Capítulo 11 - Inside the Past

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-Bom dia... - Sussurrou a voz em seu ouvido fazendo-a despertar de vez.

-Asami? O que faz aqui? - Assustou-se com a mulher deitada na cama e então olhou em volta notando estar no quarto principal - Aliás, o que eu faço aqui? Como vim parar aqui?

-Ué.. É o nosso quarto. Tá tudo bem? - Perguntou preocupada sentando na beira da cama – Esse é o nosso quarto e a nossa cama, o que há de estranho estarmos as duas nela?

-Não é isso, é só que... pera, você se lembra de tudo?

-De tudo o quê? Eu esqueci de algo importante? - Era perceptível que Asami estranhava o comportamento de Korra aquela manhã e com isso levantou-se indo até ela preocupada.

-De tudo, sobre nós, sobre tudo o que ocorreu em nossas vidas e você não se lembrava! Por Raava, caiu minha ficha! Você se lembrou de tudo! - Abraçou Asami fortemente e mesmo sem entender a mesma apenas correspondeu.

-Não sei o que deu em você mas exijo que hoje fique em casa e descanse, as exigências de ser Avatar estão lhe consumindo – Beijou a bochecha de Korra e então separou-se afastando-se dela e então Korra notou de que ela estava acordada a muito tempo visto que teve tempo de fazer sua higiene e aprontar-se para o trabalho – Toma um banho e apenas descanse.

-Certo.. - Antes que Asami saísse a mesma foi até ela abraçando-a por trás.

-Korra, o que há com você?!

-Nada, apenas saiba que eu amo muito você.

-Também amo muito você, agora me larga e vai tomar banho.

-Tá bom, eu hein.

E mesmo com a garota fora de suas vistas isto não foi o suficiente para diminuir sua felicidade naquele momento. Acordar e descobrir que agora ela lembrava de tudo e que todos os problemas foram apagados em apenas uma noite, tamanho acontecimento não havia sentimentos que fossem suficientes para expressar o que ela sentia naquele momento, e nem ela sabia expressar o que era aquela sensação estranha e boa que residia dentro de si naquele momento.

-Céus, ela lembra de mim! - E com um sorriso no rosto dirigiu-se para o banheiro.

Tinha posto roupas largas e confortáveis, aceitaria a recomendação de Asami de ficar em casa, melhor ainda, faria toda a família tirar aquele dia para ficarem juntas só por um momento, mesmo que fosse por um dia.
Caminhou-se para onde elas se encontravam, todas as três sentadas em seus devidos lugares desfrutando da primeira refeição do dia.

-Bom dia! - Respondeu animada sentando-se ao lado de Asami e ficando de frente para as filhas.

-Bom dia, mãe - Respondeu Kira, sorridente como sempre mesmo aquela hora do dia, ao contrário de Ashrah que as vezes acordava de mau humor.

-É, bom dia.

-Está tudo bem, querida? Está estranha hoje, oh, e vejo que aceitou o meu conselho de tirar um dia para descanso.

-Aham e tive a ideia de todas nós fazermos isso.

-O que? Não, não posso, tenho muito trabalho!

-Ah, qual é? um dia só não fará a empresa falir, aliás, pra que contratou as pessoas para trabalharem para você se não pode faltar?

-Talvez porque eu seja a chefe – Respondeu com um bom humor para ela que apenas cruzou os braços.

-É, vamos faltar hoje! Assim todas nós podemos assistir a estreia do Caça-Dobras!

-O quê?

Agora havia algo dentro de si que Korra poderia dizer que sentiu como a sensação do D’javu, algo que lhe desperta e te faz ter a sensação de que tudo que está acontecendo agora, ocorreu no passado. A sensação de ter vivenciado aquele momento.

-Não, Ashrah, já estreou, não lembra que assistiu na casa do tio Bolin?

-Mamãe, ela tá me chamando de mentirosa!

-Korra, você está bem mesmo? - Virou-se para ela mais uma vez preocupada e tocou em sua testa - Você nunca ficou doente mesmo, talvez só esteja cansada ou estresse.

-Não é nada. Talvez eu deva mesmo ficar em casa e descansar.

Seria tudo aquilo um sonho? Mas qual seria a realidade, a qual a mulher do seu lado não lembra nada ou essa no momento? Estava confusa demais.

-Vou atender ao seu pedido e ficar aqui, você está muito estranha – Seu olhar foi para as duas garotas que a olhava confusa - Vão lá levar a Naga pra tomar um banho de piscina – Elas apenas concordaram e saíram da mesa deixando as duas a sós – Algo aconteceu?

-Não, eu já disse, eu estou bem. Apenas cansada mesmo, apenas isso.

A única alternativa para Asami foi concordar, sabia que quando fosse o momento Korra sempre vinha até ela contar o que a incomodava. As duas eram assim, estavam abertas uma para outra, compartilhavam tudo entre si, seja lembranças, momentos felizes, conversas aleatórias ou apenas estavam lá para escutar as aflições uma da outra, não importa o que mas estavam lá.

-Eu estava pensando ontem em tirarmos férias, apenas nós duas. Não sei, sinto que há momentos em que devemos reacender as coisas ou fazer algo novo, diferente, criar novas lembranças sabe? E daqui a alguns meses é o nosso aniversário de casamento podemos achar uma desculpa para a nossa escapada. Korra, você está me escutando?

-Estou sim...

-Não sei, você nem ao menos reagiu com a minha ideia, parece até que não gostou.

-Eu adorei, só que... eu não sei... quando sugeriu isso... já sentiu alguma vez que algo que está vivendo agora já aconteceu em outro momento?

-Como?

-Não sei explicar, mas parece que você já tinha falo isso para mim. Acredita em d’javu? Ou em sonhos premonitórios?

-Okay Korra, você está me preocupando, ligarei para a Kya e perguntarei se ela pode vim para dá uma olhada em você.

Assim que fechou a boca a correria de um de seus empregados surpreendeu as duas e para Korra era como se soubesse o que ele iria dizer. Se for de fato isso, ou ela estava louca ou ninguém nunca contou que os Avatares tinham mais habilidades além de controlar os quatro elementos.

-Beifong no rádio, ela disse que é urgente!

-Calma, conta o que aconteceu? – Pediu Asami e logo o rapaz explicou da melhor forma possível. E mais uma vez a previsão de Korra estava certa, estava acontecendo mais uma vez o dia mais temido da sua vida – Okay, peço que todos cuidem das meninas, Korra e eu iremos ajudar. Preciso da minha luva de choque.

Aquilo passava lentamente pelos olhos de Korra. Teria ela de alguma forma mística voltado ao passado dando a chance  dela mudar tudo? Ou talvez algum Avatar esqueceu de avisá-la que eles eram capazes de prever o futuro? Talvez agora não tinha as respostas mas aproveitaria aquela chance para fazer tudo diferente.

-Não, você não vai! - E aquilo assustou Asami, afinal não era do tipo dela a proibir de algo mesmo dada as circunstâncias do momento – Por favor, você não pode ir.

-Tá louca? Korra, está acontecendo um grande conflito na cidade, tem vidas inocentes e dos nossos amigos em jogo e você não quer que eu vá? Não responde, temos que ir! - Foi impedida de sair pela mão dela que a segurava - Está ficando louca? Korra, você é o Avatar, o tempo que está perdendo aqui poderia ser gasto ajudando!

-Não Asami, você não me ouviu. Você não pode ir lá, vai acabar se machucando feio.

-Já passei por coisas piores, enfrentamos muitas coisas e não será agora que deixarei de ajudar.

-Tudo bem, apenas me prometa que não saíra do meu lado de jeito nenhum.

-Eu prometo – E foi então que deu um pequeno beijo nos lábios de Korra – Para dar sorte.

As vezes promessas não podem ser cumpridas e destinos não podiam ser mudados, era o que aquela Korra sentia no momento em que tinha o amor de sua vida em seus braços desacordada.
Já a Korra que despertará ofegante e assustada esperava que estivesse errada a concepção de que essas duas coisas não podiam ser mudadas, esperava que promessas pudessem ser cumpridas e destinos mudados.

-Essa culpa está acabando comigo.

Falou para si mesma ofegante enquanto sentava na beira da cama e ligava o abajur do criado-mudo. Pôs as mãos sobre o rosto e curvou-se um pouco enquanto regulava a sua respiração.

-Mãezinha? - A voz da menina chamou a sua atenção - Posso dormir aqui? Tive um sonho ruim.

Notou que Ashrah trazia consigo o seu cobertor e um urso de pelúcia que um dia pertencerá a sua irmã mais velha.
Korra apenas fez sinal para que ela se aproximasse, e quando feito ajudou a garotinha a subir na cama.

-Pode sim. Mas por que não foi dormir com a Asami? - Perguntou curiosa, afinal a mais nova era mais apegada a outra mãe.

-Ué... por que você é o avatar e a minha mãe, então me protege em dobro – Deu de ombros.

-Sim, sim, irei protegê-la de todos os sonhos ruins.

E por um momento Korra esqueceu aquele sonho ruim que a pouco tivera e agarrou-se na necessidade de proteger o pequeno ser ao seu lado que também temia o mesmo que ela, o sonho ruim.
Aconchegou-se a Ashrah após apagar a luz e então fechou os olhos sentindo-se mais segura.

.....

Se a noite não fora boa para Korra por outro lado o dia tende a piorar. Sentiu o seu coração acelerar quando ao abrir a porta deu de cara com a última pessoa a quem não deveria ser vista: Kuvira.
Essa por outro lado divertia-se com o desespero de Korra e sem esperar que voltasse a reagir, entrou fechando a porta atrás de si.

-Soube do que aconteceu.

-Eu não sabia que você viria, não previa isso.

-E qual foi o dia da minha vida que eu cheguei a avisar algo? Ainda mais para você - Ergueu uma das sobrancelhas – E como havia dito, soube o que ocorreu. Como ela está?

-Contei para ela sobre Hiroshi e como previsto não reagiu bem. Acho que não seria uma boa ideia vê-la.

-Vim com objetivo de enfrentar o passado mais uma vez, sendo bom ou não o momento, quero resolver as minhas pendências, não sou de fugir – A sua postura era séria, como sempre fora.

-Eu não sei se é uma boa falar com ela, que dizer, eu não sei...

-Bom, ainda bem que não é você quem decidi sobre nós duas.

Que mais surpresa teria mais tarde? Esperava que não houvesse nenhuma.
Ao ver Kuvira dirigir-se por onde encontraria Asami, ela nada disse, afinal era um assunto das duas que não podia mais ser adiado. Sem  contar que tinha uma pendência e tinha em mente a última chance em poder ajudar Asami com o seu problema e era isso que faria.

.....

-Entre - Após isso as batidas na porta cessaram.

Estava em seu escritório para mais um dia de trabalho, não estava bem para enfrentar a jornada na empresa e também não estava com ânimos para se manter inerte dentro de casa, manter-se ocupada a evitaria de pensar nos problemas.

-Asami, vim aqui para conversamos.

Dito isso a mulher virou-se para frente dando de cara com Kuvira, que até então não sabia nem o seu nome.

-Eu tenho uma vaga impressão de que a conheço... - Estreitou os olhos, observando-a dos pés a cabeça - Trabalha para mim?

-Ainda bem que não. Eu sou a Kuvira.

Foram poucos minutos de silêncio que no momento de tensão pareciam horas. Apesar da distância estavam uma de frente para a outra.

-O que você faz aqui? Veio fazer o mesmo que fez ao meu pai?! - Era notável a raiva que sentia naquele momento.

-Não me orgulho disso. Apenas vim para acertar as coisas, mais uma vez.

-Sei que já te perdoei uma vez, mas a Asami que fez isso é diferente da que é agora.

-Não, não é. Apenas estar confusa, esquecida e furiosa. Mas são as mesmas.

-E quem você acha que é para afirmar o que eu sou ou deixe de ser? O que esperava? Que lhe desse um abraço e pedir para me contar como foi matar o meu pai?

-Sou a sua amiga. E não esperava nada, apenas que escute o meu lado, e que saiba por mim tudo o que ocorreu. Me perdoar mais uma vez ou não, isso aí já é um direito seu – Mantinha como sempre a sua postura séria mas que logo suavizou-se com o sinal dado por Asami para que ela continuasse.

-Não tenho muito tempo, tudo o que tiver para me dizer, que seja rápida e logo que terminar se retire.

Kuvira apenas concordou e sem rodeios foi direta ao ponto. Iniciou com a queda da Rainha da Terra que foi o pivô de tudo, que deu ao nascimento da Grande Unificadora do Reino da Terra, prosseguindo para então suas conquistas em cada estado, indo para Cidade República e lá dando o fim a Hiroshi Sato assim como muitas vítimas. Nesse último escutou a respiração profunda de Asami, mas continuou.
Com a queda do Império da Terra veio a sua prisão mas que durou pouco, o Reino da Terra ainda encontrava-se em confronto mesmo com Príncipe Wu decretando o fim a monarquia, ainda restava um pequeno grupo do Reino da Terra que mesmo com a queda de Kuvira ainda queria reconquistar tudo. Foi aí que contou-lhe que começaram a se aproximar, tendo em vista que foram obrigadas a trabalhar juntas mas se odiando.

Com o fim de tudo veio o perdão para Kuvira, não só da família que a acolheu mas como também de Korra e Asami, teve a sua pena reduzida e desde então se redimiu com todos. Esse foi apenas o começo mas aquilo tudo bastava.

-Se quer saber do resto, você mesma descubra – E com isso saiu deixando-a sozinha com os seus pensamentos.

.....

-Ela é tão lindinha, qual o nome? - Referia-se ao bebê em seu colo – Mas o previsto não era para daqui a um mês?

-Kai e eu, ainda não entramos em acordo com o nome, quero algo que tenha significado com a cultura nômade. E sim, mas ela resolveu adiantar-se – Sorriu.

Jinora e Kai são os pais do bebê que Korra tinha nos braços, a mesma tinha sido pega de surpresa ao dar de cara com o bebê que só esperava conhecer no próximo mês. O casal ainda possuía um filho mais velho, da mesma idade que Ashrah.

-Ela é muito fofa, tão fofa e radiante como um girassol – Virou-se então para a melhor amiga – Nunca diga a Ashrah que eu falei disso, da última vez que mimei filho de outro ela tocou fogo nas minhas roupas.

-Ela é um pouco esquentadinha...

-Não imagina o quanto – Caminhou até Jinora devolvendo-a o bebê - Agora preciso falar com o seu pai, mas passo aqui para me despedir de você e da Himawari.

-Himawari?

-Himawari? Que ótimo nome você deu para ela.

-Que??!

-Até mais Himawari!

Apenas sorriu para as duas e saiu de lá em busca do seu ex-mestre espiritual e de dobra de ar.
Não demorou muito para encontrá-lo em uma sala com crianças que faziam parte da nova Nação do Ar, ou melhor, os descendentes deles.

-Certo, crianças, dispensados – Pouco a pouco a sala foi esvaziando – A que honra devo a visita do Avatar?

-Coisas...

-Certo, conte-me o que lhe incomoda.

-Certo – Respirou fundo – Lembra quando eu perdi a memória após ser atacada por um espírito sombrio mas daí magos do fogo ou sei lá como se chamam me fizeram recobrar tudo e conhecer Raava e Avatar Wan? Então eu lembrei deles e pensei, por que não ajudar a Asami? - Disparou tudo de uma só vez.

-Calma Korra, estou velho demais para te acompanhar! - Segurou a sua barba de forma pensativa - É algo que não pensamos e nem sequer conhecemos, mas se há uma chance não custa nada tentar. Tem todo o meu apoio para isso.

-Obrigada por isso. É a minha única chance e eu faria tudo por ela, daria tudo para vê-la bem, para tê-la de volta – Suspirou e logo teve as mãos de Tenzin confortando-a – falarei com ela sobre isso amanhã, hoje a Kuvira apareceu e então sabe no que deu, Asami não me disse nada e também respeitei o seu espaço.

-Vai ficar tudo bem, Korra.

-Espero que sim.

-Vai ficar quanto tempo fora? precisará de ajudar com algo?

-Não sei quanto tempo, mas o quanto for preciso, deixarei as meninas com Kya e Lin e só preciso de uma favorzinho seu.

-Qual?

-É que... como ficarei afastada, Jinora terá que ficar afastada também... acontece que alguém terá que representar o Avatar.. - Forçou um grande sorriso convincente.

-Só desta vez porque é por um bom motivo.

-Você é o melhor! - Jogou-se nele o abraçando.

-Agora levanta daí e vai trazer a sua esposa de volta!

-Ou tentar...

-Otimismo Avatar!

-Certo, certo!

Se daria certo ou não tudo dependeria das pessoas que as ajudariam, e da própria Asami. Mas para Korra aquilo serviria como a prova do amor dela para Asami, apenas um pequeno gesto.




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