Christian invejou as memórias do garoto.

— Agrada-me muito sua ansiedade em seguir os passos dele. Eu me sentia da mesma forma em relação a meu pai. — Alguma coisa o fez prosseguir, depois de uma ligeira hesitação. — Se nossos pais estivessem vivos, acredito que eles nos teriam encorajado a seguir outros caminhos na vida.

Como tantas viúvas de oficiais, desesperadas para santificar suas perdas, incentivavam os filhos a entrarem para o Exército quando cresciam?, Christian ficou intrigado.

A mãe dele, certamente. A sra. Steele também?

— Não importa. — O rapaz sacudiu a cabeça. — Prestar o serviço militar é tudo o que eu sempre quis fazer.

— Nesse caso... — Christian dominou o sentimento de

culpa sobre o que iria propor. — Estou pretendendo comprar-lhe uma patente, se isso for do seu agrado, é claro.

— Não!

A reviravolta repentina após a ansiedade anterior pegou Christian de surpresa.

— Mas não acabou de dizer...

— Eu disse que queria entrar no regimento a que meu pai pertenceu. — O desejo era evidente nos olhos castanhos e ingénuos de Miles Steele que lembravam tanto os de Anastasia. — Eu não falei que queria vender minha irmã por causa de uma patente.

— Vender quem? — Christian teve a impressão de sentir uma chicotada no rosto. — Esse comentário é uma demonstração cabal de insensibilidade, meu jovem!

— Seja como for, esse foi o motivo por que Anastasia concordou em casar-se com milorde, não foi? — Embora receoso, o rapaz deu um passo na direção de Christian, recusando-se a ser intimidado. — Ou o senhor fez isso por mim?

Christian virou a cabeça e deparou com o olhar indignado do rapaz. Seu orgulho remoeu-se à sugestão de que nenhuma mulher casar-se-ia com ele se não fosse o atrativo de sua fortuna, embora ele houvesse garantido para si mesmo aquela dedução óbvia várias vezes. Teria sido uma tentativa inútil de endurecer o coração à espera do dia em que ouvisse a acusação de outra pessoa?

— Meu rapaz, percebo que acredita na preocupação da srta. Anastasia a seu respeito. Contudo quer me parecer que não está levando em conta o bom senso e a integridade dela. — Christian estava agradecido a Anastasia por permitirlhe dizer apenas a verdade. — Quaisquer que tenham sido as razões que levaram a srta. Anastasia a aceitar meu pedido, ela recusou meu oferecimento para comprar-lhe

uma patente. Fui eu quem insistiu. Porém se prefere trabalhar como um funcionário glorioso em algum escritório abafado da cidade, fique à vontade.

.— Não! — Miles Steele gritou pela segunda vez em alguns minutos. Com uma diferença. O tom implorativo substituíra a indignação anterior. — Talvez eu tenha sido muito precipitado. Não quero que Anastasia assuma um compromisso com o senhor por minha causa. Se milorde tivesse uma irmã, creio que me entenderia.

Christian vira muitos homens ansiosos para sacrificar a felicidade de suas filhas ou irmãs em proveito próprio.

— Eu entendo, meu rapaz, e louvo a sua atitude.

— Se milorde gosta de Anastasia e ela retribui esse afeto, então eu fico muito agradecido que o senhor tenha feito a ela um pedido tão honroso. — O rapazote deu um sorriso franco e simpático, e estendeu a mão para Christian. — Eu sempre acalentei o desejo secreto de ter um irmão.

Christian também. Ainda assim, hesitou em apertar a mão de Miles Steele. Sentia-se muito mal em ter de confirmar todas aquelas falsidades inocentes em que o garoto estava ansioso para acreditar.

Lord Christian GreyWhere stories live. Discover now