2 - Uma nova casa...?

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Quando Bordok percebeu que os invasores começaram a entrar nas casas dos seus vizinhos, ele logo se escondeu em baixo da cama dos seus pais.

Depois de alguns minutos, o garoto pôde escutar o barulho familiar do ranger da sua porta da frente.

crrrrr

E logo em seguida o barulho de passos sobre o velho piso de madeira também chegou ao seu ouvido.

O mago de codinome Adrien entrou em uma das casas de madeira e logo passou a procurar por armas, comida, dinheiro, ou qualquer coisa que fosse possível vender dentro das cidades. Mas infelizmente, além de 5 moedas de cobre e uma picareta suja, ele não encontrou nada.

- Porra, desse jeito jeito eu não vou conseguir pagar nem pelas poções que usei pra lutar com esses monstros... - o mago estava prestes a sair quando de repente percebeu algo e parou seus passos.

Ao assistir o humano se dirigir para a porta e de repente parar, o coração do pequeno orc Bordok quase parou de bater. Ele segurou sua respiração e sua mente já se preparava para o pior.

Mas o que havia chamado a atenção do mago não foi o garoto orc, ele na verdade nem desconfiava que existia outra pessoa dentro dessa casa.

- Nossa.. esse jogo é realista demais... valeu a pena ter hipotecado a casa e me divorciado daquela mulher chata... - murmurou o mago enquanto ele encarava a cozinha. Haviam alguns animais desossados pelo chão, cadeiras arrastadas, e até mesmo algumas lenhas que pareciam ter sido preparadas para fazer fogo.

A cena imediatamente fez ele imaginar uma família que foi interrompida por alguma crise enquanto preparava comida. Ele também sentia calafrios, como se algum fantasma vingativo estivesse o encarando. Realista demais.

Mas logo ele controlou sua imaginação e saiu dali.

Foi só então que Bordok soltou sua respiração, seus olhos já estavam vermelhos de tanto encarar as costas daquele homem, seus punhos aos poucos foram se soltando e gotas de sangue corriam por suas unhas amarelas. O garoto tinha apertado tão forte seus punhos que as unhas perfuraram sua pele.

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- E ai, Adrien, alguma sorte nessa casa? - perguntou um dos homens, enquanto carregava um saco de minério de ferro sobre seus ombros.

- A sorte passou longe, esses desgraçados são mais pobres do que nós - respondeu o mago, um tanto irritado.

- E o que é esse saco na sua mão? - perguntou o outro homem.

- São as espadas que eu peguei dos meus drops e também encontrei nas casas, mas essa porcaria não serve nem pra coçar as costas. Também achei uma picareta e umas moedas. Tomara que hoje dê pra pelo menos pagar a janta. - disse Adrien.

- Hahahah. Eu nem me dei o trabalho de juntar esses drops, eu encontrei um orc velho escondido dentro de casa, depois de matar ele eu descobri que o desgraçado tem vários quilos de minério de ferro ensacado. Larga essas coisas e me ajuda a carregar, meu inventário já ta cheio.

Os olhos do mago brilharam, sem nem pensar duas vezes ele largou tudo e colocou um daqueles sacos no ombro. Em geral, magos não tem força de sobra pra carregar muito peso, mas como diz o ditado, pelo dinheiro certo até o gato ruge feito leão.

Depois dos quatro homens se encontrarem outra vez, eles discutiram rapidamente os lucros e prejuízos do dia, reclamaram algumas vezes da pobreza dessa vila e logo partiram pelo mesmo caminho que vieram.

Bordok ainda sim esperou mais algumas horas, só quando ele teve absoluta certeza que os humanos já haviam partido que o garoto se afastou do feno que cobria seu corpo e saiu de baixo daquela cama.

A primeira coisa que Bordok viu ao colocar os pés fora de casa foi uma cena que ficaria gravada na sua mente pelo resto da vida. Os corpos dos 17 orcs derrotados formavam uma grande poça de sangue, o garoto ficou paralisado enquanto assistiu as outras 3 crianças sobreviventes chorar e gritar.

Esses eram os filhos dos orcs que agora estavam mortos, seus pais haviam lhes instruídos a se esconder, assim como os pais de Bordok fizeram. 

A que parecia estar mais abalada foi justamente a filha da orc que algumas horas atrás apertava as bochechas de Bordok e falava de casamento, Liluk. As outras 2 crianças eram muito novas para entender realmente o que aconteceu, mas Liluk já tinha 15 anos. 

Bordok tinha completado seus 13 anos recentemente e treinava para ser um forte minerador, por isso tentou manter a imagem de forte e passar segurança aos seus amigos, mas logo o garoto não suportou e desabou em lágrimas.

Foi só depois de muito tempo que os garotos voltaram a encarar a realidade, a menina Liluk foi a primeira a falar.

- M..meninos, o que a gente vai fazer agora? Pra nós, sozinhos, é impossível viver aqui. Como vamos lidar com os animais selvagens? Como a gente vai cozinhar? Conseguir comida? Como.. - a garota estava claramente afetada, então Bordok a interrompeu.

- Calma Liluk, a gente vai pensar em alguma coisa, aqueles malditos deixaram uns sacos de comida e armas pra trás, o importante é se acalmar, eu acho.. - disse o jovem, enquanto enxugava suas próprias lágrimas.

Depois de algumas discussões, o grupo decidiu que o certo a se fazer era caminhar até a vila orc mais próxima e pedir por ajuda.

Segundo Liluk, a vila orc mais próxima ficava a cerca de 30 quilômetros ao sul, mas era cercada por uma floresta que era perigosa a noite, então o ideal seria partir no dia seguinte, pela parte da manhã.

Os garotos aproveitaram o tempo livre a noite e queimaram os corpos dos seus pais e vizinhos, nem eles sabiam o motivo de fazer isso, mas essa era uma tradição orc antiga. Depois cada um foi pra sua casa e dormiu pela última vez na sua própria cama.

Pela manhã, os garotos se encontraram de novo e partiram em direção a vila, cada um deles levava uma espada que o velho orc Grodt havia produzido e com elas em mãos, eles abriram o caminho até sua nova casa.

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7 horas depois eles finalmente encontraram alguma coisa diferente de arvores, terra e animais famintos.

Liluk já carregava ferimentos nos braços e a situação de Bordok era ainda pior, o garoto deixava uma trilha de sangue por onde passava, só os dois orcs mais jovens não tinham machucados. 

Mas agora eles podiam ver o muro de uma vila logo a frente, contanto que eles pudessem dar mais alguns passos, tudo iria ficar bem.

Chegando cada vez mais perto, a primeira coisa que o grupo inteiro reparou foi que, em cima do muro de madeira, um orc musculoso e cheio de cicatrizes olhava extremamente feio na direção deles.

The Legendary Orc ChiefKde žijí příběhy. Začni objevovat