— Cinco. Minutos. — A mulher rosnou, entredentes.

— Não vai rolar — respondi. Devolvi seu celular e voltei a me enrolar, tentando parecer despreocupado. — Estou preso aqui com você.

Ela começou a hiperventilar. Parecia que eu tinha dito que uma bomba iria estourar em Nova York. Ela correu até a janela da sala e olhou para fora.

— Por que estou recebendo esse castigo, meu Deus? — A ouvi suspirar.

Então sussurrei a mesma pergunta.

Não queria mesmo atrapalhar a noite delas. Não era minha intenção ser uma praga desgraçada que se instala na sua casa sem seu consentimento, mas eu não tinha muita escolha, tinha? Entre incomodar e sobreviver, eu preferia ser um pé no saco.

Deitei a cabeça no encosto duro do sofá desconfortável e pequeno. Me coloquei a pensar radicalmente. Sou um empresário de 36 anos, que conquistou tudo o que tem com a mente brilhante, com um histórico acadêmico invejável e a lista de derrotas zerada. Eu posso sair desse fim de mundo.

Senti alguém sentar do meu lado e abri apenas um olho. A garotinha estava tão embrulhada quanto eu. Ela usava um gorro que quase escondia seu cabelo loiro curtinho. Agora, no claro, não negavam ser mãe e filha, tinham o mesmo rosto e a selvageria no olhar.

A TV foi ligada e o noticiário apareceu. Atentamente, ouvi o meteorologista falar sobre a tempestade de neve que Nova York estava enfrentando, sem esperanças de aumento da temperatura durante todo o dezembro. Seria o período mais frio do ano registrado em décadas e alguns eventos foram cancelados devido ao frio antártical.

— Que droga, hein?

Olhei para a pequena do meu lado, me encarando com seriedade.

— É.

— Estou apostando comigo mesma que minha mãe te mata antes do frio congelar a gente.

Que garota mórbida.

— Não acha que eu poderia matar ela?

— É porque você não sabe onde se enfiou. — Ela estendeu a mão enluvada na minha direção. — Sou Elizabeth, mas pode me chamar de Lizzy.

Apertei sua mão, reclamando do frio que entrou pela brecha no edredom.

— Eu sou Dean Rodwell. É um prazer, senhorita.

— Não diga isso, vai se arrepender.

A curiosidade me bateu com força. O que era raro de acontecer.

— Quantos anos você tem? Me parece pessimista demais para uma criança.

— Não sou criança. Sou adolescente. Tenho doze anos, mas minhas pernas são curtas.

— Essa é sua desculpa?

— A sua é melhor, por acaso? — Me desafiou com o olhar. Não era o mesmo verde claro da sua mãe, mas tinha a mesma intensidade assustadora. — Você vai ficar essa noite?

Olhei para a janela, mas a mulher não estava mais lá. Vi a neve caindo com perversidade do lado de fora, o frio já embaçava os vidros e escurecia ainda mais a noite.

Pensei no meu Aston Martin perdido. Já devia estar escondido debaixo de um manto branco de gelo, pelo menos assim ninguém o roubava. Suspirei ao imaginar minha cobertura no centro, meu sofá gigante e meu tão amado aquecedor, que estava do outro lado da cidade, interditado por meio mundo de neve e um possível engarrafamento.

Doía ter que dizer:

— Sim, eu vou ter que ficar aqui.

— Legal — me respondeu sem muito ânimo, trocando os canais da TV sem procurar nenhum especificamente. — Se a gente ao menos tivesse Netflix. A TV aberta não passa nada legal.

Um CEO de NatalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora