Lembranças

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__ Amamos vocês...

É tão difícil parecer forte, é tão difícil lutar quando a vida não coopera. E eu juro que estou tentando, eu estou tentando desde os quinze, não por mim, mas por Lia que precisa de segurança.

A saudade dos meus pais me consome, e lembrar deles através da Lia torna tudo mais difícil. Mas também me dá forças para continuar, até porque eu sinto a presença deles através da minha irmã.

Após uma semana trabalhando para o senhor Bettencourt, e ainda ter que me virar em sete para poder levar e buscar Lia na escola perto de Paraisopolis a única coisa que eu queria era descansar.

Aquele sábado estava me esgotando, afinal Lia estava doente, acordar cedo para atravessar a cidade a deixou resfriada. Então, eu e Cloe fomos com ela à um hospital.

__ Ela vai ficar bem.__ Disse a médica.__ Se não abaixar a febre, não se esqueça de traze-la o mais rápido possível.

__ Sim senhora. Muito obrigado.

Quando olhei a hora, vi que estava tarde. Já passava da hora do almoço, e com certeza o senhor Bettencourt já havia chegado em casa. Olhei o celular e havia varias mensagens dele. Merda.

Adentrei o apartamento e levei Lia para o quarto, ela se deitou e me esperou enquanto fui da um banho em Cloe.

__ Onde estavam?__ Ele entrou no quarto da menina.__ Te liguei, mandei mensagem...porque não respondeu...Você acha que pode sair assim com a minha filha e não me dar satisfação alguma? Você acha que só porque Cloe gosta de você, tem algum poder sobre ela? Você não é a mãe dela, e se acha que pode ficar subindo e descendo com a minha filha atrás de macho, esta muito enganada...__ Palavras machucam.

__ Eu fui levar minha irmã no hospital...__ Falei tentando não chorar...__ A emergencia estava cheia, por isso demoramos. Eu deixei um bilhete.__ Virei-me para ele.__ Sinto muito, mas a minha irmã é tudo o que eu tenho de importante, e não vou deixar de cuidar dela. Acho que o senhor pode procurar alguém que esteja inteiramente disponível a você. Eu me demito.

Deixei Cloe com ele e caminhei até o quarto, pus as coisas na mala e ajudei Lia com o banho. A febre estava baixando, o que me deixou mais aliviada.

__ Pla onde vamos?

__ Vamos para casa, descansar um pouco. Vou cuidar de você!__ Beijei sua cabeça.

__ Polque esta cholando?

__ Não é nada, Lia. Eu só estou preocupada com a sua gripe.__ É difícil mentir para ela.

__ Deborah...__ O imbecil adentrou o quarto.__ Podemos conversar?

__ Já volto meu bem. Vai ficar tudo bem tá!?

__ Tudo bem. Eu amo você Debbie.

__ Também te amo...

O delegado idiota saiu do carro e eu o segui, ele adentrou o quarto dele. Nunca havia entrado ali, e era meio constrangedor naquele momento.

__ Me desculpe. Eu nunca agi assim com alguém, nunca agi como um estúpido.

__ Não se preocupe, já estou acostumada com pessoas do seu tipo. Vou embora, o senhor não vai mais precisar olhar para a minha cara.

__ Eu...eu falhei, eu errei. E me arrependo Deborah. Eu não devia ter falado daquele jeito com você, e não tenho o direito de te tratar tão mal.

__ Mas tratou. O senhor sabe o quanto é difícil para uma garota de quinze anos ter que fugir de um orfanato para não tirarem a irmã de dois anos dela? Desde então eu venho trabalhando feito uma jumenta de carga, para que Lia não passe fome. Já saí para trabalhar em casa de madame doente pra que não faltasse comida pra Lia. Eu poderia seguí o lado mais fácil, eu poderia me prostituir. Mas eu tive uma educação exemplar senhor Bettencourt. Meus pais deixaram algo de valor para mim que vai além dos bens materiais. Eles me ensinaram a ser forte, persistente e lutar pelas coisas difíceis, mesmo quando pessoas como você pisar em mim. Eu não sei o que é cuidar de mim, não sei o que é me amar, porque eu estive ocupada demais lutando pela minha irmã. Mas o senhor se acha o tal, dono da moral, mas me diz uma coisa pela qual o senhor foi inteiramente responsável? Ser rico, delegado da Federal não te dá o direito de falar coisas ao seu respeito, seu homem das cavernas.__ Limpei uma lágrima.__ Porque eu com dezoito sou mais responsável que você. Eu não saio por aí deitando com uns e outros. Me respeite como eu te respeito. Porque que eu me lembre, quem não sabe nem como usar uma camisinha aqui é o senhor!__ Pus as mãos na cabeça enquanto ele me encarava.

__ Eu...preciso de você!__ Ele ainda me quer aqui?__ Sei que sou um retardado, infantil. Mas deixe eu me redimir. Fica aqui. Eu preciso mais de você do que imagina. Fica. Pela Cloe...por Lia...__ Quem tá precisando de grana sou eu.

Lee Fernandes...Continúa...

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Delegado Bettencourt - Volume 2Where stories live. Discover now