CAPÍTULO 50

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AMARE BETTENCOURT

Após o delicioso almoço, eu tive um surto quando Matthew me levou para uma espécie de parque de diversões, mas que entre os brinquedos, havia uma pista enorme de patins. Um dos meus hobbies preferidos da vida sem dúvida é andar de patins. Uma sensação muito gostosa e que me faz esquecer de qualquer problema. Era muito louco a mistura de sentimentos que o patins me proporcionava, mas era isso. Desde criança.

— Você vasculhou minha vida de cabeça para baixo, certeza. — Falo, já escolhendo os meus patins com o rapaz e Matthew fez o mesmo.

— Já disse que tive ótimas fontes que me ajudaram nisso. — Comentou, o que me fez ri, calçando os patins e ficando de pé, o que era a parte mais difícil. — Vem. — Matthew chamou, segurando minha mão e entrando na pista de patins.

Até nisso apostamos corrida, mas eu perdi ao esbarrar na barreira e cair no chão. Eu ri ao ver Matthew todo preocupado e me ajudando a levantar. Meio que eu já estava acostumado, já que vivo tropeçando e caindo nos cantos, então...

— Eu te amo, sabia? — Murmuro, abraçando sua cintura, andando de costas, vagarosamente e o fazendo vir junto comigo.

— Eu que sou louco por você. — Matthew ditou, segurando minha cintura e me beijando deliciosamente. Isso é um sonho? Tem que ser. Não é possível que exista alguém tão perfeito assim!

Após mais alguns minutos e depois de algumas quedas, saímos dali, caminhando juntos pelo parque.

— Esse dia está sendo incrível... — Comento, encantado e abraçando sua cintura. Matthew suspirou, parando de andar e pegando minhas mãos.

— Depois de tudo, isso não é nada perto do que você significa para mim. Nunca, absolutamente nunca, duvide do que eu sinto por você. — Sorri, quase querendo chorar de tanta emoção e o puxando para um beijo caloroso, na qual ele retribuiu de imediato.

— Agora eu sei. — Falo, sorrindo.

— Vamos. Agora sim eu quero te mostrar sua primeira surpresa. — Ditou, o que me deixou empolgado e ansioso.

Dessa vez, Fernando veio nos buscar, mas entregou as chaves do carro para Matthew e chamou um táxi, mandando um tchauzinho para nós.

Entramos no carro, e Matthew logo deu partida, sorrindo para mim e pousando a mão em minha coxa enquanto dirigia.

. . . .

O carro parou em um bairro nobre da cidade, o que me deixou confuso e curioso. Matthew, mesmo notando minha confusão, ele permaneceu em silêncio, seguindo para uma das belas mansões que havia ali.

Estava cheia de seguranças por fora e os portões logo se abriram, permitindo que Matthew adentrasse o local. Havia cães de guarda no jardim extremamente grandes e assustadores, mas não moveram um músculo quando o carro entrou.

O jardim era imenso e muito lindo, além de ser muito bem cuidado. Para um amante da natureza, aquele lugar era um paraíso sem fim. A casa tinha três pavimentos. E novamente olhei para Matthew, esperando uma explicação, mas ele nada me disse.

Ele quer me torturar, só pode!!!

— Matt? — Chamo, confuso.

— Hm? — Ele me olhou, sorrindo.

— Que lugar é esse? — Ele deu de ombros, saindo do carro sem me dá uma resposta. Abriu a porta para mim e rapidamente saí do veículo, não parando de olhar para Matthew, esperando uma explicação. Ele apenas riu da minha cara e me puxou pela cintura, me levando para a porta da entrada, que acabou abrindo apenas com a aproximação de Matthew. Por dentro, tudo era mais lindo ainda. Tudo em cores neutras e uma arquitetura de alto padrão.

— Você conheceu meu lado mais simples, na quebrada, com amigos e família simples... Esse é o outro lado da minha vida. Eu acho exagerado, mas tudo foi obra da minha mãe, que escolheu tudo e decorou. — Explicou, se encostando em uma parede, enquanto eu andava pelo ambiente, admirado. Nem minha casa chegava aos pés dessa daqui. Olho para Matthew, com um pouco de receio de perguntar e matar minha curiosidade.

— Você... comprou essa casa? — Matthew sorriu, notando meu receio. Ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos da calça e me olhando fixamente.

— Por mais difícil que pareça, não foi com dinheiro sujo. — Foi impossível não notar minha surpresa.

— Não? Então como?

— Minha mãe é dona de uma empresa de joias em Paris. Esse foi um dos motivos para meus pais viverem lá. Além de eu ter erguido uma empresa imensa de entretenimento e geralmente isso arregada muita grana. Mas entreguei a empresa nas mãos da minha mãe, que ama essas coisas mais do que eu. Não foi nem um pouco fácil fazer a empresa ser realmente conhecida e buscada, mas no começo sempre é difícil. — Explicou, me deixando boquiaberto.

— Eu estou um pouco chocado, confesso. — Falo, não conseguindo nem piscar o olho. Matthew sorriu, suspirando.

— Amor, por que você acha que ninguém nos insultou quando nos beijamos vez ou outra na rua? — Questionou, me deixando confuso.

— Porque... as pessoas respeitam? — Falo, meio incerto. Matthew sorriu, negando.

— Somos um casal homoafetivo e interracial. Acha mesmo que iríamos ser respeitados pelas pessoas? Amare, por que você acha que eu não fui barrado naqueles restaurantes chiques que levei você? Ou até mesmo Jaqueline, enfim. Por que você acha que essas pessoas me respeitam tanto? — Fico calado, não sabendo o que responder. — Acha que se eu fosse realmente do morro, e apenas de lá, as pessoas me tratariam com esse mesmo respeito? — Abaixo o olhar, refletindo sobre isso.

— Eu... não sei... — Murmuro e ele se aproxima, segurando meus ombros.

— Vivemos em um país capitalista, e... obviamente com o racismo velado. E se em todos os nossos passeios ninguém nos insultou, ou me barrou nos lugares, ou não nos olhou torto, é porque eu não sou apenas um negro que vive na favela, mas porque eu sou o homem que sustenta a família dessas pessoas com empregos de alto escalão. Entendeu? — Abro a boca, em choque.

— Então... se tem tudo isso... por que vive no morro? Por que esse... trabalho sujo? — Ele deu de ombros, respirando fundo.

— Porque alguém tem que se importar com aquelas pessoas. Eu fui para o morro e vi policiais invadindo aquele lugar, matando inocentes. Percebi o quanto a sociedade é podre e interesseira. Aquelas pessoas não sabiam quem eu era, e me receberam de braços abertos. Eu amo aquelas pessoas, e eu decidi que iria protegê-las. E... esse dinheiro sujo que acabo adquirindo, vai todo para os que trabalham para mim e que realmente precisam. Nunca usei um centavo desse dinheiro. Eu já tenho o meu. Digamos resumidamente que eu tenho dois trabalhos, e duas vidas. — O encaro, não conseguindo falar nada. Eu estava em choque demais para dizer algo.

Essa definitivamente era a maior surpresa de todas, mas não foi nem um pouco romântica.

TENTACION - O dono do Morro (ROMANCE GAY) Onde as histórias ganham vida. Descobre agora