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Quinta-feira. 11 dias para o fim do prazo

*Daniel

Aurora e eu havíamos combinado de sair na quinta. Eu consegui minha folga depois de trocar com um dos outros funcionários, adiantei todo trabalho que consegui durante a semana e na quinta estava particularmente ansioso para vê-la.

Aquilo vinha acontecendo já a algum tempo. Sempre que tínhamos algo programado, fosse um dos nossos encontros inspiracionais ou só combinássemos de nos encontrar depois da faculdade para termos companhia na caminhada para casa, eu me sentia nervoso. Com sorte não era um nervoso que me impedia de vê-la, porque sempre que estávamos juntos eu sentia o melhor dos confortos.

Eu não podia mais negar que a companhia de Aurora havia se tornado parte fundamental dos meus dias. As nossas conversas no fim da tarde, as nossas conversas no começo do dia, nossas caminhadas despreocupadas. Eu realmente me sentia bem ao seu lado. E cada vez que eu pensava nisso, percebia que passava cada vez mais tempo pensando em Aurora.

Eu pensava cada vez mais em como seria estar em sua companhia da próxima vez, por que a cada vez eu conhecia uma nova e diferente sensação de estar com ela. Eu pensava no que diria que poderia fazê-la rir e olhar pra mim com os olhos apertados de tanto sorrir. Pensava nas nossas conversas longas e espontâneas. E, sem conseguir negar, eu me pegava pensando em como seria beijá-la novamente.

Em meio as nossas trocas de mensagens, falávamos sobre tudo. Sobre o clima. Sobre o que estava ao alcance da nossa visão no momento. Sobre suas histórias. Sobre livros que ela me indicava. Sobre receitas que eu passava para ela. Sobre filmes. Sobre lugares do mundo que queríamos conhecer. Porém, de forma alguma, havíamos tocado no assunto do beijo. 

Parecia um local proibido e eu acho que era exatamente isso que me deixava ainda mais confuso e encabulado sobre o que realmente havia acontecido aquele dia no observatório. De qualquer forma, eu não a deixaria desconfortável tocando em um assunto que ela claramente estava evitando de todas as formas, assim como eu também vinha fazendo. Estávamos mais do que quites e parados exatamente em lugar nenhum.

Aurora e eu havíamos marcado nosso encontro para as nove. Na verdade, eu havia apenas indicado o horário a ela, e depois de todas as suas tentativas de saber para onde eu a levaria, e, claro, depois de não conseguir, ela apenas havia aceitado.

Eu gostava do fato dela continuar confiando em mim e para onde eu a levaria. Também me sentia realmente orgulhoso de acertar todas as vezes nas minhas escolhas.

Eu cheguei ao seu apartamento às nove em ponto. Aurora xingou alguma coisa do outro lado da porta e quando me recebeu estava toda esbaforida, em um pé só. Eu dei risada e a acompanhei para o lado de dentro, a observando pular em um pé só até o sofá, tomando todo o cuidado para não pisar no chão com uma das suas meias coloridas. Aquele dia era a vez da verde com desenhos de melancia.

-Estou terminando de me arrumar. – avisou assim que terminou de calçar as botas. – Já venho. Se o Arthur aparecer aqui nesse meio tempo, se finge de morto e não escuta nada do que ele disser.

Eu dei risada. Queria dizer a Aurora que ela já parecia muito pronta, porque estava linda, como sempre, mas ela logo sumiu no corredor e foi para o seu quarto. 

Me sentei no sofá, esperando por ela, e vi ao lado da mesinha do notebook a casa da Barbie que havíamos terminado, encostada estrategicamente em uma parede. Agora ela fazia parte da decoração da sala e tinha um monte de glitter espalhado no telhado.

Prestei atenção na mesinha ao lado e no tanto de coisas ali em cima. Vários pequenos potes cheios de m&m coloridos, todos separados por cor, além de inúmeras canetas coloridas. Porém, o que me chamou mais a atenção foi uma das flores que eu havia usado no nosso primeiro encontro. Não sabia que Aurora havia pegado uma de recordação e saber disso me deixou animado de um jeito singular.

Todos os meus clichês (FINALIZADO)Where stories live. Discover now