu lugar à raiva. Posso ouvir os batimentos de seu coração acelerarem junto com os meus.

Alexa se aproxima de nós duas, receosa. Ela está encarando Cam, com um meio sorriso nos lábios.

- Camila, por favor. Não faça uma cena agora.

- O que eles estão fazendo aqui? – ela pergunta entredentes.

- São os amigos do seu pai. Você já os conhece.

- Mãe, você não respondeu minha pergunta – a irritação dela é cada vez mais latente para mim.

- Pétros os tinha convidado para o almoço antes mesmo de sabermos que vocês estavam chegando. Então, por favor...

- Ela não vai ser o ratinho de laboratório deles.

Algo na forma como ela diz isso faz acionar um alarme em minha cabeça. Não quero que se sinta ainda pior, seja qual for o motivo, não está fazendo nada bem a ela. De alguma forma sei que uma dor de cabeça absurda está querendo tomar conta dela. Só tem uma coisa que posso fazer nesse momento.

- Cam – seguro suas mãos e faço com que se vire para mim e me olhe nos olhos.

Ela vira e vejo o quanto os olhos dela escureceram de um segundo para o outro. A respiração dela está pesada, como se tentasse se controlar.

- Cam, está tudo bem. São amigos do seu pai. Não tem problema eles quererem falar comigo. Vou ficar bem.

- Nick, não...

- Você está aqui comigo. Eu confio em você. Confia em mim? – pergunto olhando fundo em seus olhos, segurando seu rosto entre minhas mãos.

Ela apenas confirma com um aceno de cabeça. Dou um beijo demorado em seu rosto antes de voltar minha atenção a Alexa. A mulher apenas sorri para mim, agradecida.

- Estou morrendo de fome. A Cam disse que sua comida é a melhor do planeta.

Sei que Cam está mais calma, sinto isso. Sem soltar sua mão, sigo Alexa para a mesa do almoço.

Cam fica o tempo todo ao meu lado. Quase não dirige palavra a mais ninguém, mas não deixa de olhar para mim. Tento responder todas as perguntas que me fazem. Nenhuma delas é ofensiva ou inconveniente. Só estão empolgados em conhecer pessoalmente uma alien. De certa forma, é divertido.

Conforme o dia passa, Cam fica um pouco mais à vontade. Pétros nos serve uma bebida que ele mesmo produz. Não faço ideia do que é feito, mas é deliciosa. Aos poucos o interesse dos convidados em mim diminui. Então volto toda minha atenção para Cam.

- Você está bem melhor.

- Como sabe disso?

- Será que podemos pegar uma garrafa de bebida e fugirmos daqui um pouco?

Ela não responde. Só pega uma das garrafas ainda fechadas, me pega pela mão e nos leva dali. Andamos por entre algumas arvores até chegarmos em uma clareira. Um rio corre do lado oposto do terreno. Nos sentamos à margem. Cam abre a garrafa e me oferece. Tomo um gole longo antes de tomar coragem para dizer o que tem me perturbado desde a noite anterior.

Eirini - A civilização perdidaWhere stories live. Discover now