Pela primeira vez desde que Anastasia, ainda criança, viera morar com os Bulwick, tia Hester tomava seu partido em uma desavença com as primas.

— Anastasia está certa, Clemmie, sua tolinha. Nenhum homem com um título desses e com essa fortuna pode ser totalmente desagradável. Eu gostaria que minhas filhas tivessem metade do juízo de sua prima para aceitar um casamento tão vantajoso, em vez de ficar flertando com músicos italianos pobres ou coisas do gênero.

As duas fizeram biquinhos idênticos e fitaram a prima com raiva.

Anastasia não podia acreditar em seus ouvidos. Havia quanto tempo lutara, sem esperança e sem sucesso, para conquistar a afeição da tia? Uma pena que o afeto fora concedido tarde e por atos dos quais não se orgulhava.

— Minha querida, a data do casamento já foi marcada? — Tia Hester abanou-se com maior rapidez.

— Milorde não tomaria essa atitude sem consultar a família, não é? — lorde Bulwick resmungou.

— Talvez não oficialmente — lady Bulwick usou de rispidez e fitou o marido com severidade. — No entanto todos os noivos comentam entre si qual a data provável do casamento.

Christian dissera que qualquer homem poderia dar prazer a uma mulher. Contemplando seus tios, Anastasia duvidou ainda mais da afirmativa. Não podia imaginar tia Hester entregue aos delírios do êxtase, ainda mais tendo um marido com cara de presunto.

Será que lady Bulwick tinha idéia do que perdera ao longo da vida?, Anastasia cogitou. Será que tia Hester se ressentira com os filhos da irmã por serem as crianças fruto de um casamento por amor e recordar-lhe o que lhe fora negado?

— Lorde Grey e eu ainda não fizemos planos de nenhuma natureza. — Depois do que acontecera entre eles, não teriam de casar-se? Assim que a raiva de Christian cedesse... se é que cederia. — Nada pode ser decidido enquanto ele estiver de luto por seu avô.

A família inteira endireitou-se nos assentos. Lorde Bulwick pareceu ainda mais indignado.

— O conde morreu? Quando foi que isso aconteceu e por que não fui informado imediatamente?

Anastasia preparou-se para uma resposta ríspida, mas tia Hester interrompeu-a, antes que se metesse em mais encrencas.

— Então Grey será o novo conde e nossa querida Anastasia será uma condessa! — A novidade agiu sobre mi-lady como um tônico. — Pense bem, lorde Bulwick, como nobres de alta classe, eles poderão dar oportunidade às nossas meninas!

— Mamãe, eu não quero que a prima Anastasia arranje nenhum casamento para mim! — Clemmie gritou, enquanto Cammie anuía com gestos vigorosos de cabeça. — Ela só irá arrumar velhos para mim. E... e aleijados e cegos e...

— Veja lá como fala, Clemence! — lady Buiick repreendeu a filha de maneira brusca. — Chegará o dia em que ainda irá agradecer o patrocínio de sua prima.

A altercação deixou Anastasia com o estômago embrulhado e a cabeça latejando. Gostaria de poder tampar os ouvidos e sair correndo da sala. Em vez disso, respondeu à pergunta de lorde Bulwick.

— O conde adoeceu de repente e não houve como salvá-lo. Ele será enterrado amanhã. Agora, se milorde me permitir, gostaria de retirar-me.

— Claro, minha filha. — Tia Hester levantou-se da cadeira com rapidez e abraçou Anastasia pelos ombros. — Imagino como deve estar acabrunhada. Sei que era uma grande amiga do conde. Ah, eu lhe trouxe um presente encantador da Áustria. Eles fazem chocolates divinos. Eu me lembrei da sua predileção por eles.

— Mas não eram para ela! — Cammie lamentou-se, mas ficou calada, depois do olhar fulminante da mãe.

Não tinha importância. Anastasia sabia que as guloseimas

Lord Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora