— Apague esta varinha! — ralhou, protegendo os olhos com a mão livre. Ele aproximou a lamparina do rosto de Isis e o brilho do broche de Ilvermorny captou sua atenção. — Não sei como funciona na sua escola, menina, mas, em Hogwarts, os alunos não podem perambular por aí à noite! Venha!

Isis seguiu em silêncio até a sala do zelador. Estivera ali tantas vezes que não se espantou com a decoração peculiar do ambiente abafado. Felizmente, Filch esquecera a porta aberta, por onde a luz da lâmpada a óleo escapava, permitindo uma fraca circulação de ar para apaziguar o cheiro de peixe frito. Uma punição por andar pelos corredores à noite não era tão ruim. Poderia alegar vários motivos caso Minerva perguntasse. Pela parte de Killian, tinha certeza de que ele não falaria nada sobre o duelo.

Enquanto Filch remexia na gaveta da escrivaninha, a bruxa observou madame Nor-r-r-a se acercar e roçar em seus tornozelos. Nos tempos de escola, passara quatro anos tentando ganhá-la com petiscos, na esperança de não ser delatada durante as escapadelas. Não funcionara para esses fins, porém a gata tornara-se menos rabugenta com ela, e, fosse pelo cheiro ou por magia, ainda a reconhecia.

— Vou ficar te devendo — murmurou, abaixando-se para acariciar a pelagem cor de poeira.

— Ei, o que pensa que está fazendo?! — Filch tinha um rolo de pergaminho e uma pena nas mãos nodosas. — Afaste-se dela! — Para o assombro do zelador, Isis pegou madame Nor-r-r-a no colo sem acabar toda lanhada.

— Você é uma garota muito inteligente, não é? — A gata ronronou e a garganta de Isis queimou ao segurar o riso.

Os olhos de Filch quase saltaram das órbitas enquanto as encarava com ar aparvalhado.

De repente, uma mudança sutil na atmosfera da sala causou um formigamento na nuca de Isis, que se virou no mesmo instante para encontrar Snape parado na soleira da porta. A ausência da capa abrandava um pouco da aparência de morcego, em compensação, sob à meia-luz com a compleição esguia e pele pálida, assemelhava-se a um vampiro, cujo semblante neutro se desfez por poucos segundos ao ver a gata no colo da bruxa.

— Professor — disse Filch, afobado —, encontrei essa aluna passeando pelos corredores. — O tom já não soava tão agressivo. Na verdade, era como se ele esperasse por um elogio... que não veio.

— E eu estava prestes a admitir que cometi um erro em fazê-lo. — Isis colocou madame Nor-r-r-a no chão, sem se importar em espanar a blusa para tirar o excesso de pelos. — Acho que perdi as palavras quando vi a bela coleção de correntes e algemas do senhor, Sr. Filch — disse com seriedade, sustentando o olhar de Snape com uma inocência fingida

Quando se virou para encarar o zelador, viu-o transitar entre desconcertado e desconfiado.

— Está zombando de mim? — Foi tudo o que ele conseguiu balbuciar.

— Ah, não. Longe de mim fazer algo do tipo. — Ela segurou as mãos atrás das costas, dando o seu sorriso mais delicado. — Eu realmente tenho um apreço muito grande por certos tipos de... castigo. — Diante do tom sugestivo, o purpúreo do nariz afluiu para o resto do rosto do zelador. — Cordas também são muito...

— Eu cuidarei disso. — Snape a interrompeu, puxando-a pelo braço enquanto atravessavam o saguão de entrada rumo às masmorras.

Os dois só pararam ao cruzarem a porta da sala dele. Sob a luz da lareira, o cômodo mergulhava em uma aura densa, projetando as sombras dos frascos de vidros nas paredes, revestidas com estantes cheias de livros, e potencializando o ambiente soturno. O armário de ingredientes estava aberto, e uma pena preta cobria um pergaminho com as palavras saídas de um tomo velho, aberto sobre a mesa.

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