Capítulo 7 - A decisão

4 0 0
                                    


Não conseguiu nem ao menos sentir medo. Manteve os olhos fechados, pensando que era um delírio causado pelos medicamentos, mas quando os abriu, descobriu que havia realmente um homem sentado ao seu lado. Ela não tinha forças para gritar, nem para alcançar o botão de emergência. Pensou que o melhor era aceitar a escuta, mesmo que não conseguisse raciocinar direito.

— É, Dulce. Quem diria que estaríamos nessa situação? — O homem desafiou, puxando a cadeira ainda para mais perto da cama de hospital. — Você por acaso se lembra de mim?

Pela voz, ela não conseguia reconhecer e não enxergava muito bem naquele momento. Queria dormir, mas não podia se render ao sono sem antes saber quem a estava perseguindo. Ela fez o esforço de virar a cabeça, mas a imagem borrada daquela pessoa não a lembrava de nada.

— Nnã... — Ela tentou responder, sem sucesso.

— Não se lembra? Vamos tentar começar expondo desde o começo, como nos conhecemos. Você vai se lembrar, tenho certeza. — Ele esperou algum indício de que Dulce fosse responder, mas ela não reagiu. Apenas olhava para ele com os olhos semicerrados, tentando manter-se acordada. — Nos conhecemos há muitos anos, durante a gravação de um programa de auditório. Éramos os dois bem novos, você já com a carreira se consolidando, fazia parte de um grupo musical da moda. Eu, estava apenas começando como repórter.

"Eu te entrevistei algumas vezes a partir desse dia. Você me tratava bem, tínhamos um bom relacionamento profissional. Até que mais tarde eu fui contratado por uma revista, e então você passou a me evitar. Eu entendo que você evitava sempre esse tipo de mídia, a da fofoca, dos rumores sem sentido. Mas você me conhecia. Eu sempre fiz o melhor para falar de você de uma forma delicada. Até mais ou menos três anos atrás. Você realmente não se lembra?"

Dulce continuou sem responder e sem recordar. Acontecimentos recentes ao acidente eram desconhecidos ainda para ela, e falar sobre isso em alguns momentos a fazia se sentir mal, como se já não servisse, como se estivesse quebrada.

— Ora. Naquele ano eu te vi em uma premiação, acompanhada de outra pessoa, que não seu noivo. Você chegou a comentar que eram amigos e que fazia muito tempo que não se encontravam em um evento e, por isso, estavam conversando e aproveitando o tempo para colocar a tudo em dia.

Ele se levantou, olhando para ela mais de perto, com as mãos apoiadas no leito.

— Eu vi quando vocês saíram juntos. E entraram no mesmo carro. Eu sei para onde foram. E agora você sumiu e eu te vejo com uma menina pequena.

Dulce conseguiu entender. Ele queria contar para o mundo — do jeito dele — tudo sobre ela. Ele pediria algo em troca para ficar calado.

— Agora, eu quero propor um trato. Eu posso ir embora e ficar quieto sobre o que aconteceu e sobre você estar aqui. Mas você também precisa fazer a sua parte, e vamos marcar um dia para isso. Está entendido?

— Oqu vcê qur? — articulou com dificuldade.

— Bem, como eu terei que guardar muitas informações, também vou pedir a você algumas coisas. Falhe em alguma, e eu farei a matéria. — Ele se aproximou um pouco mais de Dulce, e prosseguiu — Primeiramente, você deve imaginar que eu quero dinheiro e eu sei que você tem. Me entregue em três dias quinhentos mil pesos. Nos encontraremos no mesmo lugar que já tínhamos marcado, e então passarei a você o que você me oferecerá em seguida. E vá sozinha.

Dulce tentou assimilar tudo o que tinha ouvido sob efeito dos analgésicos. Nada parecia fazer sentido. Ela não se lembrava dele e não conseguiu perguntar seu nome antes de que ele se afastasse e passasse pela porta, fechando-a com delicadeza, como se fosse um visitante realmente preocupado.

Uma chance para recomeçarWhere stories live. Discover now