Agridoce

Capítulo Único: Veneno

As frias madrugadas de setembro não costumavam ser um problema para Jason. Agora, naquele frio galpão, eram.
Não que elu fosse friorente, muito pelo contrário. Sempre preferiu climas mais frios. A grande questão ali era: sentia falta de Percy. Sentia falta daquele que esquentava os tempos mais frios do seu coração.
Tremeu.
A janela aberta não era uma boa ideia. Nunca fora. Sua mãe estava constantemente reclamando com elu por conta disso. Dizendo coisas como: “você vai adoecer”, “alguém pode invadir”.
Suspirou. Nada disso aconteceria. Era quase impossível alguém daquela cidade pacata enfrentar Jason. Não depois do que tinham visto naquela tarde.
Os olhos, agora vermelhos, du garote encararam a rua mais uma vez. Ele não viria. Não hoje. Não depois... Daquilo. Passou a mão nos longos fios loiros. Precisava cortar. Percy tinha dito que cortaria para elu. Bem, não havia mais Percy.
Riu baixo. Era um monstro. Daqueles no sentido literal. Sem figuras de linguagem aqui.
Sentia ânsia por sangue humano. Mas não pelo dele. O sangue de Percy era agridoce, como café preto com açúcar. Sua boca explodiu em mil e uma sensações quando o líquido tocou suas papilas gustativas. Tinha gostado. Tinha tornado aquilo real. Não tinha mais saída.
Lembrou do olhar desesperado do loiro embaixo de si quando suas presas desciam. Era assustador. Percy nunca mostrara aquele olhar para elu. O terror não demorou para se espalhar. No momento em que todos ali presentes perceberam o que realmente estava acontecendo. Pode ouvir os gritos.
“Ele está matando-o". Não era ele, mas sugava a vida de Percy aos poucos.
Os dois faziam um piquenique. Juntos há cinco anos.
— Eu poderia te pedir em casamento agora — disse Percy.
— E eu poderia te beijar agora — Jason respondeu se aproximando.
Preferia nunca ter se aproximado tanto.
Sentiu uma lágrima solitária descer. Estava com medo. Com saudade.
O corpo mole de Percy embaixo de si foi o que fez Jason acordar do transe. Matara o amor da sua vida. Muito além disso: tinha tornado a coisa mais terrível da sua vida real.
Era ume vampire complete agora. Não tinha como voltar atrás.
Matara seu namorado.
Monstro.
Amaldiçoou mentalmente o dia em que morrera. Amaldiçoou também o maldito vampiro que lhe devolvera a vida. Que lhe tornara meio-humane sob uma condição: se provasse sangue humano deixaria de ser humane. Quis morrer. Mas não morria.
— Você é mal-agradecide — disse o loiro debochado a sua frente — Eu salvei sua vida, deveria estar feliz.
— Saia daqui, Octavian. Eu sou um monstro por sua causa. — a ira em sua voz era perceptível.
— Eu não te obriguei a beber o sangue dele.
— SUMA.
O loiro revirou os olhos. Um dia Jason agradeceria a ele. A imortalidade era linda.
Jason tinha conseguido fugir das pessoas nervosas. Octavian ajudara mais uma vez. Ambos se esconderam num galpão frio. Jason sequer sentia frio mais. Estava oco. Vazie. Queria voltar no tempo. Preferia ter morrido naquela noite do que ver seu amado morrer. Que matá-lo.
Suspirou novamente.
— Oi.
Virou-se. Era Percy.