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Ivan colocou a chave na mesa e esperou que Pietro batesse a porta, estava odiando o muro que havia entre eles, mas havia tanta coisa em jogo.

Arina tinha sumido e ele nem ao menos deu ouvidos a Pietro quando era necessário.

Pietro sentou na poltrona e o olhou, por tempo suficiente para que Ivan se sentisse desconfortável.

—Preciso falar com você! —Disseram em união

—Você primeiro!—Disse Pietro, apontando para o outro

—Eu fiz merda hoje, na verdade tenho sido um idiota nos últimos dias, mandei a mulher que amo embora, fiquei gritando feito louco nessa sala, não consigo escolher alguém para comandar o hospital... —Tirou o suéter verde—Eu sei que está difícil para todo mundo,mas eu não consegui suportar, sou fraco Pietro. Não consigo lidar com as coisas ruins. Não como a Arina ou você. —Coçou a cabeça —Fizeram coisas ruins contigo e ainda assim você não desistiu, passou por tudo, deixou as drogas... Não sou esse tipo de pessoa.Nunca serei!

Pietro levantou-se —Para, para... Não é justo comigo e nem com você. Quer saber o motivo de eu ter sumido hoje cedo? Sabe por que meu rosto está assim? Fui a Chatanovo atrás de drogas, porque eu, quem você acha tão forte, não passo de um viciado de merda.—Disse se olhá-lo diretamente, tinha medo do julgamento,Ivan havia feito tanto por ele, odiava ser mais uma decepção —Não mudei Ivan! —Prosseguiu—Serei sempre o cara propenso a enfiar uma agulha no braço, porque não suporta os problemas. —Sentindo os olhos arderem Pietro deu as costas ao loiro —Se não fosse a sua mensagem, eu não teria ido embora, nem depois de apanhar para um outro drogado...Se tem alguém fraco aqui, sou eu!

Pietro sentou-se na poltrona e tampou o rosto, estava se odiando por tudo isso. Dizia que controlava suas vontades, mas era mentira, desde a primeira vez que injetou heroína em seu corpo, perdeu esse comando.

Sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto, Pietro passou a pensar no silêncio que se instaurou na sala. Merecia que Ivan o ignorasse. Para alguém que passou os últimos dias julgando o outro, receber a indiferença dele era esperado.

—Toma! —Disse Ivan

Pietro tirou a mão dos olhos e viu o loiro portando um saco com gelo e um copo de água. A gentileza dele foi pior do que o hematoma em sua bochecha.

—Não precisa...

—Pega logo isso! —Ivan insistiu e ele o fez—Você não é um viciado, sei que já se passaram oito meses desde a reabilitação, mas você ainda está em tratamento. Não vou te chamar de fraco ou te julgar por isso, deixamos sua dependência de lado por algum tempo, porque você parecia bem, mas sua mente, não estou nela para saber!

Pietro pressionou o gelo contra o lado direito de seu rosto —Desculpa...

—Pelo o quê? Fomos eu e a Arina que te levamos a esse estado. Meu pai conseguiu acabar com meu relacionamento e aposto que dessa parte a mãe dela gostou. Você não teria ido a procura de drogas hoje, se não fosse a minha atitude. Eu te devo desculpas. —Disse Ivan ao sentar-se no sofá —Você não é só um viciado, da mesma maneira que eu não sou o pior namorado do mundo... Somos pessoas e erramos, ferramos com as coisas às vezes, mas isso não define a gente.

Pietro deu um gole na água e deu um sorriso para Ivan, estava errado, as coisas nunca mais seriam como no início, antes eles não se amavam, não como agora.

Ivan levantou-se e Pietro colocou o copo no chão,pegou a mão do loiro e o puxou, fazendo-o cair sentado em seu colo

Ivan riu e colocou a mão em cima da de Pietro, pressionando o saco de gelo no hematoma—O que houve com seu rosto?

Pietro respirou fundo—Tinha um cara atacando uma conhecida minha...

—Conhecida?

—A menina que ia me vender drogas... Ajudei como pude, mas levei a pior!

—Não é um cara de luta! —Disse Ivan, fazendo Pietro rir e concordar—Te amo, vou consertar as coisas. Trarei a Arina de volta, prometo! Confia em mim, as coisas vão voltar ao normal!

—Eu confio! —Disse Pietro, recebendo carícias em seus cabelos

—Hoje cedo, o que a Arina disse na...

Pietro pegou Ivan pelo queixo e o beijou, apenas para calá-lo, não queria ter de falar sobre a mãe dele, ou de suas suposições, não agora quando estavam fazendo as pazes.

Ivan sorriu enquanto o beijava e ao menos naquele instante, as coisas pareciam normais.

—Também te amo! —Disse Pietro

--◇◇--

Arina acordou no susto, olhou para o teto e a luz branca incomodou seus olhos. Nervosa, tentou se mexer, mas foi impedida pelas amarras em seu pulso, que a prendiam a uma cama de hospital. 

Arina fechou os olhos e puxou o braço, mas ao se mexer para tentar sentar, sentiu uma dor forte na perna esquerda. Imediatamente,  usou a perna boa para puxar o lençol, revelando assim, que uma das pernas estava enfaixada. Do pé ao joelho.

Lembrou-se imediatamente do acidente e justificou assim os arranhões na coxa e nas mãos. Mas, no instante em que olhou para o soro ao seu lado e para a agulha em seu braço, sentiu o coração acelerar, não lembrava de está em um hospital.

—Pensa, Arina, pensa... —Respirou fundo e ao juntar os lábios,sentiu uma leve dor seguida de um gosto de sangue—Porra!—Praguejou-se—Concentra!

Observou cada canto da sala, era um local estreito, com paredes cimentadas e cinzas, haviam algumas luzes no teto e duas portas de ferro, uma de frente para a cama e outra do lado esquerdo, o chão era de ardósia e o único móvel além da cama era uma cadeira de ferro.  Àquilo não era um hospital.

Arina puxou os braços com força, mas não conseguia se soltar, por mais que tentasse.

—Socorro... —Gritou —Socorro....

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde as histórias ganham vida. Descobre agora