Vigésimo Primeiro

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As coisas mudam, se alteram e muitas vezes não estamos preparados para isso. Vivemos nossas vidas planejando o futuro, pensando em como tudo pode dar certo e sair como planejando. Vivemos uma fantasia, ou melhor, aspiramos a uma fantasia, o que vivemos é justamente pelo que não queremos passar: todos os empecilhos, indecisões, imprevistos, tudo que abala nosso cronograma feito a caneta em um caderno especialmente comprado para registrar nossos mais racionais objetivos.


E agora que o caderno se perdeu? Seguimos em frente. Compramos outro caderno, agora com mais tabelas e continuamos a insistir nos mínimos detalhes de cada ação, porque "não deu certo da outra vez por falta de planejamento". Nunca admitimos que não era pra ser. Achamos sempre uma forma de colocar a culpa nos números e reiniciar o ciclo. A tinta que cai sobre o papel e que desfaz é a mesma que, permite reconstruir, ou seja, construir mais uma vez, mas talvez, algo diferente.


A vida dá dessas. Nos dá sonhos puros e límpidos como a nascente de um rio que, em seu caminho até o mar, cruzará com montanhas e desertos que fazemos questão de desviar e calcular outra rota que nos levará aos mesmos desafios de antes. O caminho, com todos os seus sentidos de existir, é assustadoramente diferente do que fantasiamos, mas, ironicamente, não estaria nem nos nossos sonhos mais divinos, está muito além de tudo que pensamos almejar e compreender.


Um rio se faze por sua nascente, por seu caminho, que desbrava as paisagens mais diversas, e que, ao longo do percurso, se decompõe em dezenas de braços que, por sua vez, se unem a seus afluentes metamorfoseando todos por onde passam. Em tempos de beleza ou de trevas, os que defluem, agora vastos, continuam a refletir o céu, criando a mais bela das obras, um precioso relicário que zela todos os sonhos e as estrelas.


Uma dose de memória para embriagar a solidãoWhere stories live. Discover now