Capítulo 2

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"A fragilidade e a força andam de mãos dadas. Basta um coração e um bicho-papão."

Não parece que faz muito tempo que peguei no sono quando a escuto. Tateio até encontrar o botão da luz e espero meus olhos se acostumarem com a claridade. Consigo ver o quanto Cam está agitada. Levanto e chego mais perto dela.

Seu corpo está molhado de suor e o rosto retorcido de dor. Mesmo com receio, a seguro pelos ombros e a chamo. O simples contato da minha pele com a dela faz com que, de alguma forma, sinta seu pânico.

- Cam, acorde.

Sua respiração está irregular e ela treme. Começo a sentir sua angustia, parece que não consegue fugir do que quer que a prenda.

- Cam, acorde – falo mais alto, a balançando de leve, preciso fazer com que isso termine.

Tento mais duas vezes e ela finalmente abre os olhos. Por um instante me fita, confusa. Não sabe quem sou e está aterrorizada.

- Cam sou eu, Nick – explico – Lembra? – o reconhecimento aparece em seus olhos.

- Nick, me desculpe – ela pede.

- Você está bem? Precisa de algo?

- Não. Eu... estou bem. Tudo bem.

Ela ainda está ofegante e parece um pouco envergonhada.

- Eu preciso andar um pouco. Preciso de ar. – levanta e calça os tênis – Será que pode... vir comigo?

- Claro.

Nós vestimos um casaco por cima do pijama e saímos. Caminhamos em silêncio pelos corredores, nos afastando cada vez mais dos dormitórios. Os passos dela estão vacilantes, mas Cam tem certeza do caminho que está seguindo.

Não consigo parar de olhar para ela. Foi tão assustador  que tenho medo de ver todo aquele pavor de volta ao seu rosto.

Subimos uma escada e andamos mais um pouco até chegarmos a uma porta de aço. Cam encosta seu cartão na maçaneta e a porta cede. Mais uma escada e estamos a céu aberto. Ou quase.

Estamos em cima da aeronave, sob a fuselagem. Uma cúpula transparente nos protege do vazio do espaço. Daqui conseguimos ver as estrelas e outros pequenos corpos celestes. É deslumbrante. Olhamos para cima, nos acalmando.

- Você está melhor? – volto a olha-la.

- Estou. Obrigada – Cam respira fundo – Desculpe por aquilo.

- Não se desculpe.

- Vou precisar conversar com o médico da tripulação quando ele acordar. Isso não devia ter acontecido.

- Alguma coisa a ver com aquele liquido violeta?

- Sim – responde, corando – Tenho tido problemas para dormir. Nosso médico me recomendou aquele elixir. Tem funcionado bem. Até agora.

- Então ainda bem que eu estava aqui hoje.

- Verdade.

- Quer conversar?

- Acho que não? – o rosto dela ainda tem um tom avermelhado – Desculpe.

- Tudo bem. Será que posso te dar um abraço? Você parece estar precisando – ofereço.

Antes que ela responda, me aproximo e a envolvo em meus braços. De início ela não sabe como agir, mas aos poucos relaxa e retribui.

- Obrigada – agradece – Nossas demonstrações de afeto são um pouco diferentes. Mas acho agradável seu costume.

Eirini - A civilização perdidaWhere stories live. Discover now