Era um lugar calmo e, obviamente, estava vazio. Pelo pouco das ruas e casas que consegui analisar, pude constatar que era um bairro de pessoas no mínimo bastante ricas.

Tirei meu livro, um dicionário e uma caneta da bolsa, colocando tudo em cima da mesa e sentando em um dos quatro tocos de madeira que serviam como bancos.

Graças a Shawn, tive que procurar por algum tempo a página na qual havia parado a leitura. Sentindo o cheiro e ouvindo o barulho da chuva, consegui relaxar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. Tudo parecia tão calmo e fácil. O lugar era lindo, a grama era bem aparada, de um verde vivo. As gotas, agora mais grossas e em maior quantidade, caíam pesadamente na superfície do enorme lago que ficava no centro do parque. Aquela atmosfera me contagiava e, naquele momento, aquele lugar era o melhor lugar do mundo para se estar.

Vi alguém correndo através da espessa cortina de chuva, se abrigando em uma das mesas cobertas que ficava do outro lado do parque. Sorri sem nenhum motivo. O homem, como pude constatar depois de alguma análise, retirava seu casaco de couro e balançava seus cabelos molhados como um cachorro que acabara de sair do banho.

Voltei meu olhar para o livro e retomei a leitura. Poucos minutos depois meu celular emitiu um som fraco e morimbundo, me avisando que a bateria tinha se esgotado.

— Ótimo. Nada como paz. - Falei, em voz alta.

— Eu concordo.

Pulei de susto ao ouvir a voz falando imediatamente atrás de mim, num tom suficientemente grave para não ser encoberto pelo barulho forte da chuva.

Era uma voz masculina. Uma voz bonita, incisiva e poderosa. Aquele tipo de voz que você imagina que um homem lindo tenha, e pelo fato de ter estado pensando naquela voz de cinco em cinco minutos, quando me dispersava da história de Jane Austen à minha frente, não precisava nem me virar para saber quem era o homem que se encontrava a pouco menos de um metro de distância de mim.

Mesmo assim me virei, encarando aqueles olhos que agora estavam de um dourado fluorescente. Ele estava ensopado da cabeça aos pés e trazia uma revista enrolada completamente molhada e mole em uma mão e, na outra, seu casaco.

Normalmente, quando era pega de surpresa, eu demorava um pouco para formular uma frase. Nesse caso eu tinha acabado de ser pega de surpresa por Shawn, o que fazia com que minhas tentativas de falar alguma coisa coerente fossem ainda mais fracassadas. Porque Shawn me deslumbrava naturalmente, me pegando de surpresa ou não.

— Você... O que... - Tossi, limpando a garganta. - O que está fazendo aqui?

— Eu é que pergunto. Aqui é um pouco longe de onde você mora.

— Eu queria sair... Ler um pouco... Fugir um pouco...

– Entendi.

Eu ainda não sabia o que ele estava fazendo ali. Não acreditava em coincidências, muito menos em destino.

—O que está fazendo aqui? - Repeti.

— Eu fui até a banca comprar uma revista, e aí o céu desabou em cima da minha cabeça. Então atravessei a rua e vim correndo pra cá. Fiquei em baixo daquela proteção do outro lado do parque e te vi. Bom, pensei que fosse alguém parecido com você, mas não pude dizer com certeza. Então vim verificar, e aqui estou.

𝐒𝐮𝐝𝐝𝐞𝐧𝐥𝐲 𝐋𝐨𝐯𝐞 Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz