TREZE

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Sexta-feira (ainda). 10 dias para o fim do prazo

*Daniel

Meu celular despertou às oito da manhã, avisando que já estava quase na hora da aula. Minhas aulas de sexta tinham terminado na semana anterior e eu havia me lembrado a semana inteira que agora teria as manhãs de sextas livres, porém, na noite interior, a ultima coisa na qual eu poderia me lembrar era de cancelar o despertador.

Aurora e eu estávamos no meu quarto, com a janela aberta e o Sol batendo bem em cima da gente, consequência que estávamos aceitando por temos decidido deixar tudo aberto para observar o céu clarear durante a madrugada. Depois, nos acomodamos confortavelmente e nenhum de nós estava disposto – ou preparado – para levantar ou – se afastar um do outro.

Meu despertador tocou pela segunda vez e eu o cancelei. Aurora se mexeu e suspirou. Depois apertou os olhos e então relaxou, voltando a pegar no sono.

Eu a observei por tanto tempo que tive até medo dela acordar pela força do pensamento. Prestei atenção nos seus fios espalhados pelo travesseiro, no seu rosto tranquilo e foi impossível não me lembrar de como ele estava diferente do fim da noite passada. Acabei sorrindo. Eu não me achava ser capaz de dizer qual das duas opções gostava mais.

Voltei a descansar na cama, mas toda hora eu me pegava olhando para o lado só para vê-la ali e me pegava sorrindo. Esfreguei o rosto um monte de vezes, mas sempre que eu a olhava o sorriso voltava. Ela ficava bem demais na minha cama.

E também no sofá. No meu colo. E em todos os outros lugares que tínhamos testado noite adentro.

Eu estava quase cochilando quando escutei a campainha tocar. Primeiro eu cheguei a achar que estava sonhando, mas logo ela tocou novamente e eu despertei, sem sequer imaginar quem poderia ser. Corri para me vestir e atender, pronto para despachar quem quer que fosse antes que tocasse de novo e acordasse Aurora.

Minha surpresa foi gigante quando, ao abrir a porta, dei de cara com Alice. Ela estava de bom humor aquele dia, àquela hora da manhã. Estava sorridente e pronta para a aula, me esperando para irmos juntos, exatamente como fazíamos quase todos os dias.

Enquanto estávamos juntos.

-Você ainda não está pronto? – ela deu risada, me observando.

Eu pisquei algumas vezes, porque estava custando a acreditar que ela realmente estava ali.

-Alice? – disse baixinho, tentando formular alguma frase – Aconteceu alguma coisa? – perguntei só por desencargo de consciência, porque ela parecia muito bem.

Ela me olhou sem entender, como se tudo estivesse óbvio.

-Estava esperando alguém? – brincou – Vai se arrumar, vamos nos atrasar.

-O que você tá fazendo aqui?

A intenção não era ser rude, mas eu não conseguia entender e as palavras saíram com mais entonação do que deveria.

-Te mandei mensagem ontem dizendo que ia passar aqui pra te encontrar. – Alice trocou o peso de um pé para o outro e ajeitou a mochila nos ombros – Posso entrar?

Arregalei os olhos, tentando pensar em uma resposta rápida. Todo o meu plano de mandar embora quem era havia se perdido, pelo visto, porque eu não sabia como dizer aquilo a ela sem parecer grosseiro. Ela continuou me encarando e eu decidi que era mais fácil resolver aquilo do lado de dentro, contanto que fosse rápido.

Deixei espaço para ela passar. Alice já conhecia minha casa de cor e se sentou em uma das poltronas, como sempre fazia, como se estivesse em casa. Aquilo me causou estranheza, a forma como ela conseguia agir como se nada tivesse acontecido.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Where stories live. Discover now