3 - Okarri

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- Garkh, 4 humanos estão se aproximando pelo portão principal da nossa aldeia, o que a gente faz? - disse um dos guardas responsáveis pela patrulha noturna.

- 4 humanos? O que esses filhos da puta podem querer aqui nessa hora? - respondeu o orc, e logo continuou - Eu vou lá ver

Garkh era extremamente alto e forte. Seus olhos eram pretos e seu corpo carregava mais machucados e cicatrizes do que alguém poderia contar, até mesmo os outros orcs o achavam assustador.

Chegando em cima daquele portão feito de madeira, o orc pôde ver algumas figuras se aproximando lentamente, de longe pareciam ser 4 humanos magros, mas conforme a distância foi diminuindo, Garkh teve a certeza que aqueles eram na verdade crianças orcs.

- Merda, abram o portão!

Logo as 4 crianças entraram na aldeia e Garkh, carregando uma expressão feia no rosto, caminhou na sua direção - Vocês tem merda dentro da cabeça? o sol daqui a pouco vai se pôr, mais uma hora andando por ai e vocês teriam morrido!

Encarando aquele monstro de frente as crianças ficaram assustadas, a ideia de voltar pra floresta e lutar contra animais famintos já não parecia tão ruim assim. Contudo, Liluk deu um passo a frente e contou tudo o que havia acontecido.

Ao final da história, a garota já estava em lágrimas outra vez. Mesmo Garkh, um orc experiente, ficou sem palavras. Ele encarou as crianças por algum tempo antes de dizer somente - Venham.

Os garotos caminharam por algum tempo atrás de Garkh e isso já foi suficiente pra conhecerem um pouco daquela aldeia.

Era tudo muito parecido com o lugar que eles vieram, as estradas eram de terra e as casas de madeira, talvez a única diferença seja de que aqui a quantidade de moradores é maior.

Logo eles chegaram perto de um velho orc, seus dois olhos estavam fechados e por cima de suas pálpebras haviam um mesmo símbolo, gravado com ferro e fogo. 

Seus cabelos eram longos e brancos, seu corpo também não parecia ser tão forte quanto outros adultos da mesma raça, esse era o orc mais estranho que Bordok já tinha visto.

- Sorvh, cuida desses moleques, daqui a pouco eu passo aqui buscar eles - disse o orc Garkh.

O velho orc acenou a cabeça, como se estivesse aceitando a tarefa.

A mesma dúvida pairava sobre a cabeça das quatro crianças - Como alguém cego dos dois olhos vai cuidar da gente?

Mas logo isso ficou claro, depois que Garkh saiu, o orc que não tinha olhos levantou suas duas mãos e uma luz branca cobriu as quatro crianças, seus ferimentos mais leves haviam sumidos, apenas Bordok precisou ter um dos seus braços enfaixados.

- U..uau, como isso é possível? O senhor tem mais poderes?! Parece a mágica que os humanos usam!  - disse Liluk, espantada.

Sorvh permaneceu em silêncio.

- Isso.. isso.. quando um orc fica cego... ele ganha poderes assim? - perguntou Bordok, já avaliando se valia a pena ficar cego pra ter habilidades tão legais.

Mesmo sem enxergar, Sorvh se virou e encarou o jovem Bordok como se estivesse na frente do orc mais estúpido do planeta, mas continuou em silêncio. 

Pela próxima meia hora as quatro crianças bombardearam o velho orc de perguntas sobre seus poderes, principalmente Bordok, o garoto ficou maravilhado. Quando Sorvh estava prestes a sair correndo dali, Garkh apareceu outra vez e logo eles voltaram caminhar.

Chegando na frente da maior casa que os meninos já viram até hoje, Garkh parou outra vez e disse - Chefe!

De repente eles escutaram uma voz grave que vinha de dentro dessa casa

- Entrem!

Só então Garkh continuou a caminhar, e obviamente, as crianças também.

A mobília da casa era extravagante, o que fazia grande contraste com a pobre cidade do lado de fora, haviam detalhes de cobre por toda a parte e móveis que Bordok nem sabia que existiam também. 

Mas a primeira coisa que chamava atenção depois de se abrir a porta era a figura assustador que estava sentado numa espécie de trono. Suas unhas eram longas e seus dentes tinham pelo menos o dobro do tamanho dos dentes de outros orcs, ele mais parecia uma fera selvagem. 

Aquele era o orc Okarri.

Duas orcs femininas o acompanhavam, de pé, as duas olhavam para baixo e seus longos cabelos cobriam seu rosto, uma delas parecia machucada enquanto a outra estava bem.

Garkh parou de repente, olhou por alguns segundos pra uma das orcs, deu um grande suspiro e continuou. O orc musculoso logo resumiu o que Liluk havia o contado mais cedo.

- Entendo... - disse o chefe, sem parecer estar feliz nem triste com a noticia - Vocês dois, vocês vão limpar as ruas e também vão ajudar a fazer a comida dos moradores - Okarri continuou, apontando pros dois menores.

- Você, você vai carregar os equipamentos militares e treinar com os guardas - dessa vez o chefe apontava para Bordok, ainda com uma expressão de indiferença no rosto.

O único momento que o orc mostrou algum interesse na conversa foi quando ele apontou para Liluk, a única orc feminina do grupo. - Já você... você vai ser minha empregada pessoal.

- Mas chefe, não seria melhor colocar a menina no... - antes de Garkh terminar de falar, o outro orc o interrompeu - Não! Essas são as ordens, agora saiam!

A única coisa que Garkh pôde fazer foi lançar um olhar depressivo e carregado de pena em direção a Liluk e caminhar pra fora, acompanhado pelas crianças.

- Eu disse que vir aqui era o certo! - disse a menina, que pela primeira vez no dia, tinha um sorriso no rosto.

- Liluk! Você tava certa! Vir pra cá foi a nossa salvação - respondeu Bordok. Até os dois orcs menores que eram extremamente tímidos na frente de estranhos estavam comemorando em voz alta.

O único que ficou em silêncio foi o orc Garkh, ele tinha um olhar profundo e triste, muitas vezes o orc quis falar algumas coisas, mas acabou ficando quieto.

The Legendary Orc ChiefWo Geschichten leben. Entdecke jetzt