— A varinha, Blakeley. Nada de magia, com ou sem uma, durante a detenção. — Isis suspirou, depositando-a nos dedos longos de Snape. — Não pense que não conheço suas artimanhas.

— A maioria chama de "habilidade extraordinária", porém gosto de artimanha também. Me faz parecer mais enigmática do que sou.

Severus deu-lhe as costas, claramente se divertindo as suas custas, e acomodou-se à mesa, com os livros e pergaminhos, restando à bruxa iniciar a punição. "As correntes e as algemas me aguardam, afinal", pensou, verificando os itens no armário de canto. Isis abanou a frente do rosto quando uma nuvem de poeira a envolveu, forçando-lhe um espirro.

A tarefa se deu com mais interesse que o necessário. Ter alguma coisa para fazer, embora soasse estúpido a princípio, era melhor que ficar na sala comunal da Grifinória ou deitada no dormitório, cercada por adolescentes e seus dramas diários. Os livros foram fáceis de limpar — ordenados, ao fim, de acordo com os anos escolares —, tal qual as balanças e demais materiais usados nas aulas. O ferro oxidado das correntes e algemas, por outro lado, exigiu um esforço maior, aliado à mágica discreta para não chamar a atenção de Severus.

Quando terminou, não fazia ideia de quanto tempo se passara. O metal tilintou ao ser jogado na sacola, atraindo o olhar do mestre de Poções.

— Finalizado. — Ela passou as mãos no tecido da saia, livrando-se do excesso de poeira. — Vamos lá, embora eu tenha mãos muito habilidosas, como pode constatar, meu cérebro agradeceria um desafio que exigisse menos trabalho manual — falou, deixando a sacola ao lado da escrivaninha dele.

Severus apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos ao encará-la; a expressão analítica ao maquinar a tortura. Quando ele puxou a gaveta e retirou um pedaço de giz, Isis arqueou a sobrancelha, cogitando o que viria a seguir.

— Acredito que esteja familiarizada com a Poção do Sono Sem Sonhos. É conteúdo do sexto ano e o abordaremos na aula de amanhã. — O professor deslizou o giz através da mesa, na direção de Isis. — Bote seu tão apreciado conhecimento em prática e escreva as instruções no quadro. — Ela deu de ombros, fitando automaticamente o exemplar de Libatius Borage sobre a pilha de livros. — Sem a ajuda, se é que podemos dizer que auxilia alguém, deste livro desprezível. Use o que aprendeu em Uagadou, já que se orgulha tanto dos seus mestres de lá.

— Com prazer — rebateu, pegando o giz.

Posicionando-se em frente ao quadro, fechou os olhos e recorreu às memórias das aulas de Alquimia e Poções não só de Uagadou, mas também as de Underhill. Sob a atenção implacável de Snape, descreveu o passo a passo de uma das poções que seu tutor mais odiava. Levara uma semana ouvindo Erastus explicar cada nuance do preparo cuidadoso, sem esconder a aversão que cultivava por um dos maiores complicadores de sua área de estudo.

As palavras se destacavam sobre a superfície esverdeada, acompanhadas de ilustrações satisfatórias para complementar. Às vezes parava e repensava algumas partes, apagando-as para reescrevê-las da maneira certa ou só elucidando melhor a explicação. Ao terminar, afastou-se do quadro e esquadrinhou o feito em busca de erros grosseiros, porém não encontrou nada.

Isis volveu na direção de Snape cheia de expectativa e o encontrou encarando-a em vez de avalizando a elucidação.

— Gosta de se exibir, não é, Blakeley? — A bruxa afastou-se ao vê-lo se aproximar do quadro, desviando o foco para a explicação. — Qual a necessidade disso? — perguntou, apontando para um dos desenhos.

— A imagética alquímica me ajudou a memorizar as poções na época da escola. O estímulo visual funciona com muitos alunos. Deve saber disso melhor do que eu, não é, professor?

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