- Não foi nada. - respondeu colocando o celular de volta na mesa.

        - O que eu menos vejo é você não sorrindo. Tem certeza que não foi nada?

        - Tenho. - o rosto dele dizia outra coisa.

        - Owen?

        - São só uns idiotas que aparecem de vez em quando, é normal, tá tudo bem.

        - Como assim?

        Owen pegou o celular e entregou na minha mão, havia uma notificação de comentário na foto que ele tinha postado com a gente mais cedo. Era uma conta com um nome totalmente falso, estava escrito "Olha só, e não é que o viadinho tem amigos? Aposto que paga pra eles fazerem companhia hahaha". Eu fiquei encarando aquele comentário, lendo de novo e de novo, qual era o propósito daquilo?

        - Isso acontece sempre? - perguntei devolvendo o celular, eu me sentia tão mal pelo que tinha lido que ficou até difícil de me expressar.

        Owen balançou os ombros e tomou um gole de suco.

        - Antes acontecia mais, agora pelo menos é só pela internet. - eu não sabia dizer o que havia em seus olhos, era como se ele se esforçasse para não se importar, mas aquilo ainda o machucava.

        - Diziam essas coisas pra você?

        Ele olhou pra mim, cerrou os olhos e sorriu de lado.

        - Você não conhece muitas pessoas homossexuais, né? - me perguntou.

        - Pra ser sincero, eu sou bem de fora dessa realidade. Você é a primeira pessoa próxima a mim que é.

        - As pessoas falam coisas ofensivas na sua cara sem motivo algum, elas te tratam como um alienígena e se vêem no direito de te agredir como bem quiserem. - Owen encarava o copo como se ali dentro estivesse a coisa mais incrível que já tinha visto - Pra ser bem sincero, eu dei sorte. Na época da escola eu era capitão do time de basquete, então as pessoas até que me respeitavam, aí eu só tinha que lidar com isso fora da escola. Depois que comecei a namorar o Chris as agressões e ofensas na minha cara pararam, ninguém quer se meter com o "Christian". Então eu só tenho que lidar com essas mensagens e comentários anônimos. Mas não é todo mundo que tem esses privilégios, sabe? Ainda tem muitos dos nossos que morrem por aí por simplesmente serem quem são, ainda tem muita gente que tem medo de sair na rua com a pessoa que ama ou até mesmo de sair pra se divertir com alguém e outra pessoa de fora resolver bater neles... toda vez que eu penso nisso eu me sinto impotente e pequeno. Eu faço o que posso pra mudar esse cenário, mas sou só um.

        - Se... tiver algo que eu possa fazer, é só me falar.

        Owen voltou a olhar pra mim e sorriu.

        - Eu acredito na conversa, só de se conscientizar e passar pra frente a conversa você já vai estar ajudando bastante.

        - De certa forma, é engraçado como existem tantas realidades diferentes daquela que a gente tá acostumado.

        - Pois é... - Owen colocou o copo vazio na mesa e se ajeitou no banco - Desculpa pelo elefante que coloquei em cima da gente.

        - Tudo bem. É bom falar sobre esse tipo de coisa. Também é bom pra me puxar mais pra realidade e ver minha vida por um outro ângulo.

        - Está falando da Jessie?

        - Também. É só que... tudo poderia ser mais difícil e eu fico aqui me lamentando e tornando minha vida complicada por conta própria.

Estação AzulWhere stories live. Discover now